Capítulo 47: Inferno congelado.

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Fiquei imóvel, sentindo meu coração martelando no peito, enquanto aquela coisa deslizava pela minha perna, se enrolando cada vez mais forte na minha coxa, deixando claro sua presença ali. O corpo de Jacks que estava tenso relaxou em um piscar de olhos e sua mão que estava na minha garganta agora tinha um toque mais gentil, que eu não estava acostumada.

—Jacks? —Agarrei os ombros dele, sentindo meu sangue esquentar cada vez mais. Só que agora eu não estava tão furiosa quando antes. Estava apenas tentando absorver a intensidade daquilo que estava acontecendo. —O que está fazendo?

Ele soltou uma respiração pesada, com o rosto entre meus cabelos, deslizando até que seus lábios roçassem na minha orelha, fazendo meu corpo inteiro estremecer contra o dele.

—Eu desculpo você. —Sussurrou, enquanto eu engolia todo o ar preso na minha garganta, enquanto o polegar dele fazia círculos lentos e preguiçosos na minha garganta. —Vamos entrar no meu território agora. Espero que entenda quando eu digo que não gosto de dividir as coisas, Alita. —Os lábios dele deslizaram até minha bochecha, me causando um calafrio. —Então quando quiser parar de brincar comigo, sabe o que fazer, não é?

Soltei uma respiração rápida, sentindo aquela coisa apertar de forma possessiva a minha coxa, fazendo meus músculos ficarem rígidos. Fechei meus olhos, tentando respirar ao sentir os lábios dele fazendo o contorno da minha mandíbula, como se ele soubesse exatamente o que queria.

—Srta. Aziz, nós já chegamos a Atlantis. —Alguém bateu na porta, fazendo meus olhos se abrirem. Meu corpo ficou tão frio como gelo quando percebi o que eu e Jacks estávamos fazendo ali.

—Hora de conhecer as minhas terras, vossa graça. —Murmurou, finalmente soltando meu pescoço e se afastando. Olhei para baixo na mesma hora, mas não havia nada na minha perna. Apenas a lembrança do que havia acontecido.

Jacks saiu do quarto, me deixando parada ali, com o corpo pegando fogo e o coração acelerado. Caminhei para frente de um espelho que havia ali, puxando o lenço que agora estava enrolado no meu pescoço. Soltei um suspiro ao perceber que minha pele estava macia e limpa, sem qualquer marca de queimadura que Kallias havia deixado.

Mas a sensação era de que os dedos de Jacks ainda estavam ali. E a sensação me deixava ainda mais acesa possível.

[...]

Minha última noite no navio foi mais conturbada do que eu esperava. Mochilas foram arrumadas. Armas foram carregadas. Alertas foram dados. Quando atracamos, senti o frio daquelas terras perfurarem até meus ossos. Tallys estava do meu lado quando comecei a descer a rampa que dava para o deck congelado e cheio de neve. Jacks estava na floresta mais à frente, averiguando a caverna que teríamos que passar.

—Merda de frio! —Olhei para trás, vendo os cabelos roxos de Stella ainda mais evidentes naquela imensidão branca, enquanto ela enfiava a mochila nas costas e escondia Lori dentro do casaco pesado que estava usando. —Pra quem viveu em um deserto, isso aqui parece um inferno congelado.

—O que está fazendo? —Indaguei, enquanto Tallys se afastava, provavelmente querendo dar espaço a Stella.

—Indo com vocês, ué. —Ela enfiou uma touca na cabeça, fazendo uma careta com o vento frio que nos atingiu.

—Pensei que iria embora com seus homens.

—Pois é, eu também. Mas alguém precisa ir junto para evitar que vocês se matem. —Ela deu de ombros, enquanto eu me segurava para não sorrir. —E teoricamente falando, faço parte  do círculo dos impostores. Pelo menos é o que estão dizendo por aí agora.

—Acho que gosto desse nome. —Comentei, me encolhendo dentro do casaco, vendo a sombra de um sorriso passar nos lábios dela.

—Eu também. —Ela indicou o caminho com a cabeça. —Como nossa líder, deveria ir na frente.

Revirei meus olhos e isso fez Stella finalmente rir e eu também. Segui o caminho congelado, indo atrás de Tallys e Jacks.

[...]

A passagem pela caverna foi a mais tranquila possível. Pelo menos a única coisa com que precisamos nos preocupar foram morcegos furiosos por conta das chamas das tochas que estávamos usando. Mas a presença dos vampiros pareceu assustar eles. A maioria dos homens atrás de nós estava tremendo de frio, assim como eu e Stella. Jacks parecia mais do que familiarizado com o frio intenso. Tallys e os outros vampiros pareciam não sentir tanto o frio como nós.

Talvez eu estivesse com um pouco de inveja deles nesse momento, porque estava me revirando dentro do meu saco de dormir, tentando me aquecer naquele pequeno espaço limpo entre as árvores onde havíamos montado acampamento. Fogueiras estavam espalhadas por todos os lados, mas nem isso parecia espantar o frio. Meus músculos estavam doloridos pelas horas que passamos andando naquelas terras. Mas Jacks nunca respondia se estávamos longe ou perto do nosso destino.

Tallys estava grudado em mim, tentando me ajudar a me aquecer. Mas ele estava em alerta, rígido e olhava para algo acima da minha cabeça a cada segundo, sem conseguir se concentrar na tarefa de dormir ali.

—Tudo... tudo bem. —Gaguejei, vendo ele olhar pra mim. —Pode ir. Eu entendo.

—Eu só... —Ele hesitou, olhando para onde Stella estava deitada, tremendo de frio dentro do seu saco de dormir.

—Ela é sua parceira. Está tudo bem. Pode ir.

Tentei sorrir, mas o frio me fez encolher ainda mais. Tallys deixou um beijo demorado na minha testa e saiu, levando embora seu calor aconchegante. Olhei por cima do ombro, vendo Tallys se enfiar dentro do saco de dormir de Stella. Ela não pareceu se importar com a proximidade dele naquele momento, já que grudou no corpo dele, desesperada por um pouco de calor.

Escondi meu nariz, tentando me aquecer sozinha. Mas a cada onda de calor das fogueiras, uma onda de frio vinha e fazia meus ossos doerem. Parecia que eu estava sendo congelada de dentro pra fora. Preferia mil vezes o calor escaldante do deserto de Solaris.

Abri os olhos quando senti a neve se movimenta do meu lado. Jacks havia acabado de pousar ali, olhando na direção que Stella e Tallys estavam, antes de caminhar na minha direção. Abri espaço quando ele se enfiou ao meu lado, naquele pequeno espaço do saco de dormir. Me enfiei entre os braços dele, quase gemendo ao sentir o quão quente o corpo dele estava. Suas asas se fecharam ao meu redor, assim como seus braços, me aconchegando como se eu estivesse dentro de um casulo. O calor me abraçou e eu relaxei pela primeira vez naquela noite fria em Atlantis.

—Obrigada. —Sussurrei, escondendo meu rosto no peito dele, sentindo sua respiração pesada, enquanto seus braços ficavam mais firmes ao redor da minha cintura.

Pela segunda noite seguida, aquela coisa se enrolou na minha coxa, tão possessiva e carinhosa.

—Me conte algo sobre você. —Pedi, já sendo engolida pelo sono.

Jacks ficou em silêncio por longos segundos e eu pensei que ele iria me ignorar. Mas ele suspirou, encostando o queixo no topo da minha cabeça antes de me contar uma história.



Continua...

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