REBECCA
Sempre tive medo de sofrer, o pânico que a dor me causava era maior do que aos demais e eu sabia disso. Era uma luta diária a construção de barreiras capazes de suportar os impactos da vida. Então quando uma parte desse muro caía e me lançava nos braços de um sentimento avassalador, sentia a exposição da insegurança. O resultado não demorava chegar, e nesse caso parecia ser pior do que os demais.
Lucas, no dia que você ficou noivo de outra mulher, senti as minhas pernas tremerem e a primeira reação foi eu correr o mais rápido que consegui, para muito longe dali. Temo em dizer que essa dor foi diferente, pois não foi uma perda. Não houve a dor do luto, a dor do coração partido ou qualquer uma dessas que eu já protagonizei. Nesse dia o que eu sentia poderia ser comparado como o acordar de um sonho. Não havia necessidade de despedidas, de palavras jogadas ao vento como os demais dias. Você não precisava ir embora no amanhecer do sol, me deixando para trás, mesmo quando prometeu que não faria. Dessa vez foi diferente, eu só entendi... finalmente eu entendi que o amor que você dizia sentir por mim e o carinho que na certa eu sentia por você, eram insuficientes.
Em meio ao caos, tanto barulho e comemoração quase sem fim, fui retirada do caminho. Deixei a Carminda me conduzir, de volta à sua própria casa, me protegendo dos olhares curiosos e maldosos dos convidados. Ela tentava me confortar em palavras, secava o meu rosto com uma toalhinha que sempre estava a disposição no seu ombro. Entretanto, mesmo vivendo aquela proteção, sentia o desespero crescer dentro de mim.
- Menina, se acalme. Pensa na sua criança, isso não vai te fazer bem. - Aconselhava a senhora, enquanto oferecia água gelada.
Bebi um pouco, apenas por educação. Coloquei o copo na pequena mesa de madeira e abaixei o rosto, tentando me apegar a algum traço de realidade.
- Como ele.. ele fica noivo dela? Carminda, ele me pediu em casamento. Como ele pode fazer isso comigo? - Tentava questionar.
- Não fique aflita menina. Para tudo no mundo há uma explicação. O Lucas sempre foi um menino muito bom, algo não está certo nessa história.
- É isso que mais dói. Ele sempre cuidou de mim, sempre foi bom comigo mesmo quando eu fazia coisas erradas, por que agora ele está me machucando tanto?
Não havia resposta para os meus questionamentos. Era uma pergunta sem nenhum fundamento.
- Eu não sei se foi uma vingança ou se eu me enganei sozinha.
- Como vingança? - Carminda perguntou, puxando uma cadeira e sentando mais perto.
- Talvez ele me culpa pela morte do Luan e fez eu me apaixonar para depois ele me machucar dessa forma. Ou talvez ele prioriza tanto essa família lixo que ele tem, que concordou se casar com aquela cobra da Thaís. - Não conseguia mais conter as palavras.
- Rebecca, o Lucas nunca faria isso. Ele tem um bom coração, algo está errado. - A senhora tentava pontuar.
- Eu odeio tanto os Varez. - Disse sem pensar, sem refletir, apenas sendo sincera com o ódio que estava crescente dentro de mim.
- Espero que nem todos eles. - Carminda abriu um sorriso tímido.
Estávamos na cozinha, que tinha vista para o quarto da Maya. Como a porta estava aberta, conseguíamos ver a menina dormindo, abraçando um pequeno ursinho verde. Mesmo com a pouca claridade, conseguia enxergar o seu rostinho. A menina chegou na minha vida para trazer alegria, sem pedir nada em troca.
VOCÊ ESTÁ LENDO
1. Curando Feridas ✔️
Random"Rebecca entrou na minha vida em uma noite de tempestade. Na primeira vez que eu a vi, eu sabia que ela me marcaria por toda a eternidade. Foi através dela que o meu irmão, o meu melhor amigo, conheceu o mundo mais sombrio e solitário que existe: as...