Capítulo 60: Não se pode fugir do destino.

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Desviei das fogueiras pelo caminho, sentindo o vento congelante fazer um uivo ao passar pelas árvores. Me sentei ao lado de Stella, observando ela dar mais sangue a Tallys, que estava deitado em um saco de dormir. Os cortes já estavam quase curados, mas ele estava fraco demais para andar e fazer qualquer coisa.

—Obrigado. —Murmurou assim que ela afastou o braço, puxando um frasco com uma poção de cura para passar no pulso. Tallys apagou antes que Stella tivesse oportunidade de respondê-lo, caindo em um sono profundo.

—Ele vai ficar bem. —Falou, ajeitando o saco de dormir dele. Mas aquela frase parecia estar sendo dita mais para si mesmo do que pra mim.

—Claro que vai. Você está contribuindo muito com isso. —Toquei a mão dela, sentindo ela apertar meus dedos em resposta. —Sabe que não se pode fugir do destino, não é? Esse laço é parte do seu destino, Stella.

—Eu sei. —Ela concordou com a cabeça, soltando uma respiração pesada ao olhar para Tallys. —Lembra quando ele me perguntou se eu sonhava com ele? Eu não cheguei a responder, mas eu sonhava sim. Sabia que ele existia. No início pensei que era minha mente pregando uma peça em mim. Procurei por uma bruxa e ela me contou que era o famoso laço de parceira dos vampiros. —Ela olhou pra mim e riu, como se aquilo fosse uma piada. —Eu não queria acreditar nela, porque não fazia o menor sentido. Eu era só a droga de uma deusa inferior, como poderia ter aquela coisa mágica dentro de mim me ligando a um vampiro?

—E o que ela disse a você quando não acreditou? —Indaguei, vendo Stella passar as mãos nos cabelos roxos, antes de olhar para Tallys de novo.

—Ela disse que o destino gosta de brincar e que as vezes, quando está entediado, ele faz alguém nascer em uma espécie que não deveria ser a sua, só pra ver o que vai acontecer. —Stella tocou a bochecha de Tallys. —Ela disse que isso é raro, mas acontece. Isso significa que eu deveria ter nascido vampira e não uma deusa inferior. Todos os seres não vampiros que possuem um laço de parceria com eles também deveriam ser vampiros. —Ela olhou pra mim, com os olhos vazios e tristes. —Mas eu já disse isso a você. Os deuses que controlam os mundos são traiçoeiros e perigosos. Gostam de se divertir e ver o caos se instalando nos mundos. E quando algo não agrada a eles, mandam seus generais limparem o problema.

—Quantos deles existem? —Indaguei, observando Stella se enfiar no saco de dormir junto com Tallys, se aninhando no corpo dele.

—Quatro pelo que eu sei. —Ela me olhou por alguns segundos. —Morte, vida, destino e magia.

[...]

Caminhei pela floresta, vendo Jacks me aguardando perto de um rio congelado. Ele se virou pra mim assim que me aproximei, balançando as asas para derrubar os flocos de neve que grudavam nas asas negras.

—Como Tallys está? —Indagou, me seguindo com os olhos enquanto eu passava por ele e olhava a floresta branca ao redor.

—Melhor. Vai ficar bem. —Afirmei, esfregando minhas bochechas. —Sabe, fiquei pensando, será que Cal também teria sobrevivido se fosse um vampiro?

—Não deveria ficar pensando nisso, Alita. —Jacks se aproximou de mim, me fazendo erguer os olhos para observá-lo. —Não é algo que estava sobre seu controle e muito menos no controle dele. Você enviou alguns homens atrás dele, quando encontrarem, vai poder se despedir do jeito certo.

—E se ele tiver virado uma daquelas coisas? E se foi morto naquela vila? —Indaguei, sentindo um aperto no peito. —Não gosto de pensar nisso.

—Então não pense. —Ele ficou na minha frente, segurando minhas mãos e então criando aquela mesma esfera de poder ali, fazendo a magia do sol cair na palma da minha mão. —Sua magia, vossa graça.

—Por que não fica com ela? —Meus dedos formigaram ao tocar todo aquele poder dourado, pintado de amarelo e laranja. —Até tudo isso terminar?

A esfera se desfez e o poder voltou para as mãos de Jacks que envolviam as minhas. Mordi o lábio e ergui os olhos pra ele, encarando aquela imensidão prateada.

—Como será que seu pai conseguiu isso? —Indaguei, ponderando todas as possibilidades que respondiam aquilo. Jacks deu de ombros, soltando um suspiro pesado. —O que o poder faz com você? O que pode fazer com ele?

—Me deixa mais forte de todas as formas possíveis. Não consigo controlar os dias e as noites como seus deuses, mas posso criar meu próprio sol. —Afirmou, criando um pequeno sol na palma da minha mão, fazendo a magia percorrer minha pele como eletricidade. —Ela não dá a mim o mesmo que dá ao seus deuses.

—Que pena pra você. —Murmurei, vendo ele absorver aquele sol, sorrindo levemente pra mim, antes de segurar meu rosto e me beijar, juntando seu corpo contra o meu, enquanto nossos lábios se abriram para receber e provar um ao outro.

—Venha. —Ele me puxou pela cintura, me guiando de volta para o acampamento. —Vamos dormir. Temos que chegar até o litoral amanhã e encontrar um navio.


Continua...

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