Não sei o que mais me surpreendeu, Jacks começar a rir atrás de mim, ou o furão que vinha pelo corredor, com as patas causando um eco. Abaixei a arma, me virando a tempo de ver Jacks gargalhando baixinho, com as asas balançando atrás dele. Teria sido uma visão muito graciosa se não fosse pelo meu coração acelerado dentro do peito.
—Isso não tem graça! —Afirmei, vendo ele negar com a cabeça, ainda rindo. —Eu achei que fosse uma daquelas criaturas. Você não viu uma pra saber como é.
—Sim, e nem quero ver. —Rebateu, ainda rindo. —Mas sua cara quando viu o furão foi digna de uma gargalhada.
—Percebi, você nunca ri. —Bufei, voltando a caminhar, enquanto Lori ia à frente, parecendo saber exatamente o caminho que queríamos seguir. Jacks me seguiu, ainda rindo baixinho, me deixando com vontade de virar e dar um soco no seu deslumbrante rosto.
Ficamos em silêncio o restante do caminho, com Lori nos guiando até duas imensas portas de madeira, com detalhes em ouro. Fiz uma careta ao perceber que muitas coisas ali eram feitas de ouro. Tudo em Solaris era simples perto daquilo. Bem, eu já tinha chegado à conclusão que Tallys estava certo. Então aquilo não deveria me surpreender.
Parei em frente as portas, engolindo o nó imenso que estava na minha garganta. Jacks teve a decência de parar de rir, quando percebeu que havíamos chegado onde provavelmente era o escritório de Sallow.
Olhei pra ele e abri a porta muito lentamente, vendo que a sala estava em completo silencio e tomada pelas sombras da noite. Lori entrou primeiro, com seus passos causando em eco pelas paredes. Assim que passamos pelas portas, Jacks a fechou atrás de nós.
Caminhei até a lateral da sala e comecei a acender as tochas, fazendo a luz das chamas banharem cada parte daquele cômodo. Quando terminei, fui até a imensa mesa de madeira, cheia de papéis e objetos e comecei a revirar tudo, procurando por qualquer coisa que pudesse me dar algumas respostas ou mais pistas. Jacks estava caminhando ao redor da sala, parecendo concentrado em seus próprios pensamentos.
Quando não encontrei nada na mesa, passei para os armários, abrindo portas e gavetas e remexendo em todos os papéis. Olhei para Lori quando ele chegou ao meu lado, pulando para dentro de uma das gavetas abertas. Ele remexeu em tudo, até se voltar para mim, com um punhado de cartas na boca.
—O que você achou aí? —Indaguei, tendo certeza que apesar de não poder responder, ele entendia perfeitamente.
Peguei as cartas e observei o nome dos remetentes, sentindo o sangue latejar na minha cabeça, quando mais rápido eu passava de uma carta pra outra, lendo e relendo os nomes várias vezes. As datas eram próximas, quase todos os dias. A maior parte tinha o nome de Breno, fazendo todas as minhas suspeitas se concretizarem. Outras tinham o nome de Kallias, o líder do Terraria. E havia outras cartas, em que o nome do remetendo havia sido apagado, riscado ou rasgado. Mas eu podia ler a primeira letra, M. Alguém que o nome começava com M.
—Jacks? —Fiquei de pé, vendo ele se voltar pra mim.
Comecei a abrir uma das cartas de Breno, soltando todas elas no chão e dando um passo assustado para trás, quando as cartas se incendiaram na minha mão no momento que abri uma delas. Pressionei meus lábios em negação, observando os papéis que agora não passavam de cinzas no chão.
—Era encantado para que apenas ele as lesse. —Jacks se aproximou, observando as cinzas no chão. Me assustei quando ele se aproximou subitamente de mim, agarrando minhas mãos e as olhando, como se esperasse vê-las queimadas.
—Eu soltei antes que me queimasse. —Afirmei, sentindo meus pelos se arrepiarem quando o polegar dele deslizou pelo meu pulso. Puxei minhas mãos para longe, fazendo uma careta pra ele. —Ele trocava correspondências com Breno.
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Os Domínios do Deserto
FantasyNas terras do continente Esmeralda, muito se fala sobre os deuses capazes de ditar os dias e as noites, controlando o sol, a lua e as estrelas. Mas outros seres caminham por aquelas terras, reverenciando-os e convivendo com os deuses inferiores, que...