Capítulo 52: Quatro irmãos.

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Desviei os olhos dele, pegando meu cálice para tomar um pouco do vinho, por mais que a vontade tivesse ido embora do meu corpo. Naquele momento eu só queria sair daquele salão e me entocar em algum lugar.

—Jacks, eu gostaria de conversar com você sobre algumas questões. —Maximus falou, fazendo Jacks se mover, pronto para ficar de pé. —Pode continuar sentado. Não me importo que seja na frente dos seus amigos.

—O que quer conversar? —Jacks olhou pra ele sem qualquer emoção.

—Seus irmãos me disseram que você havia caído no lago congelado perto da cabana onde vocês haviam ido acampar. —Eu fiquei tão rígida quanto Jacks ao ouvir aquilo. —E que não conseguiram encontrar você dentro da água.

—Então eles imaginaram que eu havia morrido. —Jacks comentou, soltando uma risadinha. —É claro.

—Procuramos por você por toda parte. —Jace se escorou na mesa ao meu lado, me fazendo inclinar na direção de Stella, para não correr o risco de tocar nele. —Pensamos que o lago havia engolido você e o tirado de nós.

—E o incêndio na cabana? —Jacks questionou, olhando pra Jace com uma falsa expressão de confusão. —O que aconteceu com ela?

—Foi um acidente. —Evan surgiu ao lado de Jace, enquanto eu me segurava para não revirar os olhos, ou simplesmente enfiar uma bala no meio do crânio de cada um dos três. —Estávamos de... luto pela sua perda.

—Parece que foi um erro nosso. —Jace olhou para Evan. —Ele está bem vivo e parece que não se preocupou em avisar a gente sobre esse fato.

—Tem algo a nos dizer, Jacks? —Aiden questionou, sem ficar de pé, ainda sentado na mesa atrás de mim.

—Por que se preocupar comigo? —Jacks bebeu no seu cálice, abrindo um sorriso pra eles logo em seguida. —Vivo ou morto, deixei o caminho livre pra vocês três. Não precisavam se preocupar com seu irmão mais novo se tornando mais forte que vocês.

Um clima tenso se fixou no ar, como se precisasse de uma faísca para a pólvora explodir. Os três encararam Jacks como se ele fosse um oponente a altura, coisa que provavelmente não pensavam quando o prenderam naquela cabana para morrer queimado.

—Crianças. —Maximus soltou uma risada, dando um tapinha no ombro de Jacks, que desviou os olhos dos irmãos e olhou pra mim, erguendo uma das sobrancelhas como se estivesse querendo me dizer algo. —Devemos ficar felizes que seu irmão retornou. Mesmo que não tenha a intenção de ficar. É bom vê-lo de volta, Jacks.

—Mamãe sentiu sua falta. —Aiden falou, fazendo até mesmo Maximus ficar rígido ao lado da mesa. —Deveria ir visitá-la depois.

Jacks olhou por cima do meu ombro, com o rosto se tornando uma máscara fria de indiferença. Ela estava viva, afinal. Apesar de nenhum deles ter citado o pai.

—Jacks vai fazer isso, certamente. —Maximus respondeu, se afastando da mesa. —O banquete está encerrado. Vou pedir para que um dos criados mostrem a vocês seus quartos.

Maximus se retirou, deixando a conversa no salão voltar ao seu normal, alta e cheia de risadas em meio a música. Jace e Evan continuaram a lado da mesa, enquanto Aiden ficava de pé para se juntar aos dois.

—O que está rolando aqui? —Stella sussurrou no meu ouvido.

—Nem queira saber. —Murmurei, vendo os olhos de Jacks se voltarem pra mim de novo.

—Babacas? —Olhei pra ela, soltando uma risada.

—Muito babacas. Do tipo que tentam te matar enquanto você dorme. —Afirmei, vendo ela fazer uma careta e olhar para os irmãos de Jacks com uma expressão que deixava claro que se pudesse também daria um tiro em cada um deles.

—Então, Jacks. —Jace se sentou ao meu lado, fazendo meu sangue arder em brasas quando olhou direitamente pra mim. —Parece que você arranjou um grupo interessante de amigos.

—Saia. —Jacks deu outro gole no seu cálice. —Os três. Saiam!

—Vale ou não vale um desafio? —Jace indagou, olhando para os dois irmãos, enquanto eu observava a cena tentando entender o significado daquela pergunta.

—Eu acho que vale. —Aiden respondeu, me dando um sorrisinho.

—Saiam. —Jacks repetiu, com uma calma de partir o coração.

—Vale muito. —Evan concordou.

—Você não vai me desafiar. —Jacks olhou para Jace, soltando o cálice na mesa. —Perdeu da última vez que fez isso, pelas minhas costas. Os três perderam. Não vão querer tentar de novo.

—Por que não? Acho que seria divertido. —Evan murmurou, sorrindo. —Como nos velhos tempos, irmão. —Ele se virou pra mim, me olhando com os olhos cerrados. —Qual o seu nome mesmo? Alita?

—Pra você? —Olhei pra ele de cima a baixo. —Pode se dirigir a mim como srta. Aziz. Ou se possível, nem fale comigo.

Fiquei de pé, abrindo um sorriso pra eles. Stella e Tallys soltaram risadas baixas, ficando de pé também, prontos para seguir a peregrina que havia aparecido para nos mostrar nossos quartos.

—Acho que sei porque escolheu essa, Jacks. —Aiden falou, enquanto a gente se retirava. —Ela vale muito um desafio.

Se ele ouviu, preferiu fingir que não, porque já estava saindo da sala na frente de todo mundo.

[...]

O quarto era extravagante de um jeito que eu não estava esperando. As paredes de pedra estavam repletas de plantas floridas, que subiam por algumas pilastras. A cama enorme tinha um dossel, com um tecido feito branco, parecendo a neve do lado de fora. As tochas iluminavam tudo, até o cômodo adjacente, onde havia uma banheira.

Encarei tudo aquilo com uma careta, antes de juntar minhas coisas do chão e passar pela porta, indo procurar um quarto específico, menos vazio e silencioso que aquele. Infelizmente não dei dois passos pelo corredor, antes de trombar com Jace. Dos três, foi o que menos gostei.

—Olha só quem está aqui. —Ele sorriu pra mim, recolhendo as asas negras atrás dos ombros. —Não gostou do seu quarto?

—Gostei. —Falei, voltando a andar e passando por ele. —Mas eu costumo dormir com o seu irmão.

Meia verdade e meia mentira. Mas Jace não precisava saber disso.

—Quer ajuda pra achar o quarto dele? —Jace indagou, me seguindo de perto.

—Posso achar sozinho. —Afirmei, querendo que ele fosse logo embora. Eu sabia qual era o quarto de Jacks, porque vi quando ele passou pela porte e se fechou lá dentro, parecendo prestes a explodir.

—Se quiser, pode ir para o meu quarto também. —Jace murmurou, me fazendo olhar por cima do ombro, pra cara dele. —Jacks nunca foi o irmão mais forte. Talvez não tenha tido sorte ao escolhê-lo para o seu círculo e para sua cama.

—Bem, essa é a sua opinião, não é? —Parei de andar quando cheguei na porta do quarto de Jacks, me virando para Jace com um sorriso e a cabeça inclinada para o lado de forma inocente. —Já conheço o Jacks e agora conheço vocês. Fico feliz em ver que dos quatro irmãos, eu escolhi o certo.

O sorriso que estava nos lábios dele oscilou, mas logo ficou maior, como se ele gostasse da ideia de ser desafiado. Isso me fez lembrar a conversa deles mais cedo.

—Posso fazê-la mudar de ideia. —Insistiu, assim que me virei para a porta.

—Ou pode ir embora. —Sugeri, olhando pra ele de lado. —Você é uma graça, Jace. Mas se me der licença, vim até aqui com a intenção de dormir com o seu irmão, Jacks. E agora você está me atrapalhando.

Ergui a mão e bati na porta, vendo Jace cerrar a mandíbula, parecendo frustado. Por sorte, ele virou as costas e desapareceu bem na hora que Jacks abriu a porta e me encarou, um pouco confuso.

—Alita? —Ele hesitou, comprimindo os lábios. —Precisa de alguma coisa?

Olhei pra ele por alguns segundos, antes de soltar um suspiro pesado e o empurra-lo para trás, entrando no quarto e fechando a porta com meu pé.


Continua...

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