Capítulo 6: Catedral.

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Eu havia visita a Catedral poucas vezes desde que virei líder do círculo do deserto. Não era comum termos problemas tão grandes que precisassem ser levados direto aos deuses. Mas ali estava eu, na sala dos espelhos, olhando para os quatro espelhos que cobriam cada lado da parede. Um levava direto a Catedral, outro a Prisão, o terceiro a Montear e o último a Terraria. Meios mais rápidos de se locomover, sem precisarmos percorrer o deserto.

Engoli com dificuldade, apertando meus dedos uns contra os outros e então caminhei até o espelho que dava a Catedral. O atravessei, sentindo meu corpo submerso naquele líquido prateado, mais leve do que uma pena. Então eu pisei no piso firme da sala dos espelhos da Catedral.

Meus olhos percorreram todo lugar, avaliando as cinco pessoas que estavam ali. A grande deusa da lua, com os cabelos acinzentados e os olhos prateados como a lua cheia, em meio a pele morena iluminada. A grande deusa das estrelas, com os cabelos loiros, quase brancos, a pele tão clara quanto a neve e os olhos negros como o céu noturno. O grande deus do sol, com a pele dourada e viva, com cabelos tão negros quanto a noite e olhos verdes muito vivos.

Junto com eles estavam Sallow Relish, líder do círculo das almas de Montear. Era um lobo, com a pele negra e os olhos exibindo uma tom verde musgo. E então, Kallias Villin, líder do círculo dos iluminados de Terraria. Era um elemental do fogo, de cabelos ruivos muito vivos e olhos castanhos manchados de vermelho, como chamas.

Meu primeiro pensamento foi me dirigir até o centro, de frente para os três grandes deuses e os reverenciar. Então voltei para o meu lugar, na frente do espelho de Solaris, tentando entender porque os outros dois líderes também estavam ali.

—Srta. Aziz, que bom que se juntou a nós. —O deus do sol murmurou, acenando com a cabeça pra mim. —Acho que não precisamos perguntar o motivo da sua solicitação. Já que deve estar aqui pelo mesmo motivo que eles.

—Perdão? —Olhei para Kallias e Sallow, um pouco confusa.

—A magia do sol e a magia da lua cessaram, Srta. Aziz. —A deusa da lua prosseguiu. —Imaginamos que a das estrelas também.

—Sim. Foi na noite passada, enquanto éramos atingidos por uma tempestade de areia. —Afirmei, vendo a deusa das estrelas comprimir os lábios, parecendo irritada com o fato. —Todas as magias sumiram, então?

—Sim. —Kallias engoliu em seco. —Minhas terras foram atingidas por uma tempestade. Enquanto em Montear, as águas estão secando nos rios.

—Nós sentimos o momento que a magia foi roubada. Sentimos que algo estava estranho. —O deus do sol declarou. —Alguém roubou nossa magia e a usou para criar todo esse caos, tentando não ser descoberto em meio ao ato.

Encarei minhas próprias mãos, sentindo meu sangue gelar. Ao meu lado, podia sentir a cabeça de Kallias e Sallow funcionando tão rápida quanto a minha.

—A obrigação de vocês era manter a segurança da magia e a manutenção de nossos domínios. —O deus do sol prosseguiu. —Queremos alguma explicação sobre isso. E queremos o culpado preso!

—Senhor, eu protegi o poder do sol com minha vida por todos esses anos. Não posso deixar de me culpar por uma coisa assim ter acontecido embaixo dos meus olhos. —Kallias murmurou, com um ar resignado.

—Aposto que foi alguém do seu povo que roubou a magia! —Sallow acusou, se virando para Kallias. —Três feéricos foram encontrados mortos nas minhas terras!

—Como ousa? —Kallias se voltou para ele, em meio a um arquejo. —Acha que foi o único que teve suas terras invadidas no meio desse caos? Haviam vampiros nas minhas terras também. Mortos!

Todos olharam pra mim, enquanto eu engolia em seco. Kallias e Sallow pareciam estar prontos para por a culpa em mim, enquanto os deuses estavam com expressões neutras, não demonstrando absolutamente nada. O que deixava meu nervosismo ainda maior.

—Quantos vampiros? —Indaguei, um pouco hesitante.

—Três. —Kallias sibilou, mostrando os dentes.

—Três elfos foram encontrados nas minhas terras também. —Afirmei, me voltando para Sallow, já que os elfos eram das terras de Montear. —Dois deles estavam mortos. Um ainda está vivo, mas em um estado crítico.

—O que fez com ele? —A deusa das estrelas indagou, me fazendo voltar para ela.

—Está sobre os cuidados de uma bruxa, senhora. Ela iria dar a ele uma poção de cura e se certificar de que melhoraria logo. —Esclareci, vendo ela balançar a cabeça em um ato de aprovação.

—Três mortes em Montear e Terraria, de seres não pertencentes a essas terras. —A deusa da lua prosseguiu. —E quase três em Solaris. Não me importo se estão culpando uns aos outros. Eu sei que alguém usou todos esses acontecimentos para roubar nossa magia e agora, aparentemente, está tentando brincar conosco, com esses assassinatos.

—Assim que o elfo melhorar, deve ser trazido diretamente até a Catedral para ser interrogado. —O deus do sol afirmou. —E se, um de vocês, realmente tiver participado disso, terá consequências muito piores que a ilha da prisão.

Os três se viraram para se retirar. Abri minha boca, dando um passo à frente, até uma linha de chamas surgir na minha frente. Olhei para Kallias, vendo os olhos dele cerrados na minha direção.

—Sua raça é a mais provável a cometer tais crimes, sabia? —Murmurou, fazendo minha boca ficar seca.

—Até o verdadeiro culpado ser achado. —Olhei dele para Sallow. —Todos são suspeitos. Incluindo vocês dois.

Virei as costas para entrar no espelho, sabendo que aquilo deixaria os dois muito irritados. Mas eles nunca gostaram de mim. Então não espero nada menos deles, do que puro desdém, que eu também compartilho contra ambos.

—Deuses inferiores... sempre tentando ser mais do que são.

Parei, virando o rosto e olhando para Sallow. Ele estava se preparando para entrar no espelho também, para voltar as suas terras.

—O que disse? —Indaguei, erguendo as sobrancelhas. Ele soltou uma risadinha e olhou pra mim com indiferença.

—Você ouvir muito bem, Alita. —Afirmou, desaparecendo dentro do espelho.



Continua...

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