CAPÍTULO 19

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LUCAS

"Uma decisão bem tomada pode ser a responsável por momentos de alegria, uma decisão de cabeça quente te levará à duras consequências".

Quem disse essa frase foi o meu pai, em um dia comum de semana, quando ele entrou no meu quarto e eu estava na cama depressivo. Aquele dia eu tinha decidido não estudar mais para o vestibular. Poucas horas antes eu soube de mais um fracasso e não cogitava me aventurar em mais uma roleta do caos.

Eu pensei em rebater e dizer que eu estava correto em minha decisão, que não era uma decisão de cabeça quente, mas sim o certo a fazer. Desistir de ser médico e ir assumindo a minha posição de líder da família. Disse ao meu pai que eu não estava preparado para passar em uma prova e cursar medicina e que já estava na hora de começar a cuidar dos negócios do garimpo, como todos os meus antepassados.

Meu pai mudou a minha decisão, ele disse que foi por amor.

Depois daquele dia ele passou a sonhar com a minha aprovação, infelizmente quando ela chegou ele nunca soube. Eu até disse algumas vezes, enquanto ele estava em coma, continuei falando por mais alguns dias quando ele voltou para casa, mas não tinha mais memória. O esquecimento não permitiu o meu pai realizar o sonho que ele sonhou por nós dois.

Os anos que ele passou do meu lado, dando alguns conselhos e ouvindo todas as minhas queixas, foram fundamentais para moldar o homem que eu sou. Ele me ensinou a cuidar da família, a amar e ser amado por aqueles que construíram e ainda constroem a nossa história.

Então, poucos minutos depois de sair da Fazenda Ametista, desligar o celular e correr como um louco na estrada, eu já estava arrependido. Um homem não deixa para trás uma mulher (ou qualquer pessoa) que precisa da sua ajuda. A culpa foi me consumindo aos poucos, mas uma parte de mim, aquela com o ego ferido, ainda queria distância. Confesso que tive medo de voltar do ponto que eu estava e não conseguir controlar os meus próprios pensamentos, ferindo-a novamente com as minhas palavras e ações. Isso não era atitude de homem e na certa o meu pai estaria decepcionado comigo.

Diminui a velocidade da camionete e tentei prestar mais atenção na estrada, sentindo aquele nó na garganta de ter abandonado uma responsabilidade que era minha.

Não estava pronto para decidir os meus próximos passos e senti o meu coração palpitar no peito, então fiz uma curva fechada e entrei com a camionete em uma estrada alternativa. Apenas para não encontrar a minha mãe que deveria já estar próxima da fazenda.

A estrada era de chão, com buracos que faziam a camionete perder a estabilidade. A cada segundo que passava eu percebia cada vez mais que eu estava muito errado naquela situação com a Rebecca. Mas já era tarde para voltar. Não saberia como agir.

Freei o carro de forma repentina, apenas para colocar os meus pensamentos em ordem. Desci da camionete e estiquei as pernas, ainda sentindo o tremelique da estrada de chão. Olhei para o alto, tentando encontrar alguma resposta, talvez no vento! Eu estava insano, e pensando insanidades. Só queria que alguém me aconselhasse o que fazer. O sol estava começando a nascer e ali, no acostamento daquela estrada, foi a minha primeira decisão equivocada: voltei para o carro e segui viagem para Cuiabá.

A segunda decisão errada eu tomaria de madrugada quando Rebecca esperava a minha resposta após aquele pedido de voltar para a fazenda.

Não tive cabeça, forças ou estímulo para trabalhar, para sair, para beber, ou para fazer qualquer outra coisa que não fosse cair de cabeça na minha cama e passar o dia inteiro ali. Esqueci coisas básicas do dia a dia, como até mesmo me alimentar ou beber uma água. Não vou dizer que os meus pensamentos ficaram corroendo a minha mente, pois foram horas tão diferentes na minha vida, que não fiquei pensando, apenas vegetando a minha própria existência.

1. Curando Feridas ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora