Corri o mais rápido que conseguia, desviando das pessoas, enquanto sentia o ar ficar cada vez mais pesado ao redor, com a areia tomando conta de tudo. Olhei para trás quando ouvi os sinos tocando, agradecendo mentalmente por Meri ter sido rápida.
Desviei dos tapetes e lenços pendurados pelo caminho, sentindo minha garganta arder pelo esforço repentino. Os gritos começaram ao me redor e eu firmei o lenço ao redor do meu rosto, cobrindo a minha boca, antes de sentir o impacto do vento forte, junto com a areia, se chocar contra mim.
Fechei os olhos por alguns segundos, continuando a correr, enquanto a tempestade de areia ficava cada vez mais violenta ao meu redor. Tudo virou um borrão quando caí de joelhos na entrada da casa de Lila. Tentei respirar fundo, sentindo meus olhos arderem por conta da areia que cobria o ar.
Me coloquei de pé e corri ao ouvir o grito de Lila, empurrando a porta de madeira com o meu corpo, antes de cair no chão. Me coloquei de pé e empurrei a porta, usando toda força que eu tinha contra os ventos fortes do lado de fora.
—Lila? —Chamei, olhando ao redor. Os moveis estavam revirados, o chão coberto de areia e o elfo não estava mais no sofá. —Lila?
Engoli em seco, tentando pensar se o grito que eu ouvi era de outra pessoa e não dela, e meu cérebro só estava me pregando uma peça, já que ela não estava ali.
Os ventos fortes se chocavam contra a estrutura, fazendo as madeiras velhas rangerem e os objetos ainda de pé tremerem nos seus lugares. Puxei a espingarda para minhas mãos, ouvindo um barulho de algo caindo no andar de cima.
—Lila, é você? —Indaguei, ouvindo outro barulho. Tirei a trava da arma, checando se estava carregada antes de caminhar até a escada, enquanto observava a escuridão começar a tomar conta do cômodo, quanto mais a tempestade de areia ficava mais forte do lado de fora.
Subi cada degrau lentamente, ouvindo apenas as batidas do meu coração martelando no meu peito, a medida que o ar parecia cada vez mais pesado. Cheguei a um corredor, engolindo em seco e apertando a espingarda nas minhas mãos, quando algo se chocou contra alguma coisa pesada e emitiu um grunhido animalesco.
Ergui a arma até meu rosto, deixando o dedo indicador no gatilho, enquanto caminhava lentamente até a primeira porta, que parecia estar toda destruída. A coisa do lado de dentro bateu contra algo de novo e eu ouvi o que pareciam ser garras raspando contra o chão.
Parei de súbito ao lado da porta, me escorando na parede, enquanto meus olhos se acostumavam com o local parcialmente escuro. Minha respiração ficou presa na garganta quando vi Lila, encolhida embaixo de uma mesa dentro de um dos quartos. Seus olhos estavam arregalados e ela movia a boca, tentando dizer alguma coisa pra mim.
Me movi para ir até ela, vendo sua cabeça se mover negativamente de forma frenética. A madeira rangeu embaixo de mim e o que quer que estivesse dentro do outro cômodo, parou de se mover. Foram segundos, até eu sentir algo se chocando contra mim e me lançando longe, ao mesmo tempo que a parede atrás de mim se desfazia em pedaços.
—Tallys! —Gemi, sentindo o corpo dele esmagar o meu no chão. Tallys se moveu no mesmo instante, me permitindo ver a coisa enorme que se erguia do chão, entre a madeira do que um dia foi a parede.
—Puta merda, puta merda, puta merda! —Tallys exclamou, me agarrando e me tirando da frente da criatura, quando ela disparou na nossa direção. —Que merda é essa?
—Vai pegar a Lila, eu cuido da criatura. —Afirmei, quando caímos dentro do banheiro, depois de Tallys arrebentar a porta. Ouvimos o grito dela e Tallys fez uma careta, antes de disparar de volta para o corredor. Ergui a espingarda, engolindo em seco antes de sair para o corredor também.
Tallys havia chamado a atenção da criatura, que atravessava a parede destruída para ir atrás dele, enquanto Lila corria para a escada. Mirei e atirei, sentindo a arma tremer na minha mão a cada disparo. A criatura se moveu, vindo direto até mim.
Disparei para a escada, sentindo o sangue correr com mais força pelo meu corpo, quando ela pulou sobre mim. Meus pés tropeçaram nos degraus e caí, bem a tempo de desviar das garras que cortaram o ar bem encima da minha cabeça.
A criatura caiu sobre uma mesa, enquanto eu me erguia, sentindo algo quente escorrer da minha testa. Tallys passou por mim, agarrando Lila, enquanto eu erguia a espingarda de novo. Mirei e atirei, seguindo a criatura com o cano quando ela correu, destruindo uma das paredes da casa e disparando pelo deserto que se estendia, desaparecendo no meio da tempestade de areia.
Abaixei a arma, sentindo todos os meus músculos doloridos, minha respiração pesada e meu coração na garganta, pronto para sair de dentro de mim. Toquei minha testa com a ponta dos dedos, sentindo o corte arder, o que me rendeu uma careta.
—Tallys, vocês estão bem? —Indaguei, me virando para os dois. Tallys estava sentado no chão, com uma Lila tremula e assustada agarrada ao seu colo. Os olhos dos dois estavam arregalados e eles respiravam de forma afobada, como se tivessem corrido por horas.
—Aquela coisa era enorme... —Tallys gemeu, encolhendo os ombros. —Puta merda, puta merda, puta merda! Alguém pode me explicar o que acabou de acontecer aqui?
Olhei ao redor, franzindo a testa.
—Onde está o elfo? —Indaguei, vendo Lila soltar uma risada trémula e erguer a mão, apontando para o buraco na parede.
—Aquela coisa era o elfo!
Continua...
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Os Domínios do Deserto
FantasyNas terras do continente Esmeralda, muito se fala sobre os deuses capazes de ditar os dias e as noites, controlando o sol, a lua e as estrelas. Mas outros seres caminham por aquelas terras, reverenciando-os e convivendo com os deuses inferiores, que...