Não sei o que chega a ser pior, o silencio gritante de Stella ou o olhar gélido presente no rosto dela. Quase posso ouvir o som dos corações acelerados batendo ao nosso redor, enquanto todos prestam atenção naquela cena que se passava na frente deles.
—Você é minha parceira. —Tallys repetiu, enquanto Stella não movia um músculo sequer.
—O que? —Ela soltou uma risada. —Não sei do que está falando, Tallys.
—Você sabe, sim! Sabe o que isso significa e sabia da existência dele desde o início, assim como eu! —Afirmou, soltando uma respiração pesada. —Você sonhava comigo? Porque eu sonhava com você, Stella. Sonhava a tempo o suficiente para saber que esse laço realmente existe.
O silêncio permaneceu no ar de novo, com a expressão de Stella indo de indiferença a uma dureza que poderia partir o mundo ao meio.
—O que você quer, Tallys? —Indagou, soando um pouco mais como uma ordem. —Quer que a gente fique junto como um casal feliz? Quer que eu vá morar com você em Solaris? É isso que quer?
—Eu não... —Tallys pareceu ficar subitamente sem jeito.
—Esse laço não significa nada pra mim, Tallys. Não faz parte da minha cultura, não faz parte das coisas que eu conheço ou tenha interesse em conhecer. —Afirmou, fazendo ele dar um passo para trás, chocado. —O que quer que esteja fazendo agora, não importa. Não ligo pra isso aqui. Não somos um casal e nunca vamos ser.
—Mas o laço...
—Eu já disse, ele não significa nada pra mim. —Repetiu, não deixando que ele terminasse. —Não estou interessada em um laço de parceira idiota com um vampiro.
Tallys ficou em silêncio, olhando pra ela sem mover um músculo, como se estivesse sentindo dor. Stella esperou que ele dissesse algo, mas quando tudo que ele fez foi ficar ali, sem se mover, ela desviou dele e saiu dali, mandando todos de volta para o trabalho.
—Tallys? —Me aproximei dele, vendo ele piscar e olhar pra mim, antes de desaparecer dali sem me dar a chance de falar qualquer coisa.
Fiquei parada no meio do navio, olhando os homens que andavam de um lado para o outro, enquanto Jacks estava parado atrás de mim, parecendo feliz com o próprio silêncio pessoal. Deixei ele pra trás e caminhei a passos pesados para a cabine de Stella, sabendo que ela havia se trancado lá quando fez sua saída a coisa mais dramática possível.
Não bati na porta, apenas entrei, fechando-a com força atrás de mim para chamar a atenção dela. Stella estava sentada atrás da mesa, com os pés erguidos e bebendo algo da própria garrafa. Lori estava sentado sobre a mesa, brincando com o que parecia uma bolinha de papel amaçado.
—Por que fez isso? —Indaguei, vendo ela soltar uma risada.
—Sabia que todos estão falando de vocês? Não só Solaris ou a Catedral. Absolutamente todos os territórios estão falando sobre um grupo de rebeldes que está contra os deuses, em uma luta por justiça e honra! —Ela murmurou as palavras de forma teatral. —Estão chamando vocês de círculo dos impostores. Acho que gosto do nome, sabia? É meio...
—Não me importo. O que quer que seja isso que está acontecendo aqui. Não me importo. —Afirmei, fazendo ela revirar os olhos e bufar, virando a garrafa na boca e dando um grande gole. —Por que falou com ele daquele jeito? Por que recusar o laço assim?
—Você deveria parar de se intrometer na vida dos outros. —Ela provocou, com um leve tom de reprovação. —Nem tudo é da sua conta.
—Tallys é meu melhor amigo, então é da minha conta, sim! —Exclamei, dando passos até parar na frente da mesa. —Você pode parar de ser uma grande babaca as vezes, sabia? Não sei o que rolou com você, Stella. Mas nenhum de nós aqui tem culpa do que quer que seja. Estamos tentando ser os mais gentis e respeitáveis possível e tudo que recebemos é sua grosseria.
—Seu irmão morreu. —Lembrou.
—Não fale dele! —Afirmei, com meu sangue ficando quente. —Não sei da sua relação com Cal e agora não me interessa, porque ele se foi, tá legal? Se foi e não vai voltar. Mas quero saber o que está acontecendo aqui nesse exato momento!
—Você não entende. Por que eu me daria ao trabalho de tentar explicar? —Indagou, soando um pouco evasiva, enquanto escorava a cabeça nas costas da cadeira e fechava os olhos.
—O laço pode não fazer parte da nossa cultura, Stella. Mas você sabe tanto quanto eu o que ele significa, sendo vampira ou deusa inferior. —Afirmei, ouvindo o som do meu coração batendo desgovernada no peito. —Ele significa muito mais do que só um laço que une alguém a outra pessoa. Significa muito mais do que uma simples parceria. Tallys estava procurando por você a um bom tempo. Fez coisas super questionáveis pra tentar encontrar você. —Stella desviou os olhos de onde eu estava, pressionando os lábios até eles ficarem brancos. —Tudo isso pra chegar até aqui e ouvir isso de você. Não estou dizendo que deve aceitar o laço e ter algo com ele. Mas ter o mínimo de respeito e empatia não vai matar você, sabia? Ter falado com ele, conversado com calma, não mataria você! Não somos seus inimigos, Stella. Mas se continuar assim, sua ajuda e companhia é a última coisa que vamos querer. E tenho certeza que Cal não me mandou aqui apenas por alianças.
Ela ficou em silêncio, com os lábios tremendo ao encarar um ponto fixo no chão. Balancei a cabeça negativamente e virei as costas, batendo a porta com força quando sai da cabine.
Continua...
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Os Domínios do Deserto
FantasyNas terras do continente Esmeralda, muito se fala sobre os deuses capazes de ditar os dias e as noites, controlando o sol, a lua e as estrelas. Mas outros seres caminham por aquelas terras, reverenciando-os e convivendo com os deuses inferiores, que...