Stella terminou de se vestir, respirando ruidosamente como se cada movimento doesse profundamente. Engoli o nó que se formou na minha garganta, sentindo o peso de todas aquelas palavras quando vi a tatuagem de águia que Stella tinha na parte de trás do ombro. Um pequeno lembrete de quem era Sam e de que ele existiu.
—Entendo o que o laço de parceria significa para os vampiros. Sei que ele é muito mais do que parece ser. —Ela esfregou as bochechas, tentando apagar a lembrança das lágrimas. —Sei o que significa porque eu o sinto profundamente dentro de mim. Sinto essa coisa estranha e mágica me puxando em direção a Tallys a cada momento que ele fica perto de mim. Sinto porque... porque algo dentro de mim está implorando por ele. Mas não posso fazer isso. —Ela olhou para si própria, com os lábios tremendo. —Não sinto atração por ninguém, Alita. Parei de sentir no momento que meu corpo virou um objeto. Fêmeas e machos... absolutamente nada. E eu tentei. Várias vezes. Noites casuais ou até mesmo fadas do sexo. Mas nada funciona. Você entende, não é? Não posso fazer isso com Tallys... Não posso ser parceira dele se nem ao menos sinto atração por ele. —Ela abraçou o próprio corpo. —Algo se partiu dentro de mim, Alita. Algo que eu não sei o que foi. Sei que o que fiz com Tallys foi errado. Mas não posso dar esperanças a ele. Foi melhor assim, acredite. Me importo com ele a ponto de saber que eu não sou o suficiente pra ele. Me importo a ponto de saber que Tallys merece alguém melhor do que eu. Não sou boa o suficiente pra ele, Alita. Então é melhor afastá-lo. Por mais que esse laço seja a coisa mais preciosa que existe entre nós dois, não posso prendê-lo a alguém vazia por dentro.
—Tallys te entenderia se soubesse. —Afirmei, vendo ela pressionar os lábios, balançando a cabeça negativamente. —Tallys entenderia. E ele ficaria do seu lado, Stella. —Ela voltou para cadeira atrás da mesa, pegando a garrafa de rum que estava ali, com o rosto desprovido de qualquer emoção. —Sinto muito por tudo que você passou. Sinto muito mesmo. Ninguém merece passar por isso.
Stella engoliu com dificuldade, muito lentamente, olhando pra mim por alguns segundos, antes de desviar os olhos.
—Pode me deixar sozinha agora, por favor? —Pediu, virando a garrafa na boca.
Hesitei por alguns segundos, mas assenti e virei as costas pra sair dali, sabendo que Stella provavelmente precisava de um tempo a sós depois de me contar todas essas coisas. Só de pensar em tudo que ela passou, meu estômago se revira por inteiro. E pensar que Cal a salvou disso, faz meu coração doer ainda mais.
Parei assim que sai da cabine e a porta se fechou atrás de mim, vendo Tallys parado bem ali, com a expressão mais triste possível. Um único olhar pra ele foi o suficiente pra saber que ele havia escutado a história toda. Intencionalmente ou não, ele ouviu. Ele sabe tudo que Stella contou pra mim. E posso ver a dor nos olhos dele. É como ver um coração se partindo por dentro.
—Tallys...
—Eu posso sentir o que ela sente... pelo laço. —Ele desviou os olhos de mim, engolindo em seco. —Vim aqui quando percebi que ela não estava bem. Não estava querendo xeretar, nem nada.
Balancei a cabeça, mordendo o lábio inferior com força.
—Você quer conversar? —Indaguei, percebendo que Tallys não conseguia se mover.
—Obrigada, amor. Mas acho que quero ficar sozinho agora. —Ele deixou um beijo na minha testa e então desapareceu de novo, me deixando sozinha ali, com o coração transbordando com todos os tipos de sentimentos possíveis.
Tallys merece tudo de melhor que existe nesse mundo. Mas Stella também merece. Assim como Cal também merecia. Mas o mundo tende a ser cruel demais.
[...]
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Os Domínios do Deserto
FantasyNas terras do continente Esmeralda, muito se fala sobre os deuses capazes de ditar os dias e as noites, controlando o sol, a lua e as estrelas. Mas outros seres caminham por aquelas terras, reverenciando-os e convivendo com os deuses inferiores, que...