Capítulo 80

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No colégio a Marina veio falar comigo.

Marina: A gente pode conversar?

Eu: Não Marina, hoje não. Vamos ficar um pouco afastadas tá?

Marina: Bella, por favor, me deixa explicar?

Eu: Não tem o que explicar, eu vi muito bem tudo o que eu tinha que ver Marina. Era aquilo e pronto. Não precisa me explicar droga nenhuma. Eu não quero te ouvir. Se quisermos ser amigas daqui pra frente me dá um tempo ok? – fui me sentar. Na aula de segurança que a gente tinha o professor explicava algumas coisas. A gente sempre tinha algumas aulas de como se proteger em casos de tiroteio no colégio ou de invasão, ou até mesmo na rua. Eram aulas de segurança. Um dos meninos da sala começou a discutir, dizendo que isso era bobagem que a gente nunca passaria por isso que o colégio era seguro. Eu estava a flor da pele aquele dia. O professor já estava perdendo a paciência com ele e tentando não ser grosseiro.

XX: Maior perda de tempo essa aula.

Eu: Você sabe o quanto um tiro dói? – interrompi.

Betina: Bella... – falou entredentes.

XXX: Senhorita Pugliese.

XX: Por que você sabe?

Eu: Sei. Você sente seu corpo todo queimar, como se sua carne estivesse derretendo. E essas aulas aqui são mais importantes que todas as outras aulas Diogo. Então cala a porra da sua boca ou sai daqui porque se numa situação dessas você quiser ficar feito um panguá levando bala o problema é inteirinho seu. – falei com raiva e a sala toda ficou em silêncio.

XXX: Quer nos contar alguma coisa senhorita Pugliese?

Eu: Antes de me mudar para o Brasil, um garoto do meu colégio abriu fogo contra todos na escola. Ele era humilhado constantemente. Eu tinha 9 anos e fui a única que nunca riu ou o humilhou. Quando eu o tirei do armário quando foi preso lá por uns idiotas do colégio minha mãe dava carona pra ele todos os dias no fim da aula e assim os meninos paravam de implicar com ele. Um dia antes dele abrir fogo contra o colégio, fizeram ele de boliche humano com óleo corporal e ele ameaçou matar todo mundo. Isso foi no inicio da aula. Na manhã seguinte estava chovendo demos carona a ele e ele disse pra minha mãe me tirar do colégio porque aquela escola ia acabar comigo como acabou com ele. Horas depois ouvimos tiros e pessoas correndo e gritando. A professora saiu da sala pra ver e era ele atirando em todo mundo. Quando saímos pela porta dos fundos ele estava lá e ele atirou em nós. Eu levei um tiro na barriga. Quando viu que acertou em mim ele ficou mal por isso, mas ele parecia outra pessoa. Eu consegui impedi-lo de continuar atirando senão a tragédia seria muito maior. Um professor o rendeu e ele foi preso. 27 crianças e adolescentes morreram naquela manhã e 44 ficaram feridas entre elas eu. E eu fiquei 2 meses sem dormir direito por causa disso. Eu nunca mais entrei naquele colégio até o inicio desse ano que voltei em Boston, depois de 7 anos. A gente não sabe o que se passa na cabeça das pessoas Diogo. Eu vi colegas de sala morrerem, agonizarem na minha frente e essa imagem não sai da minha cabeça e todos os dias que eu entro nesse colégio eu olho por todas as possíveis saídas daqui porque se algo acontecer eu sei pra onde correr. Não sei se você sabe, mas a gente estuda num colégio americano e mesmo sendo no Brasil seguem os protocolos americanos e desde que todos os atentados nas escolas americanas aconteceram, todas tem que ter aula básica de segurança. Então deixa de ser imbecil e cala essa boca ou sai da sala. Porque ficar aqui reclamando o tempo todo além de distrair as pessoas e fazer com que elas não aprendam, se a gente passar por isso coloca a todos nós em risco porque não saberemos o que fazer e um tiro dói pra caralho e ninguém quer morrer por sua causa e o TEPT é pra sempre. – falei com muita raiva. Ele ficou em total silêncio. Eu nunca contei minha história no colégio pra ninguém. Meus melhores amigos sabiam por cima o que tinha rolado e quem sabia exatamente o que houve era a Betina e a mãe dela com a minha psicóloga e a psicóloga do colégio. Mais ninguém. E toda aula de segurança o Diogo era um imbecil e era o único que reclamava. O silêncio ainda permanecia e eu pedi licença e sai da sala. Fui para o banheiro e vomitei muito. Quando sai a Helena estava na porta.

Helena: Está bem?

Eu: Sim... Eu nunca falo sobre isso, mas ele estava me irritando. Tudo está me irritando.

Helena: Esse tudo envolve a Marina né?

Eu: Sim – lavei a boca e me encostei na pia.

Helena: Deem tempo ao tempo isso vai passar.

Eu: Eu quero um tempo, porque eu quero ser amiga dela, mas ela não me dá tempo. – suspirei – Enfim, vamos pra aula. – saímos do banheiro e voltei pra aula. Eu estava totalmente sem paciência... Não queria que a velha Bella voltasse, mas não estava nos meus melhores dias. 

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Eiita que a Bella tá um fio desencapado... 

NATIESE EM: AMOR A PRIMEIRA VISTAOnde histórias criam vida. Descubra agora