Capítulo 7: Séculos atrás.

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Observei Tallys caminhar pelo meu quarto, mexendo no meu armário, onde estavam todos os meus lenços. Eu estava sentada no tapete, de frente para a janela onde eu podia ver toda cidade de Solaris.

—Tudo bem. —Ele pegou um lenço vermelho e passou pelo próprio pescoço. —Vamos recapitular. Temos três mortes em Montear, três mortes em Terraria e quase três mortes em Solaris. —Ele olhou pra mim e eu assenti em concordância. —Qual é a do número três?

—Estou me fazendo essa mesma pergunta. Não parece ser só coincidência. —Afirmei, vendo Tallys passar o lenço pela cabeça, enquanto andava pelo quarto sem parar. —E Sallow falando aquela frase também foi super estranho.

—Ah, nos dois sabemos que eles não gostam de deuses inferiores. Não deveria ficar surpresa. —Tallys murmurou, me fazendo negar com a cabeça na mesma hora.

—Mas é a mesma frase que Breno costuma dizer por ai. Deuses inferiores, sempre tentando ser mais do que são. —Engoli em seco, balançando a cabeça negativamente, enquanto mordia o lábio. —Como ele pode dizer a mesma frase de um bruxo que mora em outro território?

—Pensando nesse lado. —Tallys parou de caminhar bem na minha frente, tampando a visão da cidade. —Você não falou pra eles dos peregrinos?

—Eu ia, mas Kallias me atrapalhou na mesma hora e os deuses acabaram indo embora. —Suspirei, frustrada. —Estou tentando juntar as peças desse quebra cabeça pra ver se algo faz sentido.

Tallys voltou a andar, não conseguindo ficar parado por um minuto sequer. Observei ele ir até o meu imenso espelho na parede e começar a ajeitar o lenço na sua cabeça, o que me fez rir.

—Tallys! —Mordi o lábio, vendo ele se voltar para mim com as sobrancelhas erguidas. —Pode levar a sério? Estou tentando desvendar o sumiço da magia aqui.

—Ah, perdão, amor. Você sabe que eu não consigo ficar parado. —Ele riu, puxando o lenço para o seu pescoço de novo. —Certo, vamos começar pelos lideres dos círculos. Por que eles teriam motivos para roubar a magia?

Ponderei a pergunta dele, enquanto encarava a cidade pela varanda. Eu não conhecia muito sobre lobos ou elementais. Mas como os deuses inferiores, eles estavam no topo de cada território. Mas nem sempre foi assim.

Séculos atrás, quando os peregrinos quiseram a magia dos deuses para si, os elementais ficaram ao lado deles de inicio. Eles concordavam que a magia deveria ser de todos e não apenas dos deuses. Nessa época, todos os deuses controlavam alguma magia e o continente era um único território. Mas para proteger a magia, todos eles se uniram, concentrando os três poderes em três deuses únicos.

Assim os deuses inferiores surgiram e os três grandes deuses se ergueram. Peregrinos uniram-se a magos, feiticeiros e elementais, em uma última tentativa de conseguir a magia para si. Mas quando os elementais viram que seria impossível vencer, quando todos os outros seres estavam ao lado dos deuses, eles trocaram de lado e se juntaram a nós. Vampiros, fadas, feéricos, bruxas, fadas e todos os outros, contando ainda com os dragões da prisão.

A guerra acabou com a exclusão dos peregrinos, magos e feiticeiros para Atlantis e a divisão do território para cada raça, assim como o poder da lua, das estrelas e do sol, ditando as regras, os dias e as noites. Era uma nova fase do continente Esmeralda. E agora tudo está novamente ameaçado.

—Os elementais não ficaram do nosso lado na guerra contra os peregrinos no passado. —Afirmei, erguendo os olhos para Tallys. —Não sei se Kallias ousaria se juntar aos peregrinos, assim como seus ancestrais fizeram. E Sallow? —Mordi o lábio e dei de ombros. —Ele odeia deuses inferiores, acha que não deveríamos ser chamado de deuses ainda.

—Babaca. —Tallys resmungou. —Em ordem de suspeitos temos...

—Peregrinos em primeiro. —Afirmei, vendo ele gesticular com a mão para eu prosseguir. —Os elementais em segundo e os lobos em terceiro.

—E em quarto?

—Minha raça. —Encolhi os ombros. —Não posso ignorar que alguém daqui possa ter feito isso.

Tallys fez uma careta, olhando para o espelho de novo. Ele parou alguns segundos, como se estivesse lembrando de algo, já que seu rosto se curvou em confusão. Abri a boca para perguntar o que era, mas a porta do meu quarto se abriu e Cal passou por ela.

—Ah! —Ele revirou os olhos ao ver Tallys no meio do meu quarto, brincando com o lenço no pescoço. —Claro que ele está aqui.

—Olá, querido. —Tallys acenou com a mão pra ele, me fazendo morder o lábio para não rir. Cal fez uma careta e se voltou para mim com as sobrancelhas erguidas.

—Algumas das pessoas desaparecidas já foram encontradas. —Murmurou, olhando de relance para Tallys. —Os corpos dos dois elfos já foi enviado para Montear também. —Cal engoliu em seco. —Acho que deveria saber, mas a historia da magia já se espalhou. Todos estão se perguntando se é verdade.

—Ah, merda! —Gemi em frustação. —Quem vasou isso?

—Não faço ideia. Só sei isso chegou ao Breno e ele fez questão de espalhar para todos. —Cal afirmou, me fazendo revirar os olhos. Era obvio que tinha que ter dedo do Breno nisso tudo. —As pessoas estão querendo respostas e... estão preocupadas com as consequências. Acham que outra tempestade de areia pode atingir a cidade.

—Sim, imagino. —Me levantei do chão, passando a mão na testa, enquanto pensava no que fazer. —Isso é possível, não vou negar. Mas estou tentando ter certeza que tenho tudo sobre controle. Acho que vou surtar se não pensar positivo.

Encarei Tallys, vendo ele apertar o lenço ao redor do rosto, parecendo tão desanimado quanto eu. Me voltei para Cal, vendo que ele ainda estava ali, me encarando como se quisesse falar mais alguma coisa, mas não soubesse como.

—O que foi, Cal? —Indaguei, fazendo uma careta.

—Hally e Winder foram até a torre das estrelas, enquanto você se encontrava com os deuses. Meri os viu juntos. —Cal pareceu ficar sem jeito, já que desviou os olhos de mim. —Ela os seguiu e tentou descobrir o que eles estavam fazendo. Aparentemente eles estão armando para tirá-la da... da liderança de Solaris e do círculo do deserto.



Continua...

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