Me aproximei ainda mais do elfo sob o sofá. Seu rosto estava pálido e os ferimentos do corpo cobertos por curativos. Sua boca ainda se movia sem parar, silenciosamente repetindo aquelas palavras.
—Acha que ele está delirando? —Tallys estava do meu lado em um segundo, fazendo uma careta enquanto encarava o elfo.
—Pode ser. Eu não sei. —Lila deu a volta, indo em direção a pequena cozinha. —E o sangue dele?
Tallys se curvou, parecendo procurar algo no cheiro dele, antes de ficar ereto e se afastar, coçando o nariz.
—Não tá limpo. —Afirmou, girando a cabeça pra me olhar. —O que vai fazer agora?
—Não tenho muito o que fazer em relação a isso. Tenho que torcer pra que ele melhore. —Murmurei, encolhendo os ombros. Tallys saiu de perto dele quando Lila voltou com uma caneca fumegante, erguendo a cabeça do elfo e dando o líquido na boca dele.
—Vou continuar dando poção de cura e fazendo o possível. Mas os ferimentos estão estranhos. —Comentou, soltando a caneca em uma mesinha do sofá, antes de puxar um dos curativos, revelando um dos ferimentos maiores. Prendi a respiração ao sentir o cheiro que surgiu, antes de ela o cobrir. —Sinceramente? Já cuidei de muitas pessoas feridas. Nunca vi algo como esses ferimentos pelo corpo dele.
—Ainda está votando nos peregrinos? —Tallys indagou, me fazendo morder o lábio inferior com força.
—Não sei. —Olhei pra ele, pensando no que fazer. —Pode me levar até as montanhas?
—Agora? —Ele pareceu confuso. —Quer que eu atravesse parte do deserto agora?
—Sim? —Encolhi meus ombros, esperando ouvir um "não". —Quero encontrar o antigo guarda que trabalhava pra mim, que foi ferido pelo peregrino. Ele se aposentou depois do incidente. Eu não soube como foi a recuperação dele.
—O que pretende com isso? —Tallys indagou, cruzando os braços na frente do corpo. —Amor, não quero ser estraga prazeres, mas não acho que vai conseguir desvendar o sumiço da magia sozinha.
—Eu não vou desvendar o sumiço da magia. Eu vou trazer a magia de volta. —Segurei os ombros dele, vendo-o cerrar os olhos. —E eu não estou sozinha. Estou com você. —Afirmei, abrindo um sorriso largo pra ele.
Tallys gemeu, revirando os olhos.
—Espertinha. —Murmurou, enquanto eu me voltava para Lila, que tinha as sobrancelhas erguidas.
—Então é verdade? —Ela mordeu o lábio. —Já era a magia? Isso pode causar o colapso do nosso mundo.
—Sim, sim, eu sei. —Soltei o ar com força. —E é por isso que vou descobrir quem a roubou e trazê-la de volta.
[...]
Tallys atravessou o deserto comigo em alguns minutos, depois de resmungar sobre o quão pesada eu estava. No meio do dia, quando o sol estava no topo, nos dois estávamos na frente do grande portão escavado sob as paredes da montanha, erguido por pilastras altas, repletas de desenhos de estrelas.
—Srta. Aziz! —Um guarda se aproximou, acenando com a cabeça e olhando de relance para Tallys. —Não estávamos esperando sua visita.
—Vim apenas encontrar um velho conhecido. —Afirmei, enquanto caminhava junto a ele, em direção ao imenso portão que se abria.
A cidade sob a montanha foi construída no interior das montanhas de Solaris, por humanos que queriam fugir do calor escaldante do deserto e das areias traiçoeiras, durante a guerra dos peregrinos contra os deuses. Hoje, depois de tanto tempo, ela abriga todos aqueles que desejam descansar, depois de séculos de serviço aos deuses.
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Os Domínios do Deserto
FantasyNas terras do continente Esmeralda, muito se fala sobre os deuses capazes de ditar os dias e as noites, controlando o sol, a lua e as estrelas. Mas outros seres caminham por aquelas terras, reverenciando-os e convivendo com os deuses inferiores, que...