O ar se moveu com força e muito rápido ao meu redor. O lenço se enrolou no meu pescoço, enquanto meus cabelos tampavam a minha visão a medida que eu despencava, sentindo que minha alma estava pronta pra sair do meu corpo. Meu grito percorreu todo o caminho, enquanto eu me preparava para ser devorada por um dragão, ou ter meu corpo despedaçado nas rochas lá embaixo.
Abri meus olhos, com a respiração se engasgando na minha garganta, quando Jacks me agarrou, segundo antes de meu rosto tocar o chão. Me agarrei a ele, praticamente desesperada, passando minhas pernas por seus quadris e meus braços ao redor do seu ombro.
Ele voou para longe da área dos dragões, se escondendo entre as paredes rochosas até chegarmos à estreita faixa de areia, que circulava a ilha da prisão. Jacks me colocou sentada no chão, perto de um monte rochoso e se ajoelhou na minha frente. Ao longe, eu ainda podia ouvir os sinos tocando e os sons dos dragões, procurando por nós dois.
—Você fez de propósito. —Afirmei, com os lábios secos, sentindo meu corpo inteiro trêmulo. Ergui os olhos até os dele, vendo a sombra de diversão ali, quando ele não negou. —Eu podia ter morrido.
—Eu não poderia permitir, você sabe. —Ele tocou meu queixo, soltando uma risadinha. —Não estou afim de causar minha própria morte, Alita. Não agora que tenho minha liberdade de volta. —Ele puxou meu lenço do pescoço, trazendo até minha cintura, onde eu havia levado um tiro. —Mas isso não significa que eu vá facilitar pra você.
Chiei de dor quando ele pressionou o lenço enrolado ali, fazendo a área latejar e queimar. Lancei um olhar de fúria a ele, ganhando outro sorriso divertido do mesmo.
—Vou buscar o seu amigo. Fique paradinha aqui. —Pediu, com um tom presunçoso, como se estivesse adorando cada segundo daquele momento. Virei o rosto quando ele tocou minha bochecha, apenas para vê-lo me encarando com os olhos iluminados. —Você deveria ter me matado, sabia?
Fiquei em silêncio, observando ele ficar de pé, com as asas imensas se abrindo. Jacks ergueu voo no mesmo instante, me deixando encolhida ali, contra as pedras e a areia.
Enquanto via ele se afastando, notei uma coisa que havia passado despercebida no meio da confusão. O lenço azul que ele havia roubado de mim, estava amarrado na ponta superior da asa direita, com o tecido deslizando pelas penas negras, enquanto ele voava.
[...]
Abri os olhos muito lentamente, sentindo meu corpo inteiro sonolento e dolorido. Ergui a mão até a cabeça, sentindo que ela estava prestes a explodir em uma dor de cabeça tremenda. Parecia que um dragão havia realmente me devorado e jogado fora.
—Alita?
Olhei pro lado, vendo Tallys aparecer no meu campo de visão. Só então percebi que estava deitada em um sofá, com as tochas clareando cada canto. Tallys estava sentado no chão, bem ao meu lado. Lila estava na frente de uma mesa, misturando algumas ervas. E no canto, sentado no chão com a cabeça escorada na parede, olhando pra mim, estava Jacks.
—Você me assustou. Pensei que não fosse acordar mais. —Tallys afirmou, se colocando de pé e me ajudando a sentar no sofá também. Levei a mão até a camisa, erguendo e observando o curativo onde eu havia levado o tiro. Havia um no meu ombro também.
—Eu te dei poção de cura. Mas elas não agem tão rápido em ferimentos de bala, por causa da pólvora. —Lila se aproximou, me estendendo uma xícara de chá fumegante. —Além disso, tive que remover as duas balas, já que elas não saíram.
—Que terrível. —Afirmei, olhando pra Tallys. —Você não estava aqui, aposto.
—Na verdade, eu estava sim. —Ele abriu um sorriso nervoso. —Não posso sair caminhando abertamente pelas ruas de Solaris, Alita. Eu e você estamos sendo procurados. Estão distribuindo cartazes nossos por cada canto da cidade.
—Tá brincando? —Exclamei, me voltando pra ele com os olhos arregalados.
—O que você achou que ia acontecer? —Lila arqueou as sobrancelhas. —Você invadiu a prisão, libertou um prisioneiro e fugiu deixando um rastro de caos pra trás.
—Ah, merda! —Choraminguei, apertando a xícara com força entre meus dedos. —Cal deve estar querendo me matar.
—Na verdade... —Tallys coçou a garganta, abrindo um sorriso nervoso. —Ele está morrendo de preocupação, isso sim.
—Você o encontrou? —Indaguei, fazendo uma careta. Tallys revirou os olhos, bufando.
—É claro, Alita. Ele é seu irmão e estava louco de preocupação. Lila e Meri me ajudaram a encontrá-lo na parte mais vazia da cidade. Expliquei a ele o que aconteceu. —Tallys esclareceu, dando de ombros. —Ele queria vir até aqui. Mas era arriscado demais. Como seu irmão, estão todos de olho nele, com medo de que ele saiba algo e a acoberte.
—De qualquer forma, o acontecimento na prisão já se espalhou para os outros territórios. Até os deuses já sabem. —Lila completou, enquanto eu afundava ainda mais no sofá. —Agora todos acham que você está envolvida com o sumiço da magia.
—Hm, bom, acho que começamos muito bem, não é? —Zombei, soltando uma risada frustrada, enquanto pressionava meus lábios com força um contra o outro. —Agora somos os suspeitos.
Ficamos em silêncio, enquanto Lila voltava a suas ervas e eu me ocupava de beber o chá, que parecia ter o pior gosto do mundo, com uma cor escura que o deixava ainda pior.
—O que vamos fazer agora? —Tallys olhou pra mim, parecendo cansado, o que era impossível pra um vampiro. —Qual o próximo passo?
—Jacks é o próximo passo. —Olhei para o peregrino sentado no chão, com a mesma expressão indiferente de sempre, enquanto os olhos prateados estavam voltados pra mim. —Você é ligado a magia. Pode achá-la, certo? Saber pra onde ela esteve, pra onde foi? Preciso que faça isso agora.
Ele abriu um sorriso com o canto dos lábios, exibindo uma expressão presunçosa.
—Eu já fiz isso. —Ele arqueou uma das sobrancelhas. —Enquanto você dormia.
—E? —Ignorei a última parte, gesticulando pra que ele prosseguisse. —Pra onde temos que ir?
Jacks me fitou por longos segundos, antes de desviar os olhos para Lila, que agora bebia o próprio chá. Ela parou, olhando pra nós, fazendo uma careta.
—O que foi?
Continua...
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Os Domínios do Deserto
FantasyNas terras do continente Esmeralda, muito se fala sobre os deuses capazes de ditar os dias e as noites, controlando o sol, a lua e as estrelas. Mas outros seres caminham por aquelas terras, reverenciando-os e convivendo com os deuses inferiores, que...