CAPÍTULO 54

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LUCAS

Qual o melhor momento de mudar a sua vida?

Será que mudar os planos de toda uma vida é prudente ou uma insanidade?

Um dia eu conheci um sujeito que aos setenta e oito anos decidiu ser padeiro. Engraçado que ele não precisava disso, já tinha construído um verdadeiro império do mármore em Goiás. Entregou a direção da empresa para a filha e entrou em um curso rápido. Meses depois ele enviou um convite da inauguração de uma padaria, ao lado da sua casa. Eu não pude ir prestigiá-lo, estava em um momento delicado com a saúde do meu pai. Pouco tempo depois recebi por fax a primeira folha de um jornal local. A matéria tinha a foto do senhor, rodeado de pães e com um sorriso de orelha em orelha, pois tinha realizado o sonho da vida dele.

Eu não sei dizer quanto tempo esse senhor viveu depois de realizar o seu objetivo, mas eu acredito veementemente que ele nunca foi tão feliz. Nunca é tarde para realizar o seu maior sonho.

Inspirado nessa história, decidi que aos vinte e nove anos, era a idade perfeita para eu entrar naquela escola e fazer a minha matricula no cursinho preparatório para o vestibular em Medicina.

Passei dois dias ensaiando esse momento, mas não imaginava que seria tão fácil como a realidade. Entreguei os documentos pessoais na secretaria e fui informado que a turma já tinha iniciado os estudos. A atendente disse que o mais prudente era eu esperar finalizar essa turma e começar com a turma do ano seguinte. Mas eu já estava cansado de esperar, não queria procrastinar mais essa etapa da minha vida, então por minha conta e risco, decidi entrar na turma já iniciada.

Fui encaminhado a uma sala de aula logo que assinei o contrato. Cheguei alguns minutos atrasado. Acompanhei a moça por um enorme corredor, cercado de salas e adolescentes correndo. Paramos na frente de um auditório, que possivelmente era a maior sala daquela escola. A atendente chamou a professora na porta e explicou a minha situação. A mulher baixinha com grandes óculos de grau me olhou de baixo para cima e apontou um dedo na minha direção:

- Não será fácil mocinho, mas já que você está tão determinado em começar o cursinho com dois meses de atraso, eu estou determinada em ensinar o que será necessário para a sua aprovação. Entre, sente naquela carteira bem na frente da minha mesa e preste muita atenção na aula. Cada vez que piscar você perderá uma questão do vestibular.

Sorri para a senhora e apertei a sua mão com delicadeza, fui até a carteira informada e tentei não sentir vergonha dos alunos que me encaravam. Havia mais de noventa alunos, cuja idade não passava de vinte anos, me olhando com curiosidade.

- Futuros doutores. - Pedia a professora, batendo o apagador no quadro e fazendo uma fumaça de giz espalhar pela sala. - Eu sei que não é todos os dias que nos deparamos com uma miragem como essa, mas não vamos deixar Thomas Edison enciumado, não é mesmo?

A historiadora riu da própria piada, fazendo os demais presentes acompanhá-la. Ela escreveu uma frase grande no quadro e eu tentava a todo custo lembrar do que se tratava: O Feiticeiro de Menlo Park. A aula iniciou com a explicação sobre as principais invenções patenteadas pelo empresário e como o vestibular poderia cobrar.

Não foi fácil, mas quem disse que seria? Os meus colegas, que na verdade eram os meus concorrentes, estavam atualizados e com uma rotina de estudos em dia. Não consegui entender boa parte da aula de história, bem menos a aula de física que iniciou minutos depois. Eu não levei caderno, não tinha comprado caneta e estava completamente perdido, mas nada disso seria o suficiente para deter o meu sonho.

1. Curando Feridas ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora