LUCAS
Dirigi a caminho da escola, pensando nas palavras da Inês. Até que ponto eu poderia estar comprometendo o tratamento da Rebecca? E se caso eu tivesse sido tão inconsequente ao ponto de piorar a sua situação? Será que eu subestimei a depressão que ela sofria? O egoísmo mora na sutil promessa de um amor eterno em troca dela não ir embora?
Eu estava completamente entregue a esse amor, como nunca fui capaz de sentir antes. Nem se quer imaginei que seria possível. Mas e se tudo isso fosse um erro que gerasse consequências mais graves do que eu estava disposto a admitir?
- Você está tão sério. - Ela afirmou, comendo a última fatia do bolo.
- Só estou pensando, refletindo. - Eu não queria dizer exatamente o motivo, não cabia aquela situação. Eu falaria com a Rebecca, mas seria em um momento mais apropriado. - Não precisa se preocupar.
- Você não respondeu a minha pergunta mais cedo. O que a sua mãe disse sobre nós?
Desviei atenção da estrada de chão por alguns segundos, olhei para Rebecca e pensei muito sobre o que diria.
- Ela não reagiu como eu gostaria. Mas não tem problema, sei que com o tempo ela mudará de ideia.
- O motivo foi o Conselho e todas as consequências de ficarmos juntos ou sobre o meu passado?
- Rebecca não se preocupa, eu vou resolver tudo isso. - Afirmei, incapaz de responder a sua pergunta tão direta.
Era por volta das 10 horas quando chegamos na escola local. A estrada estava pior do que eu lembrava e o portão havia sido arrancado. Mal reconhecia esse lugar.
Não imaginei que a Maya estivesse sofrendo tanto preconceito, a cena partiu o meu coração. A menina estava sentada no chão de terra, embaixo de um cajueiro, enquanto as crianças da escola estavam brincando, jogando bola e correndo pelo pátio.
A escola acolhia os filhos dos funcionários da Fazenda Ametista. Lembro que quando criança eu queria estudar aqui, mas meus pais não permitiram. Estudei em um colégio conceituado de Cuiabá, assim como o Luan. Mas lembro das crianças na fazenda, falando sobre esse lugar. Eu imaginava que era um paraíso, onde não precisava estudar, apenas correr e brincar o dia inteiro.
- Senhor Varez, o senhor por aqui. - Disse a professora, apertando a minha mão. - Posso ajudar?
- Acredito que sim, essa é a Rebecca, a minha... - Antes que eu pudesse iniciar o assunto ou apresentá-la, Rebecca entrou na minha frente.
- A senhora acha certo uma menina ficar isolada enquanto todas as crianças brincam? Qual o motivo da Maya não participar da atividade? - Nunca vi a Rebecca assim, ela cruzou os braços e deixou bem claro o seu descontentamento.
A professora ficou acuada, sem saber o que responder, gaguejou sobre a Maya não querer participar: - Eu sei que eu deveria tentar aproximá-la das outras crianças, mas eu não consigo fazer isso. As meninas não querem brincar com a Maya e a garota gosta de ficar sozinha.
- Desculpa professora, mas olha para ela lá naquele canto, acha mesmo que ela gosta de ficar ali sozinha? - Rebecca estava nervosa, mas controlava a voz enquanto as crianças da turma se aproximavam.
- O que a senhora sugere? - Perguntou a professora rendida.
- Precisamos acolher as crianças e ensinar sobre o preconceito, racismo, discriminação e diferenças. Através de atividades, historinhas, políticas educacionais, envolvendo-os de forma lúdica.
- Essas crianças tem de dez a doze anos, não acho que eles aprenderão sobre isso, não consigo nem ensinar uma soma simples.
Rebecca abriu a boca, parecia muito chateada e prestes a estourar. Segurei o seu braço e decidi entrar na conversa.
VOCÊ ESTÁ LENDO
1. Curando Feridas ✔️
Random"Rebecca entrou na minha vida em uma noite de tempestade. Na primeira vez que eu a vi, eu sabia que ela me marcaria por toda a eternidade. Foi através dela que o meu irmão, o meu melhor amigo, conheceu o mundo mais sombrio e solitário que existe: as...