REBECCA
Acordei sentindo o corpo molhado de suor e uma dor descomunal no estômago. Mal tive tempo de sair da cama, vomitei a caminho do banheiro. Sentia o meu corpo dar solavancos em uma tentativa de expulsar algum alimento que não existia. A ânsia permaneceu enquanto eu me arrastava até o chuveiro e deixava a água gelada cair.
Doutor João disse que eu teria enjoos matinais. Estando no terceiro mês de gestação eu lembro de já ter tido esses momentos, mas não sabia que se tratava de uma gravidez, atribui isso ao processo natural de dependência química.
Lavei os cabelos com os produtos comprados exclusivamente para mim. Dona Rosa, a mãe do Luan, tinha pensado em tudo o que eu necessitava para o momento. Consegui me sentir momentaneamente melhor, mas o meu estômago ainda estava dolorido, pedindo algum alimento para continuar funcionando.
Limpei o chão da forma que eu pude e senti a necessidade de sair daquele quarto o mais rápido possível. Deixei a janela aberta, peguei o livro e já estava saindo do quarto quando vi o rádio enrolado no lençol. Se eu não grudasse nesse aparelho e o Lucas tentasse entrar em contato, ele certamente passaria o resto do dia dando palestra de como eu preciso ser responsável e como eu não posso preocupá-lo.
A sua fascinação por ter tudo no seu controle e a sua organização com listas e planilhas foram pautas para o café da manhã. Comia um pedaço de mamão enquanto Carminda me fez companhia. Eu não sabia a idade daquela senhora e achei grosseria perguntar. Ela era mais quieta e calma que a Inês e eu fiquei surpresa em saber que elas eram irmãs.
- Inês é a minha única irmã viva... - Explicou Carminda. - Ela veio trabalhar com os patrão quando era uma mocinha. Cuidava do patrão Lucas e depois do menino Luan como se fossem seus próprios filhos. Depois que eles cresceram, ela passou a cuidar das compras e algumas organizações da sede, mas nada muito pesado. Ela tem preguiça.
Eu dei risada, não conseguindo controlar após ver a sua careta. Ela sorriu na minha direção e continuou: - É verdade menina Rebecca, a minha irmã descobre nome de doenças só para dizer que têm, mas na verdade é só preguiça mesmo.
- Eu não imagino como poderia ser isso. - Afirmei, comendo mais um pouco enquanto o meu corpo agradecia por isso.
- Antes do acidente do antigo patrão, o senhor Hugo Varez, ela ouviu de uns peão da fazenda que um deles tinha inchaço na próstata e precisava fazer exame. Ela usou dessa desculpa para não ajudar na colheita das manga.
- Ela é uma graça. - Dei risada da sua ingenuidade.
- Ou é para fugir do trabalho pesado ou é para ver o seu médico, dai eu já não sei. - Carminda deu uma piscadinha e começou a recolher a mesa assim que eu terminei o meu café da manhã.
- Deixa que eu ajudo.
- Nada disso. - Ela tirou o pote de margaria da minha mão e continuou juntando a louça. - Patrão Lucas disse que você precisa de muito descanso.
Pensei em discordar, mas sei que não adiantaria. Na realidade eu estava louca para sentar em qualquer lugar e voltar a ler a história da Ametista.
- Carminda, a senhora já leu esse livro? - Perguntei, mostrando a capa de couro roxa e as páginas amareladas.
- Nunca li, mas sempre soube. Vim trabalhar na fazenda com a minha mãe logo que me tornei mocinha, então eu conheci o avô dos meninos, o senhor Júlio Varez. Ele era um ótimo contador de história, reunia os empregados ao seu redor, todo fim do mês. Fazia um churrasco atrás da sede e contava a história de algum casal importante para a família Varez. Ametista e Afonso foi a primeira história que ele me contou. Por mais que eles são o casal fundador da Fazenda Ametista, eu tenho um grande amor pela história da Francisca e do Antônio Varez.
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1. Curando Feridas ✔️
Random"Rebecca entrou na minha vida em uma noite de tempestade. Na primeira vez que eu a vi, eu sabia que ela me marcaria por toda a eternidade. Foi através dela que o meu irmão, o meu melhor amigo, conheceu o mundo mais sombrio e solitário que existe: as...