Não esperava a aprovação de Tallys e também não estava esperando a aprovação do meu irmão. Ele com certeza não me deixaria fazer aquilo, se soubesse minhas reais intenções de fazer um acordo com Jacks. Mas eu precisaria da ajuda dele, pra entrar de novo na prisão.
O problema dos acordos em todo continente Esmeralda, é que eles eram muito mais do que só palavras. Eram promessas gravadas pela magia que corre por todo nosso território. Fazer um acordo com alguém é perigoso, ariscado e nada aconselhável. Além de você ligar a magia a ele, meias palavras podem por todo o acordo em risco. Acordos podem tirar sua vida. Mas podem salvá-la também, se souber usar as palavras certas.
Eu só precisava fazer um acordo sem brechas. Além de garantir que Jacks não pudesse tentar contra minha vida, já que ele me odeia mais que tudo.
—Você ficou maluca de vez? —Tallys exclamou, enquanto Lila apenas negava com a cabeça, me olhando com os lábios pressionados e uma expressão de impaciência. —É a pior ideia que você já teve até hoje.
—Hm, pois é. —Dei de ombros, fingindo não estar tão preocupada quanto já estava. —Mas essa é a minha saída. Preciso de um peregrino. Jacks é a melhor opção.
—Não, com certeza não é! —Tallys rebateu, atravessando o quarto em um piscar de olhos até estar na minha frente.
—Se você conhecer outro peregrino, que more mais perto e queira nos ajudar, ficaria imensamente grata, Tallys! —Exclamei, vendo ele fechar os olhos com força e respirar fundo, parecendo estar contado até dez. —Quer saber? Não precisa ir comigo. Em nenhum momento o obriguei a isso.
—Sei, sei. —Chiou, piscando várias vezes e se afastando de mim. —Estou tentando decidir o que é pior. Aquelas criaturas horrendas ou Jacks e à vontade louca de te matar.
—Jacks não vai tentar contra a sua pobre alma de vampiro, as criaturas vão. —Comentei, tentando soar como um incentivo. Ele olhou pra mim e arqueou as sobrancelhas, balançando a cabeça negativamente.
—Eu te odeio, sabia? Nem cheguei a um século de vida e tu já quer me enfiar no meio da morte. —Resmungou, gesticulando com a mão, super impaciente. —Quero saber como você vai convencer o Cal a deixá-la entrar na cadeia de novo. —Afirmou, me fazendo encolher os ombros. —E quero saber como pretende tirar Jacks daquela cela, sem arrumar briga com todas as criaturas das sombras daquela prisão.
Abri a boca para responder, ficando em silêncio quando percebi que não tinha reposta para aquilo. É, eu não havia pensado naquela parte em específico.
[...]
Entrei no palácio, recebendo o olhar torto de todas as bruxas que perambulavam por ali. Ignorei todas elas, subindo as escadas para ir até a sala de Cal, vulgo minha antiga sala. Tinha que convencê-lo rápido a me ajudar a entrar na prisão de novo, pra conseguir logo a ajuda de Jacks.
Eu sentia que isso seria péssimo. Mas não tinha muito mais a perder.
—Olha quem está aqui. —Parei no meio do corredor, depois de ter subido todos os lances de escada. Me virei lentamente, encontrando Breno vindo na minha direção, com um olhar de pura presunção. —Veio tentar conseguir seu lugar de volta? Se eu fosse você nem perdia tempo. As coisas estão um completo caos, graças a você e...
—Meri, querida! —Murmurei, abrindo um sorriso muito grande pra Meri, que me olhou assustada, enquanto eu caminhava na sua direção, passando por Breno e o ignorando descaradamente. —Estava te procurando.
—Ah, ridícula. —Ouvi Breno resmungar, antes de começar a se afastar. —Malditos deuses inferiores...
—Sempre tentando ser mais do que são. —Completei a frase dele baixinho, sem que ele percebesse, me lembrando de Sallow. Aquilo acendeu uma chama na minha mente, assim como a imagem de Tallys indo se encontrar com Breno, antes da tempestade de areia.
—Alita? —Meri chamou, estalando os dedos na minha frente. —Está perdida nas estrelas? Acorde. —Ela riu quando finalmente voltei a prestar atenção nela. —Muito bom. Adorei ver Breno ser ignorado. Ele ficou escarlate quando você passou por ele.
—Ótimo. Ele pode ir destilar seu veneno em outra pessoa. —Afirmei, fazendo uma nota mental de questionar Tallys sobre aquilo. —Cal está ocupado?
[...]
Cal estava sentado na minha antiga mesa, com papéis até o pescoço e uma expressão de desespero, como se não soubesse o que fazer, já que haviam milhares de problemas. Agora ele sabia como era estar no meu lugar, nos dias ruins de Solaris.
—Precisa de ajuda? —Indaguei, vendo ele olhar pra mim e soltar um suspiro de alívio.
—Ah, sim, pelas estrelas, eu odeio esse trabalho, Alita! —Resmungou, ficando de pé e gesticulando para que eu pegasse seu lugar. —Não sei como você aguentava isso. É tanta coisa que nem consigo raciocinar direito.
—Sinto muito, irmão. —Dei a volta na mesa, empurrando-o de volta para o lugar, ouvindo ele gemer em frustração. —Mas o líder agora é você.
—A culpa é sua. Eu falei que não queria aceitar. —Afirmou, voltando a mexer naqueles papéis empilhados, parecendo procurar algo em específico. —E eu ainda tenho uma reunião com os deuses e os outros líderes.
—Eles esperam respostas. —Comentei, vendo ele balançar a cabeça em concordância.
—Falando em respostas. Aquele elfo ainda está desacordado? Precisamos muito que ele acorde e conte o que aconteceu. —Afirmou, e eu senti a respiração parar na minha garganta. —Isso resolveria tanta coisa. Poderia até trazer você de volta pra cá. Sei lá, não custa sonhar.
—Cal? —Chamei, vendo ele olhar pra mim com a está franzida, percebendo que eu estava com os lábios pressionamos em resignação. —O elfo não vai poder ajudar.
—Ele morreu? —Indagou, arregalando os olhos.
—Er... —Encolhi os ombros e encolhi em seco. —Morrer não é a palavra certa. Mas ele está longe de estar vivo também.
[...]
Abri o armário, puxando a caixa cheia de balas e comecei a carregar a espingarda, enquanto ouvia a respiração de Cal logo atrás de mim, já que ele estava mais do que determinado a me impedir de voltar a prisão. Enfiei o restante das balas na bolsa, junto com duas pistolas, finamente me voltando pra ele e sua expressão furiosa.
—Só pra lembrar, eu sou a mais velha. —Afirmei, tentando quebrar o clima ruim, mas apenas ganhando um olhar fulminante dele.
—Não me vem com essa de ser mais velha, Alita. Você poderia ser mil anos mais velha que eu, e eu ainda tentaria te impedir! —Declarou, com um tom de voz rude que me fez bufar. —Eu não vou deixar você entrar naquela prisão e soltar aquele cara. E principalmente, não vou deixar você sair por aí pra acabar dando de cara com aquele elfo... criatura, ou o que quer que ele tenha virado!
—Não pode me impedir. —Rebati, erguendo o queixo. —Eu vou fazer isso. Pode me ajudar a entrar na prisão ou não. Mais de qualquer forma eu vou. Jacks é minha única chance de recuperar a magia.
—Que se dane a magia, Alita! —Exclamou, segurando meus ombros e me balançando de leve. —A magia não vai servir de nada se você morrer!
—Eu não vou morrer! —Retruquei, vendo ele fechar os olhos com força e pressionar os lábios, parecendo tentar controlar a respiração irregular.
—Sinto muito, Alita. Mas não. —Ele se afastou, abrindo os olhos e negando com a cabeça. —Você não vai voltar a prisão.
—Eu vou. —Afirmei, vendo ele rir, parecendo infeliz.
—Não, não vai. Como representante dos deuses inferiores e líder do círculo do deserto, eu a proíbo de pisar na prisão e em qualquer território que não seja Solaris. —Declarou, fazendo meu queixo cair. —E não ouse testar isso, Alita. Prendo você se isso for a deixar segura.
Ele virou as costas e saiu da sala, me deixando congelada no lugar. Fiquei por alguns segundos parada, piscando sem parar, enquanto pensava no que tinha acabado de acontecer. Tudo bem, ele só estava dando uma de irmão super protetor. Mas aquilo não iria me parar.
—Nem morta! —Exclamei, puxando a trava da espingarda para carregá-la.
Continua...
VOCÊ ESTÁ LENDO
Os Domínios do Deserto
FantasyNas terras do continente Esmeralda, muito se fala sobre os deuses capazes de ditar os dias e as noites, controlando o sol, a lua e as estrelas. Mas outros seres caminham por aquelas terras, reverenciando-os e convivendo com os deuses inferiores, que...