CAPÍTULO 51

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LUCAS

A rua era calma antes da nossa chegada, notei isso logo no primeiro momento. Mas o carro e o estranho chamou a atenção de diversos vizinhos, que saíram na porta de suas casas e sentaram no meio fio, alguns arrastaram as cadeiras de fio e não havia nenhuma tentativa de ignorar a nossa presença. Eles olhavam, nos cumprimentavam e continuavam olhando firme enquanto eu ajudava a mãe da Rebecca descer da camionete.

A senhora apontava o dedo para os vizinhos e falavam os seus nomes, enquanto eu tentava acompanhar as saudações de boa tarde. O sol escaldante ardiam os olhos, mas ninguém parecia se importar. A novidade de ver alguém diferente era a motivação necessária para vencer qualquer obstáculo. Crianças correram ao nosso redor e demarcaram o gol com os seus chinelos gastos, começaram a chutar a bola e um chegou a prometer que não atingiria o, segundo ele, carro mais lindo que já viu na vida.

Acompanhei a dona Cida, carregando a sua pequena mala. Esperei ela desamarrar o portão com uma corrente fina e um cadeado enferrujado.

- O Jairo deve tá no trabalho, ou no bar do Raimundo memo. - Ela dizia, talvez tentando explicar onde o marido estava. - Vou passa um café da hora seu Lucas, pode senta aqui no sofá e espera só um momentim. A casa é simples, humilde, mas é limpinha. Não vai suja sua roupa não.

Dona Cida girou a chave na porta de alumínio e empurrou com força, as dobradiças rangeram e deram passagem para uma casa pequena e abafada, mas que havia um jeitinho de lar que eu nunca tinha visto.

- Não se preocupa comigo dona Cida. - Eu disse, tentando tranquilizar a senhora que andava de um lado para o outro na casa apertada.

Sentei no sofá que a mulher indicou, este estava coberto por uma capa avermelhada. Logo na frente havia uma estante de madeira escura que quase alcançava o teto, com uma televisão quadrada pequena, um vaso de planta artificial do lado e paninhos de crochê em cada parte daquele móvel. Havia também uma série de bibelôs, decorações miniaturas de animais, santos, anjos e figuras indistinguíveis pois tinha alguma parte quebrada.

Bem ao lado do sofá, no mesmo cômodo, estava a cozinha. Dona Cida abriu a janela e deixou o ar circular pela casa. A pia de latão estava com um pano de prato bordado, indicando o dia da semana que não era o mesmo de hoje. Cada pequeno detalhe da casa havia alguma decoração amarela ou vermelha, provavelmente as cores preferidas daquela senhora. Ela estava completamente certa, a casa era simples, mas impecável em limpeza.

- Até parece que o Jairo nem veio em casa. Se tivesse vindo não taria tão limpa assim. - A senhora gargalhou da própria piada, talvez tentando quebrar o gelo, enquanto colocava a água para ferver.

Ela puxou a cortina embaixo da pia e mostrou duas prateleiras de madeira seca, com diversas panelas e vasilhas. Acredito que era o seu orgulho, pois o seu reflexo era visível nas panelas lustrosas.

- Eu passo uma pasta que eu mesma criei. - Ela explicava, enquanto mostrava a sua coleção. - O segredo é rala bem fininho o sabão de barra e mistura com álcool, dai eu não posso conta mais nada do segredo pro senhor não querer fazer dinheiro com a minha receita. - Rimos juntos, ela parecia animada, agora que sabia onde a filha estava. - Daí precisa de músculo, o Jairo sempre vem com a desculpa esfarrapada que tem dor no cotovelo e não pode esfrega panela. Eu não tenho essa moage não seu Lucas, eu esfrego mesmo.

- Sua casa é linda dona Cida e é invejável o cuidado que a senhora tem com as suas louças. - O meu comentário fez a senhora abrir um largo sorriso, como se ela realmente precisasse desse afago.

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