Capítulo 40: Máscara de raposa.

892 187 46
                                    

O tempo foi passando muito lentamente naquela cela. Não recebemos comida e muito menos água. Tudo que eu fiz foi ficar em silêncio, vendo a sombra da luz se arrastar pelo chão e pelas paredes rochosas até a noite chegar, enquanto recapitulava cada passo dado até ali. Cada frase que eu havia escutado.

Isso é como um jogo de xadrez. Cada um está mexendo suas próprias peças. Sei que estou sendo usada. Mas até chegar do outro lado do tabuleiro, era um longo percurso. Vou fazer minhas próprias jogadas agora.

Hora de eliminar algumas peças.

Ergui os olhos quando algo caiu na minha cabeça. A janela estava bem acima de mim e o vulto do corpo pequeno me fez ficar de pé. Tallys e Lila fizeram o mesmo quando Lori saltou para chão, vindo na minha direção. Peguei o furão no colo, estendendo minha outra mão com a palma virada pra cima. Ele depositou nela um pedaço de pergaminho dobrado, antes de escalar meu peito até meus ombros e ficar ali.

—O que é? É da Stella? —Tallys indagou, vindo para perto de mim. Desenrolei o pergaminho e li a frase em voz alta.

   "Meus cumprimentos ao círculo dos impostores.
      S.L."

Fiquei olhando para o pequeno papel por longos segundos, tentando entender o que aquilo significava. Stella não fazia o tipo de pessoa que enviava enigmas. Mas também não parecia o tipo de pessoa que se interessava em mandar os cumprimentos a alguém que ajudou a prender.

Círculo dos impostores? —Lila fez uma careta, pegando o pergaminho da minha mão. —O que significa isso?

Não respondi, porque Lori saltou para o chão, escalando a parede até desaparecer pela janela de novo. Um segundo depois, o som de portas rangendo chamaram nossa atenção. Tomei o pergaminho de Lila e o escondi nas minhas roupas.

—Hora de encontrar os deuses, minha cara senhora Aziz. —Kallias murmurou, surgindo do corredor iluminado por várias tochas. Seu cabelo ruivo parecia ganhar mais vida ainda naquele momento.

—Feliz em se livrar de mim? —Indaguei, enquanto via vários guardas se aproximando para nos amarrar.

—Algumas coisas sempre precisam ser colocadas em ordem. Você por exemplo, sempre foi uma delas. —Os guardas puxaram meus braços pra trás, prendendo meus pulsos em uma corrente e dando um puxão que fez meus músculos tremerem. —Estão falando de vocês lá fora, sabia? —Olhei pra ele com as sobrancelhas erguidas, enquanto era empurrada para o corredor. —O grupo que se rebelou contra os grandes deuses. Mas não se preocupe, isso vai acabar agora.

Fomos levados a uma sala circular, passando por mais um grupo de corredores. As paredes também eram rochosas e o teto sobre nós era aberto, revelando o céu escuro e sem estrelas. Em algum ponto dali, eu podia ouvir o som de ondas batendo contra as pedras. Sabia que abaixo da prisão da Catedral haviam muitos túneis por onde a água corria com violência. Caso alguém tentasse fugir por eles, teria uma morte violenta ao se chocar contra as paredes rochosas.

—Isso te incomoda? —Ele olhou pra mim, parecendo genuinamente interessado. —Um grupo de desordeiros ficando mais conhecidos do que o lendário elemental do fogo que lidera Terraria?

—Você é e sempre foi só uma vadia mimada. Teve tudo que sempre quis e agora vai perder tudo isso. —Sibilou, com a língua repleta de veneno.

Tallys olhou pra ele com os olhos ganhando uma coloração vermelha, enquanto soltava praticamente um rosnado. Os guardas seguraram ele com mais força, dando um puxão nas correntes que prendiam os braços dele.

—Quer saber? Você tem toda razão. —Olhei para Kallias, abrindo um sorriso. Então cuspi no rosto dele com a maior força de vontade que existia dentro de mim.

Kallias pareceu ficar congelado, erguendo a mão e tocando o rosto para limpa-lo. No segundo seguinte a mão dele estava ao redor do meu pescoço, prendendo a minha respiração. Arfei quando sua pele se tornou insuportavelmente quente, fazendo meus olhos arderem e lacrimejarem quanto mais forte ele apertava minha garganta.

—Pare! —Tallys exclamou, se debatendo contra os guardas. —Solte ela!

Kallias me prendeu contra a parede, me fazendo fechar os olhos ao sentir a pele da sua mão queimar a minha. Tallys derrubou os guardas que o seguravam, fazendo os outros irem pra cima dele e o derrubarem no chão.

—Alita! —Exclamou, tentando se soltar, enquanto eu começava a me debater, sentindo minha pele queimando e meus pulmões se fechando aos poucos.

Minha mente pesou e minhas pálpebras tremeram. Tallys ainda estava gritando coisas e chamando por mim. Mas minha mente não conseguia assimilar mais nada. O aperto de Kallias se tornou doloroso, enquanto sua expressão mostrava o quanto ele estava gostando de fazer aquilo comigo. Minha garganta estava queimando. Queimando por conta das chamas presentes nos olhos do elemental do fogo.

A parede explodiu ao nosso lado. Kallias me soltou, enquanto todos íamos para chão quando as pedras e destroços despencaram sobre nós. Meu corpo se chocou contra o chão firme, enquanto minhas mãos se fechavam ao redor da minha garganta, sentindo a pele sensível queimar em contato com o ar frio da prisão.

A poeira se ergueu, deixando praticamente impossível ver ali. Eu fui puxada pra cima, enquanto tiros cortavam o ar, gritos ecoavam por cada canto e corpos caiam nos meus pés. Kallias me puxou para sua frente, agarrando meus cabelos e segurando minha garganta uma segunda vez.

Armas estavam apontadas para todas as direções. Guardas estavam caídos por cada canto, enquanto Lila e Tallys estavam livres, no meio de um grupo de contrabandistas. Todos eles usando máscaras douradas que cobriam todo seu rosto e se assemelhava a uma raposa. Os guardas que ainda estavam de pé carregaram as armas, enquanto Kallias dava um passo em direção a porta atrás de nós, pronto para fugir e me arrastar com ele.

Um deles deu um passo à frente. A máscara brilhou sobre a luz das chamas das tochas.

—Se não quiser levar um tiro no meio da testa, eu sugiro que solte a minha irmã. —Cal puxou a máscara, revelando seu rosto, enquanto erguia a arma e apontava na nossa direção.



Continua...

Os Domínios do Deserto Onde histórias criam vida. Descubra agora