Desci de Tallys, vendo a grande construção da torre na minha frente. Estava repleta de guardas ao redor, já que agora não havia tempestade de areia que precisassem se proteger.
—Eu nunca entrei aqui. —Tallys murmurou atrás de mim, quando passamos pelos guardas e entramos, atravessando a porta de madeira e chegando ao interior, ainda cheio de areia por conta da última noite.
—É um lugar sagrado. —Afirmei, vendo ele fazer uma careta. —Fazemos festas aqui, pra apreciação das estrelas e reverencia aos grandes deuses. Não me surpreende você nunca ter vindo.
—Você nunca me convidou. Eu deveria me sentir ofendido já que sou seu melhor amigo. —Tallys afirmou, enquanto subíamos as escadas até a sala das constelações.
—É uma festa para toda a população, Tallys. Você nunca veio porque nunca quis vir de fato. —Rebati, enquanto Tallys formava um biquinho com a boca.
Abri a porta que dava para a sala, encontrando tudo o mais inquietante possível. Tallys entrou atrás de mim, fechando a porta enquanto eu ia até o anel de magia, ainda no topo do teto aberto, mas apagado.
—Feche as janelas pra mim, por favor. —Pedi, enquanto puxava a alavanca para baixo, fazendo o anel prateado no topo começar a descer até o suporte de madeira no chão, se encaixando nele. Me aproximei dele, vendo o suporte de madeira, como um caldeirão, cheio de água no centro do anel de magia.
As águas ali guardavam a magia das estrelas. Eram de um tom azul cintilante, parecendo repleta de estrelas. Quando o anel estava no topo da torre, trazia a magia do céu até as águas, para que ficassem protegidas ali. Mas agora a água estava cinzenta e vazia, sem uma única sombra de magia.
—O que foi? —Tallys se aproximou, olhando para o anel e as águas ali. —Esse é o anel de magia? —Ele contraiu os lábios. —Não me parece nada magico.
—Porque não está. Tem alguma coisa errada. —Afirmei, puxando a alavanca para cima de novo, vendo o anel subir até o topo da torre. Mesmo durante o dia, a magia das estrelas deveria fluir sobre ele. Mas nada aconteceu quando o telhado se abriu para o anel, revelando o céu claro. —A magia não está fluindo. Ontem no meio da tempestade ela veio e desapareceu. Pensei que fosse por conta do que estava acontecendo. Mas ela não está mais aqui.
—E o que isso significa? —Tallys indagou, parecendo confuso demais. —É um problema muito grande?
—Ah, é meu pior pesadelo, Tallys. —Gemi, sabendo que estava prestes a entrar em um mar cheio de tubarões. —A magia das estrelas cessou. Isso não deveria acontecer. Isso não deveria ser nem possível.
[...]
Tallys parou de correr quando chegamos a entrada do palácio. Desci das costas dele, ajeitando o lenço azul sobre meus cabelos de novo, até eles estarem completamente escondidos. Tallys estava parado olhando para as vielas de Solaris a nossa frente.
—Tenho cinco minutos. —Afirmei, vendo ele se voltar para mim e arquear as sobrancelhas. —Pra me contar porque está roubando sangue.
—Er... —Ele olhou para frente e abriu um sorriso largo. —Caramba, acabei de ver a minha avó. Olha ela está me chamando. —Murmurou, já começando a se afastar de mim, me fazendo revirar os olhos. —Estou indo, vovó. Estou indo.
—Você não tem avó viva, Tallys. —Afirmei, mas ele já havia dado um beijo na minha bochecha e desaparecido. —Droga!
Me virei e entrei no palácio, vendo o movimento de deuses inferiores por ali. Subi direto até a sala de reuniões, repassando na minha cabeça tudo que diria ao circulo do deserto. Mas eu estava ferrada. Eles nunca gostaram de me ter no comando. Sempre deixaram claro que preferiam meu irmão. E agora eles teriam um bom motivo para reclamar.
Abri a porta, parando por alguns segundos e engolindo em seco ao ver que eles já estavam ali. Entrei e fechei a porta, tentando não transparecer meu nervosismo. A sala circular estava iluminada pelo sol que entrava pela varanda do outro lado, onde as cortinas balançavam de leve pelo vento do deserto.
No centro de tudo, ao redor de uma mesa de madeira, estavam os outros três membros do circulo do deserto. Hally, uma bruxa de meia idade, com cabelos ruivos, sardas pintando as bochechas abaixo dos olhos ambar.
Winder estava a sua direita. Era um vampiro de 300 anos, com pele dourada e olhos escuros tingidos de vermelho. E por último, a esquerda de Hally, estava Kardan, o representante dos humanos. Tinha 40 anos, pele morena escura e olhos azuis como o céu claro. E era, entre os outros, o mais gentil e amigável.
—Senhores, senhora! —Acenei para ambos, vendo Cal no canto da sala, parecendo tão nervoso quanto eu. —Achei que ainda não estariam aqui. Perdoem-me se os fiz esperar.
Me sentei, vendo os olhos dos três sobre mim. Engoli com um pouco de dificuldade, observando Meri surgir e me servir com chá, abrindo um sorriso pequeno, como se quisesse me passar confiança.
—Onde a senhorita estava, se me permite perguntar? —Hally indagou, se curvando sobre a mesa.
—Nada parece ser mais importante que uma reunião com o circulo, depois de uma tempestade daquela. —Winder completou, enquanto eu abria um sorriso nervoso e bebericava meu chá.
—Lamento informar a vocês, mas acho que temos problemas muito maiores que a tempestade de areia. —Afirmei, tomando coragem para falar. —Acho que na verdade, é o provável motivo para termos sido atingidos por ela na última noite, depois de tantos anos.
—O que está querendo dizer? —Kardan indagou, franzindo a testa.
Olhei para minhas mãos, pressionando meus dedos uns nos outros, enquanto soltava o ar com força.
—A magia das estrelas cessou. Eu havia checado antes de vir aqui, para ter certeza. Mas sim. — Ergui os olhos para os três membros do circulo. —A magia sumiu.
Um silencio recaiu na sala, fazendo meu estômago se revirar. Kardan me encarou com os olhos arregalados, enquanto Hally e Winder explodiam em acusações sobre tudo ser culpa minha. Me encolhi na cadeira, encontrando os olhos de Cal, confusos demais para serem explicados.
Continua...
VOCÊ ESTÁ LENDO
Os Domínios do Deserto
FantasyNas terras do continente Esmeralda, muito se fala sobre os deuses capazes de ditar os dias e as noites, controlando o sol, a lua e as estrelas. Mas outros seres caminham por aquelas terras, reverenciando-os e convivendo com os deuses inferiores, que...