Capítulo 18: Laço de parceria.

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Peguei as adagas e prendi no cinto da calça de couro preta, antes de colocar a jaqueta e cobrir elas, assim como a pistola que estava do outro lado. Tallys estava me encarando, sentado na ponta da minha cama, enquanto roía as unhas sem parar.

—Vai fazer isso, mesmo com a proibição do Cal? Seu irmão? —Indagou, e eu lancei um único olhar pra ele, sem qualquer emoção. Tallys gemeu, afundando na cama e se jogando para trás de forma teatral. —Nós vamos morrer.

—Nós vamos salvar o mundo. —Rebati, vendo ele pressionar os lábios em reprovação. —Você não é obrigado a ir. Pode ficar aqui, ajudar as pesquisas de Lila sobre aquelas criaturas. —Abri um sorriso pra ele. —Ou pode ir se encontrar com Breno de novo.

Tallys se sentou na cama no mesmo instante, me encarando com uma expressão confusa e ao mesmo tempo preocupada. Arqueei as sobrancelhas, sabendo que tinha acertado em cheio na frase, já que ele estava claramente sem fala.

—Vai me contar o que está rolando? —Indaguei, lançando um sorriso fraco a ele. —Ou devo presumir que nossa amizade é uma farsa?

—O que? —Ele ficou de pé, parecendo chocado. —Eu sou seu amigo de verdade. Está brincando?

—Não, mas você parece que sim. —Rebati, pegando a espingarda que estava sobre a mesa. —Sabe, ainda me lembro da frase de Sallow. A mesma que Breno costuma usar pra reclamar dos deuses inferiores. Ainda estou tentando entender o que isso significa. E ver você saindo de fininho pra encontrar Breno, me deixou ainda mais confusa, Tallys. —Me virei pra ele, soltando o ar com força. —Vai me explicar o que está rolando?

—Qual é, Alita, eu não tenho nada a ver com o sumiço da magia. —Resmungou, fechando a cara.

—Eu não disse que tinha. Estou perguntando a você o que está rolando. —Afirmei, vendo a expressão dele se tornar ainda mais dura, de uma forma que deixava Tallys com o ar mais sombrio, como normalmente os vampiros tinham.

—Eu não gosto do Breno. Nem um pouco. Mas preciso da ajuda dele pra encontrar uma pessoa. —Falou, curvando os lábios em frustração. —A alguns meses, comecei a sonhar com a minha parceira. Você conhece a historia do laço de parceria dos vampiros. Sabe como é raro alguém conseguir encontrar seu parceiro ou parceira.

—Você não sabe quem ela é? —Indaguei, vendo ele negar com a cabeça.

—Os sonhos são rápidos e vagos. Sempre vejo o interior de um quarto, cheio de objetos e caixas, então a silhueta dela. Sempre acordo quando chego perto de ver seu rosto. —Ele começou a andar pelo quarto, parecendo mais frustrado ainda. —Eu andei por Solaris inteira, tentando acha-la. Mas depois de um tempo, cheguei a conclusão que ela não é daqui, pro meu azar.

—E onde Breno entra nisso?

—Ele me viu procurando por ela, pedindo informações sobre ela, com as coisas que eu lembrava ter visto de relance nos sonhos. Ele adivinhou que era minha parceira e se ofereceu pra me ajudar a acha-la. —Tallys parou, olhando pra mim com os ombros encolhidos. O ar duro já havia ido embora. —Era isso, tá legal? Ele está tentando usar a magia das bruxas pra descobrir de onde ela é.

—De graça? —Fiz uma careta. —Ele está fazendo isso de graça?

—Não, ele... —Nos dois olhamos para a porta do meu quarto quando ela se abriu.

Meri passou por ela, com a respiração ofegante e o rosto vermelho, como se tivesse corrido. O que eu tinha certeza que sim, já que seus cabelos estavam bagunçados e o lenço violeta estava enrolado no seu pescoço, deixando os cabelos a mostra.

—Cal está indo a torre das estrelas agora. Se quer entrar na prisão, o momento é esse. —Afirmou, depois de tomar folego.

Olhei para Tallys, vendo ele engolir em seco.

[...]

Meri nos guiou pelos corredores do palácio, encontrando os caminhos livres até a sala dos espelhos, para que ninguém indesejado nos encontrasse pelo caminho e corresse para avisar Cal. Mas eu esperava que ele se demorasse na torre das estrelas, com o que quer que fosse fazer lá.

Meri puxou as chaves que estavam escondidas entre as camadas do vestido, antes de encontrar a certa e enfia-la na porta, para abrir a tranca. Toquei seu ombro quando percebi seus dedos trémulos demais.

—Você está bem, Meri? —Indaguei, vendo ela me olhar com os olhos arregalados.

—Estou. Só um pouco nervosa. —Ela abriu um sorriso amarelo. —Não estou acostumada a quebrar as regras.

—Sinto muito. Eu poderia ter dado um jeito sozinha. Não precisava se arriscar. —Afirmei, vendo ela balançar a cabeça em negativa no mesmo instante.

—Não, eu quero ajudar. Sei que está fazendo isso para recuperar a magia. Então eu vou ajudar no que puder. —Afirmou, com um ar determinado que me surpreendeu. Sorri pra ela, entrando na sala quando a mesma abriu a porta. Tallys entrou atrás de mim, encarando os espelhos que refletiam nós três.

—Vou trancar a porta de volta e devolver a chave a sala de Cal. —Me voltei para Meri, assentindo, antes de ela nos lançar um sorriso encorajador. —Boa sorte.

Então ela se foi, fechando a porta e a trancando. Olhei para Tallys, sabendo que agora não tinha mais volta. Puxei o lenço vermelho que estava no meu pescoço e passei pelos meus cabelos escuros, observando minha visão pelo espelho, antes de erguer a outra parte e cobrir meus lábios, até meu nariz.

—Lembre-se...

—Não beber o sangue deles... já sei, já sei! —Tallys começou a se aproximar de mim com um ar mais casual e sutil, com os olhos se tornando uma cor muito viva de vermelho. —Mas... não posso prometer nada, amor.

—Tallys! —Alertei, quando nós dois paramos na frente do espelho. —É pra apagar eles, não matar e muito menos transformar.

—Sem graça. —Resmungou, ajeitando as mangas da camisa, como se estivesse se preparando. —Um vampiro não pode nem dar umas mordidas por aí mais.

Soltei uma risada nervosa, agarrando a mão de Tallys e o puxando para dentro do espelho, tocando o chão da prisão novamente. E antes que qualquer guarda perguntasse algo ou erguesse as armas, Tallys já havia desaparecido do meu lado.


Continua...

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