1. Curando Feridas ✔️

CAPÍTULO 67

LUCAS

"... o nosso amor vai além do que simplesmente se apaixonar, é maior que desejos, que conceitos sublimes ou apenas uma idealização romântica. Não alimentamos os nossos sentimentos de forma leviana ou com juras em vão, não foi uma fantasia mal escrita ou um clichê à primeira vista. Para ser mais sincera, quando você me olhou pela primeira vez, eu consegui me enxergar através dos seus olhos. Enxerguei o vício e o maltrapilho que o meu estado evidenciava. Enxerguei as escolhas erradas, a má aceitação, a vivência em um mundo sem volta, a negação. Enxerguei a falta de esperança, do rancor enlaçado em um mar de escuridão. Depois daquele dia, me ceguei para a minha própria vida.

O tempo passou, e levou com ele as memórias de um antigo amor. É como viver os estágios de um luto, onde com muito custo eu consegui alcançar o estado da aceitação. Não foi fácil chegar nesse momento, ficar inerte deixando o tempo se encarregar de cicatrizar as minhas feridas. Mas ter você por perto, sempre ao meu lado, me deu a força necessária para aguentar todas as consequências dos meus atos.

Lucas, não consigo mensurar quantas vezes eu acordei no meio da noite, confusa e temerosa, e foi no seu olhar que eu encontrei a paz. Confesso que não entendi tamanho cuidado com alguém que tanto machucou as pessoas que você mais ama. Apenas através da convivência eu pude perceber que todo esse cuidado era parte da sua personalidade, que você é assim e nada poderia mudar. Você cuida, você zela, você protege. E tomou para si esse desafio que era cuidar de mim. Houveram dias que eu mal me lembrava da realidade, tinha a necessidade extrema de fugir de qualquer dor mínima que o meu corpo ou mente pudessem desenvolver. Mas quando você se aproximava de mim, fazia algum ato de gentileza ou emanava preocupação com o meu bem estar, eu voltava à realidade.

Por vezes essa realidade era muito cruel. Contudo, houve um dia que essa dor não me sufocou mais. Não senti mais aquele desespero de atentar contra o meu próprio corpo em prol de alguns minutos em profundo delírio. Comecei a ansiar por viver a minha história como protagonista do meu destino, não mais como uma antagonista que tentava a todo custo desenvolver ações egoístas e mal pensadas. Nesse momento, entendi que eu merecia uma segunda chance.

A chance de viver, de amar e ser amada, de sonhar e realizar cada sonho. Foi através do seu abraço, da segurança da sua proteção, que eu aceitei me perdoar. Não é fácil você deixar as feridas de uma alma para trás, provavelmente eu não deixei e nunca vou deixar. Essa cicatriz sempre estará lá, para me lembrar das escolhas que eu tomei nos momentos mais delicados da minha vida. Mas hoje, essa cicatriz é apenas uma marca, não há mais dor ou desespero, é apenas aquele ato de tristeza por ter perdido alguém. Marca essa que você também carregará por toda a vida. Eu entendo a sua dor, como entendo a minha dor.

Um dia alguém muito sábio (que se ler essa história vai revigorar o seu próprio ego), me disse que eu não preciso odiar o meu passado para amar o meu presente e futuro. Então eu digo para você Lucas, eu aceito cada detalhe que me trouxe até os seus braços. Perdoo os meus erros e tenho esperança de um futuro ao seu lado, como sua esposa, como a mãe da sua filha..."

- Lucas? Filho, está na hora. - Minha mãe entrou no escritório, chamando a minha atenção para a realidade.

- Sim. - Respondi sem tirar os olhos do livro. Percebi que a minha boca estava seca, minhas mãos tremendo e o meu coração batia acelerado. Clássico da ansiedade.

Com muito custo eu fechei o livro, deixando-o repousar na mesinha ao lado. Passei as mãos no meu rosto molhado, tentando secar qualquer evidência do meu sentimento.

- Filho? O que houve? - Sua voz era preocupada, ela sentou do meu lado no sofá e colocou a mão no meu braço.

- Só estou emocionado mãe. Acabei de ler um capítulo do livro que a Rebecca escreveu para mim, e isso me deixou nesse estado. - Disse tentando sorrir em meio à emoção.