**Alerta de gatilho** (Morte, violência e abuso)
......Procurei Tallys por todo navio, mas ele havia simplesmente evaporado. Jacks estava nos céus, fazendo uma varredura pelas águas congelantes que delimitavam o território de Atlantis. Conversei o mais rápido que conseguia com os contrabandistas que trabalhavam para Cal, tentando entender como aquilo funcionava. Antes eu fazia as coisas no decorrer das leis. Agora seria completamente e irrevogavelmente contra elas.
Me sentei na cama da cabine que havia ocupado naquele navio. Deslizando os dedos pelo amuleto que Cal havia me dado. Não entendia o peso daquela peça até algumas horas atrás. Não entendia o peso a morte até aquilo de fato acontecer com meu próprio irmão.
—Srta. Aziz? —O rapaz que estava parado no batente da porta chamou, parecendo hesitante. —Eu e os outros homens gostaríamos de desejar nossos sentimentos. Sentimentos muito pela sua perda. Cal era importante para todos nós.
—Obrigada. —Abri um sorriso fraco, balançando a cabeça, pensando no tanto de coisas que eu não sabia sobre meu próprio irmão. —Quem eram os outros dois homens que perdemos lá?
—Um vampiro e um deus inferior. Ambos caíram nos túneis de água quando o chão desabou. —Esclareceu, coçando a garganta. —Quais as próximas ordens agora?
—Tem alguma possibilidade de alguns de vocês voltarem e... não sei, tentarem encontrar o corpo do meu irmão? —Indaguei, erguendo os olhos para o rapaz que eu julgava ser um lobo, pela fisionomia e os músculos fortes. —Gostaria de fazer um funeral pra ele. Mas não posso voltar até lá. Ainda estou sendo procurada e não acho que terei chance de sair viva da próxima vez que eles me pegarem.
—Nos faremos isso. —O rapaz balançou a cabeça. —Mandarei os melhores homens atrás do corpo.
—Tudo bem. O restante de vocês pode vir conosco para Atlantis. Ainda temos uma magia para encontrar. —Afirmei, esfregando minhas bochechas. —Era só isso. Obrigada.
Ele assentiu e saiu, parecendo tenso demais na forma de andar. Olhei para o lado quando Lori caiu na minha cama, soltando um pequeno papel no meu colo. Esfreguei a cabeça do furão, vendo ele me observar com os olhos muito grandes, antes de pegar o papel e ler o recato.
[...]
—Me chamou? —Indaguei, segurando o furão no meu colo, enquanto entrava na cabine de Stella, vendo ela sentada atrás da mesa, da mesma forma que eu havia deixado. Ela não olhou pra mim, mas seus lábios tremeram e seus olhos piscaram várias vezes, como se quisessem conter alguma coisa.
—Você me perguntou uma vez se eu conhecia um Yatori. Sim, eu conhecia. —Ela engoliu muito lentamente. —O nome dele era Sam. Ele conseguia usar a magia para se transformar em uma águia. Era inteligente e muito forte. Tinha a pele tão dourada como as areias de Solaris. E os olhos tão brilhantes como as estrelas daquelas terras áridas. Morávamos na cidade sob a montanha. Achávamos que era o lugar mais seguro pra ele aqui nesse mundo. Ele raramente se transformava. Quase... quase nunca. —Soltei Lori no chão, olhando fixamente para Stella, que continuava encarando um ponto fixo no chão. —Tínhamos acabado de nos casar. Era um conto de fadas, entende? Iríamos viver pra sempre um com o outro, felizes. Eu achava que meu amor por ele poderia superar qualquer coisa. Eu o amava tanto.
"Mas então em um dia aqueles caras apareceram. São como generais, trabalhando para os grandes deuses de todos os mundos. Caçam todos os Yatoris e os matam sem pensar duas vezes. Não foi diferente com o Sam. Nós conseguimos fugir da primeira vez. Fugimos para o deserto, nos escondendo em qualquer buraco que encontrávamos lá. Mas não fomos muito longe.
O problema desses caras é que você não pode matá-los. Se cortar a cabeça de um, ele vai renascer e voltar para terminar o serviço. Os deuses, Alita, são as criaturas mais perigosas que você pode imaginar. Não estou falando de deuses como esses que vivem aqui nas nossas terras. Mas deuses de verdade. Aqueles que sentam em tronos e governam tudo e todos. Eles criam monstros mais perigosos do que aquelas feitas com magia e sangue.
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Os Domínios do Deserto
FantasiNas terras do continente Esmeralda, muito se fala sobre os deuses capazes de ditar os dias e as noites, controlando o sol, a lua e as estrelas. Mas outros seres caminham por aquelas terras, reverenciando-os e convivendo com os deuses inferiores, que...