Capítulo 2: Torre das Estrelas.

1.2K 238 46
                                    

—Que horror, Alita! —Ele se levantou, parecendo ter ficado preocupado com de fato eu prendê-lo. —Um vampiro não pode ser mandado para aquela ilha só por roubar um pouco de sangue.

Olhei pra ele, arqueando as sobrancelhas. Ele se remexeu, se sentando de novo, sem conseguir ficar quieto. Tallys tinha apenas 20 anos, apesar de ter a eternidade pela frente. Sua pele era morena clara e os olhos escuros como o céu noturno. Os cabelos, escuros e levemente encaracolados.

—É a terceira vez que você faz isso essa semana. Sem contar os roubos dos meses anteriores. —Afirmei, vendo ele engolir em seco. —Cada vampiro de Solaris recebe sangue suficiente para uma semana. Nenhum deles reclamou disso até agora, Tallys. Então por que você está roubando?

—Talvez eu esteja bebendo mais do que deveria. —Ele deu de ombros, fechando a cara. —Ou aquele sangue não é suficiente pro meu desenvolvimento.

—Desenvolvimento? —Soltei uma risada, vendo ele fechar a cara. —Você já chegou ao estado que o seu corpo não vai mais se modificar, Tallys. Isso não é desculpa. Você roubou e se continuar fazendo isso, não vou poder ficar ignorando o fato e te deixar livre.

—Aí que ódio! Não pode roubar sangue. Não pode fazer isso. Não pode fazer aquilo. —Ele espalmou as mãos no rosto e balançou a cabeça negativamente. —Não da pra fazer nada nessa maldita cidade!

—Tallys! —Exclamei, mordendo o lábio para não rir.

—Alita, tenta entender, eu vivo no meio de uma cidade cheia de humanos com um sangue super atrativo! —Resmungou, parecendo uma criança de cinco anos. —Uma criancinha se cortou e eu fiquei com um puta sede desgraçada. Meu sangue tinha acabado e eu precisava me aliviar. Tu não queria que eu matasse a criancinha, né?

—Claro que não! —Afirmei, soltando o ar com força, vendo ele escorar o rosto nas mãos, enquanto os cotovelos estavam sobre a mesa. —Mas isso não pode acontecer de novo. Não posso mais ficar te dando outras chances.

Ele ficou sério, fitando a mesa sem qualquer humor. Então balançou a cabeça afirmativamente, encolhendo os ombros no processo.

—Prometo que não vou mais fazer isso. —Murmurou, se remexendo até ficar de pé. —Vou tentar me controlar.

Ele virou as costas, caminhado em direção a porta. Mordi o lábio, me sentindo um pouco mal por ele. Não consegui entender a complexidade de um vampiro com sede de sangue. Mas sempre conseguimos controlá-los aqui, já que dividimos uma cidade com eles.

—Tallys? —Chamei, antes que ele saísse da minha sala. Ele se virou, me olhando com uma expressão curiosa. —Tem alguma coisa que queira me contar? Algo que esteja acontecendo com você?

Ele abriu a boca e a fechou, repetidas vezes, como se não soubesse o que dizer.

—Sabe que pode confiar em mim, não é? Quero seu bem. —Afirmei, vendo ele abrir um sorriso fraco.

—Está tudo bem. Só passei da conta mesmo. —Murmurou, não soando nada convincente. —Tudo na mais santa paz das estrelas. —Ele fez uma careta. —Quer dizer, nem tudo, né? Aquela tempestade ontem foi...

A porta se abriu atrás dele, batendo com tudo contra as costas de Tallys, o lançando para frente. Cal parou, olhando para Tallys com as sobrancelhas erguidas e os lábios curvados em uma careta.

—Puta merda, puta merda, puta merda! —Tallys se recompôs, olhando de cara feia para Cal. —Não sabe bater? Chega na grosseria.

—Por que ele ainda está aqui? —Cal olhou pra mim, soltando um gemido de frustração.

—Eu ainda estava conversando com ele. —Dei de ombros. —Alguma coisa importante?

Cal olhou para Tallys, que sorriu e voo até minha estante de livros, parecendo não estar nem um pouco interessado em ir embora dali agora, já que puxou um dos livros e começou a folhear as paginas. Na verdade, ele só gostava de irritar meu irmão mesmo.

—Problemas no deserto ao sul da cidade. —Cal se aproximou da mesa. —Foram encontrados alguns corpos lá. Dois homens e uma mulher. Pareciam estar saindo da cidade e indo para a prisão.

—Deuses inferiores, vampiros, bruxas ou humanos? —Indaguei, vendo Cal engolir em seco.

—Nenhum do nosso território. —Afirmou, fazendo meu olhar parar nos dele. —Eram elfos, de Montear.

—Que merda! —Tallys murmurou, fazendo eu e Cal olharmos pra ele. —Desculpe.

—Foi uma bruxa que encontrou. Os corpos ainda estão lá no deserto. Achei melhor contar a você, antes de fazermos algo com eles. —Cal prosseguiu, dando de ombros. —De qualquer forma, você tem uma reunião com o circulo agora. Eles já estão vindo até aqui.

—Verei a questão dos corpos depois então. Quanto tempo eu tenho até os três chegarem? —Indaguei, me colocando de pé e circulando a mesa até estar na frente de Cal.

—Eu não sei. —Ele fez uma careta. —Uns quinze minutos eu acho. Meri disse que eles estão ansiosos para falar com você.

—Para arrancar meu coração, você quer dizer. —Grunhi em frustração. —Prepare tudo para a chegada deles. Preciso checar uma coisa antes.

—O que? —Cal franziu a testa, enquanto eu abria um sorriso nervoso e puxava o lenço e o enrolava no meu pescoço.

—Nada que precise se preocupar. —Me voltei para Tallys, vendo ele ainda xeretando nos meus livros. —Tallys, vem comigo. —Sorri uma última vez para Cal, que parecia confuso e sai da sala com Tallys, agarrando o braço dele para que me seguisse até a saída. —Em quanto tempo você chega a torre das estrelas?

—Cinco minutos. —Tallys deu de ombros. —Talvez três.

—Ótimo, preciso que me carregue até lá. O mais rápido que essas pernas de vampiro conseguirem. —Afirmei, vendo ele tombar a cabeça de lado e rir. —Tenho que estar de volta ao palácio para a reunião.

—Tudo bem, amor. Vou dar o meu melhor. —Murmurou, parando um degrau abaixo de mim e se virando de costas para que eu subisse. —Posso saber o que vai fazer lá agora que é tão importante?

—Te conto se você me contar o porque de roubar o deposito de sangue. —Afirmei, subindo nas costas dele, como se não pesasse nada para o mesmo. Tallys gemeu em frustação.

—Tu é difícil, mulher. —Resmungou. —Mas eu concordo com seus termos.

Tallys disparou antes que eu pensasse em uma resposta ou risse da fala dele, me fazendo agarrar seus ombros e fechar os olhos ao ver tudo virar um borrão ao nosso redor.



Continua...

Os Domínios do Deserto Onde histórias criam vida. Descubra agora