Capítulo 11: Uma hora.

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Abri a porta da minha sala, encontrando Tallys sentado na minha cadeira de novo, girando uma garrafa na mão, que continha um líquido escarlate dentro.

—Melhor parar com os seus roubos. —Comentei, chamando a atenção dele. —Meu irmão não vai ser tão gentil como eu na liderança.

—O que? —Ele soltou uma risada nervosa, olhando pra mim com as sobrancelhas erguidas. —Como assim? Seu irmão não tem poder de mandar me prender.

—Agora ele tem. —Afirmei, engolindo em seco. —Eu tô fora, Tallys. Eles se reuniriam e conseguiram me tirar. Não sou mais representante dos deuses inferiores e muito menos líder do círculo do deserto.

—Não! —Ele ficou de pé, parecendo chocado. —Ta de brincadeira, né? Alita, isso não é justo. Você... você...

—Não importa mais, okay? Já foi. Cal agora está no meu lugar. —Dei de ombros, lembrando da cara dele quando sai daquela sala, já que ele parecia estar prestes a pular no pescoço de Hally e Winder, para matá-los com as próprias mãos. —Precisamos achar a magia. Achá-la e devolvê-la. Assim posso pegar meu lugar no círculo do deserto de volta.

—Mas e o Cal?

—Ele não queria aceitar isso. Aceitou porque eu pedi. Melhor ele do que outra pessoa estranha. —Afirmei, engolindo em seco. —Vamos até a prisão, Tallys.

—Ah, não, amor. Tudo menos aquele lugar. —Resmungou, virando a garrafa na boca. —Não podemos achar outra pessoa? Uma bruxa pra ver o futuro?

—Bruxas da lua não são fáceis de se encontrar, mesmo aqui em Solaris. —Afirmei, vendo ele fazer uma careta. —Olha se não quiser ir, tudo bem. Eu vou até lá sozinha. Mas preciso fazer isso antes que a troca de liderança seja repassada para os outros territórios, porque depois disso não vou poder mais usar os espelhos.

—Eu vou com você. Quanto tempo temos? —Indagou, enquanto eu umedecia meus lábios com a língua.

—Eu... —Olhei para a porta atrás de mim quando ela se abriu e Meri entrou, fechando a porta atrás de si e se escorando nela, com uma respiração pesada.

—Eu odeio vampiros! —Declarou, fazendo uma careta.

—Ei! —Tallys soltou, fingindo estar ofendido.

—Nada contra você, Tallys. Mas seus amigos lá fora são chatos pra caramba. —Mari afirmou, se voltando pra mim. —Eu tentei te avisar.

—E eu deveria ter parado para te ouvir. —Murmurei, encolhendo os ombros. —A reunião já acabou?

—Eles acabaram de ir embora. Precisa tirar suas coisas da sala, para Cal tomar posse. —Afirmou, parecendo sem graça. —Sinto muito por isso, Alita. Você sempre foi a melhor de nós. Eu, Cal e todos os deuses inferiores concordamos nisso.

—Bem, já foi. —Abri um sorriso, tentando soar confiante. —Vou voltar pra cá logo. Nada de lamentações então.

[...]

Havia uma infinidade de coisas que poderiam ser ditas sobre meu irmão. Super protetor era uma dessas coisas. Cal olhou pra mim, passando a mão nos cabelos curtos, antes de soltar uma respiração pesada e olhar para Tallys.

—Você concordou com isso? —Cal indagou, e Tallys deu de ombros.

—Não é como se alguém pudesse vencer sua irmã em uma discussão quando ela decide algo.  Você mais do que eu sabe disso. —Tallys afirmou. —E eu não vou deixar ela ir até lá sozinha, apensar de odiar a ideia.

—Você é o vampiro mais medroso que eu já vi. —Murmurei, me voltando para Tallys.

—Medroso não. Eu só tenho amor a minha vida. Não pretendo morrer antes de completar um século, entendeu? Então não tente contra minha pobre alma. —Retrucou, me fazendo rir e balançar a cabeça negativamente, antes de me voltar para meu irmão.

—Eu só preciso de uma hora, Cal. Só uma. Entro lá, falo com ele e vou embora. —Afirmei, engolindo em seco. —Assim que eu pisar de volta em Solaris, você pode anunciar que é o novo líder para os outros territórios.

—Uma hora? —Ele olhou ao redor, já que estávamos no canto de um corredor, falando o mais baixo que conseguíamos. —Alita, tem certeza que é necessário falar com ele? Peregrinos não são confiáveis.

—Nenhuma raça é. —Rebati. —E sim, é necessário falar com ele. Ele está preso, Cal, não vai me machucar. —Olhei pra ele com os olhos muito grandes. —Por favor, irmão.

—Ai, pelas estrelas! —Ele gemeu, apontando para Tallys. —Vai cuidar dela, ouviu? Se ela se machucar lá, vou por a culpa em você e te matar.

—Mas a ideia é dela! —Tallys arregalou os olhos. —Alita, olha só o que tu fez!

—Ninguém vai matar você! —Bufei, olhando para os dois. —Parem com isso. Não vai acontecer nada. A prisão é cheia de guardas.

—Não pode me culpar por ficar preocupado. —Cal rebateu, com uma expressão dura. —Não importa se é mais velha que eu, ainda vou continuar me preocupando com a sua segurança. —Ele olhou ao redor, antes de se voltar pra mim. —Uma hora, Alita. Se você não voltar, vou atrás de você.

—Obrigada. Isso é muito importante. —Afirmei, abrindo um sorriso e dando um abraço apertado nele.

—Tudo bem. Só trás essa magia de volta logo. —Pediu, segurando meu rosto entre as mãos. —Se cuida, ouviu? Só vou ficar tranquilo quando você voltar.

—Uma hora. —Repeti, deixando um beijo na bochecha dele, me afastando e puxando Tallys junto. Cal ficou obsedando nós dois nos afastando, parecendo genuinamente preocupado e hesitante, como se estivesse louco para me impedi.

Fui com Tallys até a sala dos espelhos, começando a contagem de uma hora mentalmente. Como eu não era mais líder do círculo do deserto, não poderia mais sair de Solaris para outro território. Então, caso eles sejam avisados e eu ainda esteja lá, posso ser presa por quebrar as regras.

—E a sua espingarda? —Tallys indagou, quando paramos na frente do espelho que dava para a prisão.

—Armas não são permitidas lá. —Esclareci. —Ninguém quer encontrar os prisioneiros com uma faca, ou com uma espingarda.

Tallys me olhou com uma careta. Ergui a mão na direção dele e com um suspiro pesado ele a segurou, deixando que eu o puxasse e atravesse o espelho. Segundos depois, estávamos na prisão.


Continua...

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