Capítulo 9

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Sai do hospital e fui para o meu carro e comecei a chorar muito. Eu estava tão cansada, tão preocupada, com medo. Os contrastes da vida eram tão gritantes. A Rafaela era uma criança tão pequena que sofria tanto e quando estava lúcida era tão alegre, sempre sorrindo, dificilmente a víamos chorar e a minha filha com 14 anos fazia tudo para ferir as pessoas, para ultrapassar limites, para magoar. A Emilly doente e com uma grande chance do tumor ser inoperável. Eu tinha tanto medo disso que era absurdo. Logo a porta se abriu e alguém entrou.

Smith: Não pode dirigir assim. – a voz doce dela se fez presente.

Eu: Eu... Eu... – eu não conseguia falar. Ela me puxou para um abraço que fez meu corpo todo dar choque. Não sei quanto tempo fiquei ali naquele abraço. Não sei quanto tempo morei naquele abraço.

Smith: O que quer fazer agora? Quer ir pra casa? Eu dirijo.

Eu: Não... Eu preciso beber. Aqui em frente tem um bar, os médicos e enfermeiros do hospital frequentam muito.

Smith: Então vamos. – sorriu de leve.

Eu: Doutora Smith, tem sua filha em casa pra cuidar, não precisa...

Smith: Natalie... Me chama só de Natalie, ou de Nat... E minha filha está bem, fica tranquila. Ela sabe se cuidar. Vamos... – saímos do carro e fomos para o Jone's. Era um bar bem em frente ao hospital, todos os médicos iam lá, todos os funcionários do hospital iam lá. – Legal aqui...

Eu: É... Aqui é bem legal... – fomos pra uma mesa e logo vieram com cardápio. Pedimos uma porção camarão e pedimos tequila.

Smith: Tequila... Uau... quer mesmo algo forte.

Eu: Eu preciso...

Smith: Eu só quero um vinho branco, obrigada – falou com o garçom.

Eu: Minha filha é uma estúpida, minha ex mulher pode morrer, eu perdi dois pacientes hoje, e meu departamento parece o corredor da morte, eu declaro óbito todos os dias. As vezes me sinto a pior médica do mundo por não conseguir salvar muitos dos meus pacientes.

Smith: Você é da neuro, isso é comum. Eu também declaro óbito quase todos os dias. E as vezes nem chegam na cirurgia, já morrem na emergência.

Eu: Me fala de você... Quem é você? – ela bebericou o vinho um pouco sem graça. – Desculpa, acho que fui um pouco direta. – ri sem jeito.

Smith: Não, tudo bem – riu. – Eu sou Natalie Kate Smith, tenho 35 anos. Sou cardiologista e cirurgiã geral, mas não atuo na geral a bastante tempo. Eu morava aqui, mas engravidei e me casei e mudei para São Paulo. Meu ex marido e eu brigávamos muito, eram brigas horríveis com o passar do tempo e quando chegou no limite eu pedi o divórcio. Ele veio para o Rio e eu fiquei com a Betina em São Paulo. Eu recebi uma proposta irrecusável no hospital daqui então eu voltei para o Rio.

Eu: Você se dá bem com seu ex marido?

Smith: Não. A gente só se fala sobre a Betina e mesmo assim a gente briga.

Eu: Não tentou reconstruir seu casamento?

Smith: Não valia a pena Priscilla. Acho que quando um relacionamento chega no nível de uma agressão física, não existe mais uma gota de respeito.

Eu: Ele agrediu você? – a olhei chocada.

Smith: Sim. O Rodrigo nunca foi santo, eu sempre soube disso. Um dia eu estava almoçando com uma amiga perto do hospital que eu trabalhava e ele foi num almoço de negócios no mesmo restaurante e ele achou que eu estava traindo ele com essa amiga. – riu sem humor. – Ele deu o maior escândalo dentro do restaurante eu me desculpei com a minha amiga e fui pra casa. Quando chegamos em casa ele me jogou contra o aparador, eu fraturei uma costela e depois me deu 4 tapas na cara. Me chamando de sapatão imunda. Eu tenho nojo de falar disso. – passou a mão no rosto.

NATIESE EM: AMOR A PRIMEIRA VISTAOnde histórias criam vida. Descubra agora