Dentro da cidade de Solaris, haviam algumas regiões que predominavam alguma especia. O centro, onde ficava o palácio, a maioria dos moradores era de deuses inferiores, principalmente aqueles que possuíam mais riquezas. Ao norte, era a parte mais ocupada por bruxas em sua maioria. E foi exatamente pra esse lado da cidade que Jacks nos levou, assim que a noite caiu em Solaris.
—Tem certeza pra onde esta nos levando? —Tallys indagou, enquanto nos esgueirávamos pelos becos e vielas, tentando seguir Jacks a medida que ele ia em uma direção ainda incerta pra mim.
Jacks não se preocupou em responder, ele parou de andar subitamente, fazendo meu corpo se chocar contra suas asas. Ergui os olhos e dei um passo para trás, quando ele se voltou pra mim e cerrou os olhos, parecendo prestes a me insultar por não tomar cuidado.
—É aqui. —Sibilou, desviando os olhos para Lila. —Sabe quem mora lá, bruxa?
Lila fez uma careta, desviando dele para poder olhar a rua e a direção que ele mostrava. Lila fez uma careta, se voltando pra Jacks e depois pra mim.
—É a casa do Breno. —Lila afirmou, voltando a encarar a construção de pedra de dois andarem, que estava erguida sobre as areias douradas.
—Tem certeza? —Indaguei, passando por Jacks para olhar. Eu não sabia ao certo onde Breno morava. Na verdade, evitava qualquer lugar em que pudesse acabar encontrando com ele. Mas Lila confirmou com a cabeça, parecendo muito certa sobre aquilo.
—Sinto cheiro da magia no ar. Está empregada em cada canto daqui e o centro de tudo é lá dentro. —Jacks murmurou, enquanto encarávamos a rua escura e a construção do outro lado, com tochas clareando ao redor.
—Tem certeza? —Me virei para Jacks, vendo ele pressionar os lábios em irritação. —Aqui é a área das bruxas. Elas lidam com magia o tempo todo. Não está confundindo?
—Não. —Disse simplesmente.
—Como tem certeza? —Indaguei de novo, cruzando os braços na frente do corpo. Jacks desceu os olhos até mim, erguendo uma das sobrancelhas.
—Por que eu sei reconhecer os tipos de magia que existem, Alita. A magia das bruxas não é um pingo d'água no meio da tempestade que é a magia dos deuses. —Ele curvou o rosto na minha direção, abrindo um sorriso com o canto dos lábios. —Mas se estiver com dúvida, vossa graça, pode ir lá e tirar a prova você mesma.
—Tá falando isso porque não conhece o Breno. —Resmunguei, sabendo que aquele projeto de demônio não pensaria duas vezes antes de alertar os guardas sobre mim. —Tudo bem. Vamos até lá.
—Esperem! —Lila olhou ao redor na rua, parecendo hesitante. —Deixa que eu vou até lá. Faço um sinal caso estiver tudo okay.
Assenti e observei Lila se afastar. Atravessando a rua até estar na frente da construção. Jacks me puxou para a escuridão do beco quando Lila bateu na porta, com a maior naturalidade do mundo e aguardou. Mas nada aconteceu. Breno não abriu a porta e muito menos apareceu em uma das janelas, resmungando alguma coisa. Lila bateu na porta de novo. Mas como antes, nada aconteceu.
—Tem alguma coisa errada. —Tallys murmurou, aparecendo do nada ao meu lado. Não havia percebido o quão silencioso ele havia ficado nos últimos segundos.
—O que? —Indaguei, fitando a porta onde Lila ainda aguardava, batendo uma terceira vez.
—Sangue. —Tallys sussurrou. —Tem cheiro de sangue por todo lado.
Nós disparamos no mesmo instante, atravessando a rua em segundos, antes de estar na frente da porta, assustando Lila. Tallys arrobou a mesma com um empurrão com o pé, revelando a sala com os móveis todos revirados e destruídos. Lila fechou a porta atrás de nós assim que entramos, encontrando tudo no mais completo caos.
Lila subiu as escadas correndo, enquanto Jacks caminhava pela sala, indo até a cozinha e voltando, como se procurasse por algo. Lila não demorou a descer, balançando a cabeça negativamente, com uma expressão confusa no rosto.
—Tudo revirado lá em cima. Mas sem sinal do Breno. —Afirmou, enquanto parava ao lado de Jacks, que agora tinha a atenção voltava para a estante de livros na parede, onde os livros estavam amontoados no chão. Observei ele ir até lá, agarrando a lateral da mesma e fazendo força para empurra-la. Tallys se apaixonou no mesmo instante, ajudando a afastá-la do caminho, revelando uma passagem.
—Bruxas e suas passagens secretas. —Lila murmurou, curvando os lábios em um sorriso amarelo quando nós três olhamos pra ela. Me virei de volta, vendo Jacks entrar na passagem e começar a descer as escadas que havia ali. Seguimos ele, com a escada parcialmente na escuridão. A maioria das tochas estavam caídas no chão, apagadas.
Bati contra as costas de Tallys quando ele parou de caminhar, olhando por cima do ombro dele, a sala que se abria no final da escadaria. Era como uma caverna, com as paredes rochosas repletas de tochas. Haviam prateleiras de livros por todo canto, assim como frascos de poções sobre mesas e estantes, gaiolas com morcegos, sapos e todo bicho que ele conseguiu prender. As mesas estavam reviradas e o imenso caldeirão sobre a fogueira estava caído nas chamas apagadas.
—Ah, merda!
Lila passou por nós, correndo na direção onde Breno estava, caído no chão, com os olhos vidrados e a garganta cortada. Fui até os dois, vendo ela cair de joelhos ao lado dele e checar se ainda estava vivo, o que era impossível de se imaginar que sim, já que o sangue dele se espalhava por todo chão.
—A magia esteve aqui. —Jacks afirmou, olhando ao redor com o rosto curvado em uma careta. —Sinto ela por toda parte.
—Alita... —Lila se engasgou, se afastando de Breno, um pouco horrorizada. —O Breno...
Ela parou de falar, ficando de pé e olhando para as mãos manchadas de sangue, antes de olhar para o caldeirão caído sobre a lenha apagada. Me virei, observando o que havia chamado a atenção dela. A boca do caldeirão negro estava curvada um pouco pra cima. De dentro dele, sangue pingava e escorria para o chão, manchando o piso de pedra.
Minha mente parou de funcionar por alguns segundos, enquanto eu olhava cada canto daquela sala, até voltar a olhar pro sangue dentro do caldeirão. Ergui os olhos muito lentamente, até encontrar Tallys com a respiração presa, encarando tudo com os olhos imensos.
—Tallys... —Sussurrei, engolindo muito lentamente. —Me diz, por favor, que o sangue que você roubou esse tempo todo, não era pra ele!
Continua...
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Os Domínios do Deserto
FantasíaNas terras do continente Esmeralda, muito se fala sobre os deuses capazes de ditar os dias e as noites, controlando o sol, a lua e as estrelas. Mas outros seres caminham por aquelas terras, reverenciando-os e convivendo com os deuses inferiores, que...