A escada levava a outro escritório, esse estava repleto de objetos, que Lester afirmou serem de todas as partes do continente e que ele colecionava. Parte deles descobri que foi Cal que trouxe pra ele. Isso me fez pensar no que mais eu não sabia do meu próprio irmão. Sempre pensei em Cal como a pessoa que me ajudava no palácio. Mas braço direito. Mas agora vejo que ele sempre foi muito mais que isso, mas que eu nunca soube.
—Então, roubou ou não a magia? —Lester indagou, parando na frente de outra estátua, mas essa tinha a silhueta de um dragão bebê.
—Não foi eu. Mas estou atrás do culpado. —Afirmei, vendo ele arquear as sobrancelhas e então rir.
—Boa sorte então. Usar o mercado negro pra isso é... perigoso. Ainda mais pra alguém como você, que está acostumada a seguir a linha. —Ele girou a asa do dragão, fazendo uma das paredes se mover e dar lugar a um espelho que ia do teto até o chão. —Montear, então?
—Aonde em Montear, esse espelho vai dar? —Jacks questionou, com sua expressão séria ao observar o vampiro ruivo.
—Em um navio mercante no rio central. —Afirmou, indicando com a cabeça o espelho. —Boa sorte. Agora saiam logo daqui.
—Que grosseiro. —Lila resmungou ao meu lado, fazendo uma careta.
Jacks tomou a frente de todos nós, atravessando o espelho de uma vez só. Um Tallys silencioso foi o segundo a atravessar, depois eu e Lila fomos juntas. O espelho dava para outra sala de espelhos, em um navio. O balançar do cômodo era a confirmação do que o vampiro havia falado.
A nossa frente, a entrada do cômodo aberta revelava o movimento dos elfos, duendes e lobos, além de espécies que teoricamente não deveriam estar em Montear, comprando e vendendo frutos do mar no deck principal do navio. Mas ali era mercado negro e tudo valia pra eles, contando que recebessem suas moedas de ouro. Além do mais, eu também não deveria estar ali, mas estou.
—Vamos achar um navio chamado pólvora. —Afirmei, caminhando em direção a saída. —Cal disse que a dona provavelmente vai nos ajudar se precisarmos.
Assim que passei pela abertura que deveria ser a porta, senti uma sensação estranha, antes de me ver no meio daquelas raças que caminhavam pelo deck. Olhei pra trás com uma careta, vendo que a entrada da sala de espelhos na verdade era uma parede, onde Lila, Tallys e Jacks logo surgiram.
—Como vamos achar um navio aqui? —Lila me puxou para a lateral do navio, revelando o rio repleto de outros navios e criaturas vagando de um lado para o outro, vendendo e comprando coisas, enquanto passavam por longes acima dos navios ou por decks sobre a água.
—Pólvora, Lila. Deve estar escrito pólvora no casco. —Afirmei, puxando ela para sairmos daquele lugar.
[...]
Estávamos atravessando uma ponte, já que olhar de cima aquela vastidão do rio central repleta de navios parecia uma ideia melhor do que sair caminhando sem saber ao certo pra onde. Deixei que Lila e Jacks fossem na frente, ficando ao lado de Tallys, que ainda estava quieto.
—Você sabia, não é? —Indaguei, já sabendo a resposta.
—Por que você acha que ele não gosta de mim? —Tallys soltou uma risada nervosa. —Eu avisei pra ele, que ele deveria contar a você, antes que você descobrisse de uma maneira nada legal. Não queria me meter, porque vocês são irmãos. Mas eu avisei a ele.
Balancei a cabeça afirmativamente, não sabendo ao certo o que dizer a ele. Não era obrigação de Tallys me contar. Cal deveria ter feito isso desde o início, mas não fez. Tallys soltou um suspiro pesado e segurou minha mão, parecendo hesitante no que dizer.
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Os Domínios do Deserto
FantasyNas terras do continente Esmeralda, muito se fala sobre os deuses capazes de ditar os dias e as noites, controlando o sol, a lua e as estrelas. Mas outros seres caminham por aquelas terras, reverenciando-os e convivendo com os deuses inferiores, que...