Capítulo 25: Mercado negro.

914 186 40
                                    

As ruas estavam silenciosas e inquietantes, enquanto eu caminhava pelos becos e ruas escuras, tentando chegar ao endereço que Meri havia me passado e onde Cal provavelmente me aguardava. Em algum ponto da cidade, Jacks estava procurando por Tallys, e eu esperava que ele o encontrasse logo.

Entrei na rua estreita, me escondendo na escuridão quando um grupo de guardas humanos passou por ali. Quando eles já estavam fora de vista, caminhei rapidamente para o outro lado e me enfiei no beco escuro que dava para a parte de trás de uma loja de pedras preciosas. O ar gelado do deserto naquele momento era quase palpável.

A parte de trás da loja estava tomada pela penumbra, enquanto eu me escorava na parede e aguardava. O tempo parecia escorrer por meus dedos, quanto mais minha ansiedade crescia. As palavras de Jacks pairavam na minha mente como um alerta.

Ergui a pistola e mirei na direção da sombra que se movia do outro lado do beco, dando lugar a uma silhueta masculina coberta por uma capa e capuz. Cal olhou pra mim de olhos arregalados quando puxou o capuz da cabeça e me permitiu ver seu rosto.

—Alita. —Abaixei a arma, ao mesmo tempo que ele quebrava o espaço entre nós. Cal me puxou para um abraço apertado, acolhedor e protetor, enquanto beijava o topo da minha cabeça. —Fiquei tão preocupado com você.

—Eu estou bem. —Afirmei, me afastando para encarar os olhos dourados dele, que também estavam presentes em mim.

—Tallys me disse que você levou dois tiros e quase foi devorada por dragões. —Ele pressionou os lábios em negação. —Foi exatamente por isso que eu a proibi de ir e você mesmo assim foi. —Encolhi meus ombros, lembrando das últimas palavras dele antes de eu invadir a prisão. —Sua visita a prisão complicou bem as coisas, sabia? Todas as salas dos espelhos de todos os territórios estão fechadas até segunda ordem. Muitos guardas feridos. Os deuses estão uma fera.

—Sinto muito. Eu realmente precisava fazer isso. —Dei de ombros, vendo ele negar com a cabeça e soltar um suspiro pesado. —Pelo menos agora eu tenho uma pista de pra onde ir.

—Montear, é? —Ele fez uma careta, como se estivesse muito tentado a tentar me impedir de novo. Mas ele parecia entender que isso não me impediria de nada. —E o peregrino?

—Ele vai ser de grande ajuda, Cal. Foi ele quem rastreou a magia das estrelas até a casa do Breno.

—A qual você incendiou. —Cal murmurou, com o ar de reprovação. —O que fez pra ele te ajudar? Tallys não soube me dizer.

Quis rir daquilo, porque sabia que Tallys só queria evitar a parte irritada de Cal se soubesse o que eu fiz.

—Quer mesmo saber? —Ele assentiu, cerrando os olhos desconfiado. —Antes de qualquer coisa, quero que entenda que estou bem e que vou ficar bem. Jacks não vai tentar me matar nem nada do tipo.

—Alita... —Cal sibilou, esfregando a mão na testa.

—Fiz um acordo com ele. —Ele arquejou, fechando os olhos com força, enquanto se afastava de mim. —Mas vai dar tudo certo, Cal. Confia em mim, eu sei o que estou fazendo.

Ele ficou em silencio por alguns segundos, evitando olhar pra mim, enquanto averiguava a rua com atenção. Então ele se virou pra mim de novo, exibindo uma expressão frustrada e irritada, antes de negar com a cabeça.

—Eu espero que você realmente saiba o que está fazendo, Alita. Não vou tentar te impedir porque já sei que não adianta. —Cal se aproximou de mim, enfiando a mão no bolso da jaqueta, por dentro da capa. —Mas pelo menos vou tentar evitar que você seja pega.

—Ei, eu sei que está preocupado comigo, mas estou fazendo isso por todos nós. Precisamos achar a magia, você sabe. —Afirmei, tocado a mão dele. Cal ergueu os olhos até mim, parecendo infeliz.

—Eu sei. Mas isso não é uma obrigação sua, Alita. —Ele puxou um objeto de ouro, que continha a forma estranha de uma cabeça de raposa com duas armas cruzadas atrás. —Já que você resolveu quebrar as regras, acho que é um bom momento pra contar que eu costumava contrabandear coisas para os outros territórios pelo mercado negro. —Meu queixo caiu, enquanto ele se encolhia consideravelmente de vergonha. —Não vamos falar disso agora, está bem? É uma longa historia e não temos tempo. Conheço as rotas do mercado negro e pessoas chave que podem te levar até Montear.

—Eu não acredito. —Murmurei, vendo ele engolir em seco. —Você é um contrabandista?

—Teoricamente, não. Pelo menos não agora, já que eu tive que pegar o seu lugar no círculo do deserto, por livre e espontânea pressão, e isso atrapalhou os meus négocios. —Ele me lançou um olhar duro. —Mas sim, eu sou. Só... não vamos falar disso agora. —Repetiu, apontando para o objeto na minha mão. —Prenda isso na sua roupa, onde ninguém possa ver. Vai precisar dele em algum momento. —Fiz o que ele mandou, enfiando a mão por dentro da jaqueta e prendendo o objeto na minha camisa. —Quando chegar em Montear, vá até o rio central que corta todos os territórios, no mercado sobre as águas e procure um navio chamado pólvora. A dona é uma deusa inferior, uma contrabandista também. A conheço a um tempão. Fale pra ela sobre mim que ela ira ajudá-la.

Ele enfiou as mãos nos bolsos de novo, procurando alguma coisa, até tirar um saquinho de moedas e me estender. Segurei o mesmo, sentindo o peso do ouro nos meus dedos.

—Obrigada. —Afirmei, sentindo minha garganta começar a se fechar. —Sou uma péssima irmã, não é?

—Você descobre que eu sou contrabandista e ainda acha que é você a irmã ruim? —Ele riu, me puxando para um abraço apertado. —Você cuidou de mim, Alita. Todos esses anos. Estou tentando retribuir isso agora e te proteger. Por favor, tome cuidado, tá legal? O mercado negro não é um lugar seguro.

—Vou achar uma pedra magica lá e ir parar em outra dimensão? —Zombei, vendo ele soltar uma risada.

—Nada de pedras magicas pra você. Só tome cuidado. —Ele deixou um beijo na minha testa e se afastou para me encarar. —Lester Kripes. Ele é um vampiro dono de uma loja de tapetes no lado oeste da cidade. Vá até lá. —Cal começou a se afastar. —Ele tem uma sala de espelhos.


Continua...

Os Domínios do Deserto Onde histórias criam vida. Descubra agora