Capítulo 58: Confiança gera corações fracos.

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Entrei na sala, a mesma que eu havia encontrado Bree para o café da manhã. Mas dessa vez era Maximus quem estava sentado na mesa, tomando uma xícara de chá enquanto erguia os olhos e sorria pra mim.

—Srta. Aziz, que bom que se juntou a mim. —Ele indicou a cadeira do outro lado da mesa, pedindo silenciosamente que eu me sentasse ali. Caminhei a passos duros até a cadeira e a puxei, me sentando e olhando pra ele. —Uma noite difícil essa, não foi? Como está o seu amigo?

—Vai ficar bem. —Afirmei, observando cada movimento dele.

—Sorte a de vocês que ele é um vampiro e pode lutar contra aquilo. Meu povo não teve tanta sorte assim. Perdemos muitos e os feridos estão piorando. —Ele soltou a xícara na mesa, olhando para a minha, intocável na minha frente. —Quer pedir outra coisa?

—Não, estou bem assim. Obrigada. O senhor me chamou até aqui. —Falei, mordendo o interior da bochecha. —Qual o teor da conversa?

—O que pretende fazer depois que deixar minhas terras? —Indagou, me fazendo pressionar os lábios em negação. —Estou perguntando isso porque você irá levar meu filho com você.

—Não precisa se preocupar com Jacks. Ele estará mais do que seguro vindo comigo. —Afirmei. Mais seguro do que ficando ali com os irmãos. —Lamento pelo ataque das criaturas. Mas eu tentei avisar que o problema costumava vir atrás de nós.

Ele sorriu, dando outro gole na sua xícara.

—Tenho quase certeza que isso não acontecia quando você era líder do círculo do deserto e não era suspeita de roubar a magia. —Comentou, fazendo meus dedos agarrarem com força o tecido da calça.

—O que sabe sobre o roubo da magia?

—O mesmo que todo mundo. Ela sumiu e todos estão procurando por elas. Assim como ninguém sabe de fato quem as roubou. Mas você é a suspeita número um. Existe até uma recompensa pela sua cabeça. —Afirmou, enquanto eu observava a porta atrás de mim se abrir e os irmãos de Jacks entrarem, caminhado ao redor da sala.

—Pretende me entregar? —Indaguei, sorrindo. —Não acho que seja uma boa ideia, sabe. Alguém já tentou fazer isso e se deu muito mal.

—Eu sei. Seu irmão foi uma perda lamentável. —Falou, fazendo meu coração disparar no peito. —Eu soube. Morto ou virou uma criatura. Não consigo decidir qual o pior. —Olhei pra ele, com meu sangue fervendo dentro do corpo, latejando na minha cabeça. —Não vou entregar você. Não ganharia nada com isso. Você sabe quem a entregou da última vez?

—Sei. Era uma aliada. Ou deveria ser. —Olhei para o lado, vendo Jace se sentar em um sofá, acenando pra mim e me lançando um sorrisinho.

—Entendo. —Ele soltou a xícara, erguendo os olhos pra me encarar. —Confiança gera corações fracos. Quanto antes entender isso, mais fácil sobrevive nesse mundo.

—Eu concordo. Seus filhos ensinaram isso a Jacks naquele incidente da cabana. —Comentei, inclinando meu rosto na direção dele, vendo sua expressão não se alterar, deixando claro que ele sabia o que havia acontecido lá de verdade. —E eu aprendi isso quando meu irmão morreu. E é por isso que não vou cometer o mesmo erro aqui.

Fiquei de pé quando a porta atrás de mim se abriu e Jacks passou por ela, junto com todos os contrabandistas que estavam sobre meu comando. Os irmãos de Jacks ficaram de pé quando as armas foram apontadas na direção dele e de Maximus.

—Vou perguntar apenas uma vez. —Sibilei, sentindo a presença de Jacks atrás de mim. —Onde ela está?

—Onde está o que? —Maximus abriu um sorriso forçado. —Está me ameaçando dentro do meu próprio território? Dentro da minha casa?

—E Jacks ainda concorda com isso? —Evan deu um passo na nossa direção.

Não pensei muito sobre aquilo. Agarrei a pistola presa na minha cintura e apontei pra ele, puxando o gatilho. Evan desabou no chão quando o tiro acertou sua asa esquerda, se contorcendo sem parar.

—Isso vai alertar todo mundo. —Jacks murmurou atrás de mim. Ergui a pistola e apontei para Jace e puxei outra apontando para Aiden quando eles fizeram menção de se moverem.

—Não vou ameaçar seus filhos, porque já percebi que você pouco se importa com isso. —Afirmei, olhando na direção de Maximus. —A magia dos deuses, onde está?

—Eu me importo com meus filhos. Mas é assim que as coisas funcionam por aqui, srta. Aziz. —Ele ficou de pé, passando as mãos nas roupas enquanto olhava para Evan, ainda se contorcendo no chão. —O mais forte deles ficará no meu lugar um dia. Não posso escolher o errado.

—Você certamente já percebeu que fez a escolha errada. —Apontei as duas armas pra ele, vendo seus olhos se cerrarem. —Onde está a magia?

—Eles estão vindo! —Alguém gritou atrás de nós e eu senti a mão de Jacks tocar meu ombro.

—Quer saber qual a punição nós costumamos dar a nossos prisioneiros? —Indagou, no exato momento em que erguia as mãos e criava algo entre elas, lançando na minha direção.

Puxei o gatilho das duas armas, escutando uma exclamação alta de Jacks quando a magia se chocou contra nós e ele foi jogado para trás junto com os outros, enquanto o amuleto nas minhas roupas absorvia todo o poder e impedia-o de me afetar. Maximus caiu no chão quando um dos meus tiros acertou sua asa e o outro seu ombro. Me virei rapidamente, atirando na direção de Aiden e Jace quando eles saltaram na minha direção.

Cai no chão com o corpo de um deles sobre o meu, jogando o braço para trás e acertando meu cotovelo no rosto dele. Puxei uma faca e me virei, cravando ela no braço dele quando o mesmo tentou me atacar. Jace gritou atrás de mim e eu acertei um soco no rosto dele, me arrastando para longe do seu corpo para agarrar a pistola.

Os homens já estavam de pé de novo, atirando na direção do corredor que dava para sala. Jacks estava rolando no chão com Aiden, em meio a socos e chutes. Ergui a arma e apontei para Maximus, vendo ele ficar de pé e tentar conter o sangramento do ombro, enquanto uma das suas asas estava caída.

—Onde está? —Exclamei, me virando e chutando Jace quando ele agarrou minha perna, atirando em uma das asas dele logo em seguida. Então me virei para Maximus de novo,  apontando a arma pra testa dele. —Última chance.

Ele tentou mover a asa, soltando um grunhido de dor quando não conseguiu. Observei ele erguer as mãos e criar uma esfera de magia, que foi tomada por sombras de tom amarelo e laranja, que se fundiam e giravam dentro daquela esfera.

—É isso que você quer? —Indagou, me lançando um sorriso traiçoeiro.

Perdi o foco por alguns segundos, antes de puxar o gatilho da arma de novo, atingindo a outra asa dele. A esfera caiu no chão, rolando para o meio da confusão. Disparei atrás dela, sentindo o ar se prender na minha garganta quando Jacks jogou Aiden longe e então pisou na esfera e a destruiu, absorvendo todo o poder para si.



Continua...

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