Capítulo 61: Vampiro.

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Na manhã seguinte nós seguimos em direção ao litoral. A neve espessa no chão impedia que andássemos rápido, nos deixando cansados no primeiro quilômetro percorrido. Tallys estava caminhando sem ajuda agora, mas parecia fraco e cansado. Jacks estava entregando a ele cálices de sangue durante o passar das horas, para que ele não ficasse faminto.

—Como acha que Maximus conseguiu aquela magia? —Stella indagou, caminhando ao meu lado.

—Não faço ideia. Estou me perguntando se o M nas cartas de Sallow era dele. —Me encolhi dentro do casaco, vendo meus pés afundando na neve a cada passo. —Quanto mais penso, menos isso faz sentido. Porque ele estaria com a magia? Por que Sallow daria a magia a ele? O que eles pretendiam com isso? —Olhei para Stella, balançando a cabeça negativamente. —É isso que eu não entendo. Qual a motivação pra roubar a magia? O que eles estão ganhando com isso?

—Bem, eu não sei. Mas alguma explicação deve ter. —Stella deu de ombros. —Maximus não estava usando a magia antes de chegarmos lá. Jacks teria sentido isso. Ele estava literalmente escondendo ela de nós.

—Estou me perguntando se existe alguma possibilidade de Sallow estar com uma das magias. Jacks não sentiu nada quando fomos até lá. Mas talvez ele estivesse escondendo ela da mesma forma que Maximus a escondeu. —Falei, pensando no fato, enquanto olhava para trás, vendo Jacks caminhando ao lado de Tallys e conversando alguma coisa com ele.

—E o Jacks? —Stella murmurou, me fazendo olhá-la. —Você confia mesmo nele? Sei que vocês tem aquele acordo e agora estão tendo sei lá o que isso seja. Mas ele absorveu a magia em segundos sem pensar.

—Era ele ou os irmãos dele. —Dei de ombros. —E ele só está com a magia porque eu pedi. Ele tentou me entregá-la ontem. Mas eu não gosto da ideia de sair por aí andando com uma esfera de uma das três grandes magias.

—Sol. —Stella fez uma careta. —Sempre gostei mais da magia da lua.

—Por quê? —Indaguei, vendo ela suspirar.

—Não sei. Sempre gostei de olhar pro céu noturno e observar a lua brilhando lá em cima. —Ela coçou a garganta. —Acha que Cal preferia qual?

—As estrelas, eu acho. Ele nunca falou comigo sobre as magias. Mas acho que teria escolhido ela se pudesse. Não sei, posso estar errada. —Olhei pra ela e abri um sorriso fraco. —Nunca percebi a importância que ele tinha pra você até me contar aquela história.

—Pois é. Sinto que falhei com ele. Deveria ter ido junto ajudá-los e não ter ficado esperando no navio. —Stella olhou pra trás e então encarou as árvores cobertas de neve na nossa frente. —Eu tinha muito a perder lá. Acho que demorei pra entender isso.

—Nunca é tarde demais, Stella. —Afirmei, tocando a mão dela de leve, sentindo ela apertar meus dedos. —Sempre dá pra mudar as coisas.

Ela não respondeu, mas ficou segurando minha mão, enquanto parecia perdida nos próprios pensamentos. Olhei para trás de novo, sentindo minha nuca formigar. Jacks estava olhando pra mim, observando meus movimentos tensos pela neve. Sorri pra ele, vendo seus olhos prateados se iluminarem e ele sorrir de volta.

—Grupo se aproximando! —Alguém avisou, me fazendo olhar pra frente de novo.

Stella puxou a arma ao mesmo tempo que eu, enquanto observávamos as árvores a nossa frente, tentando ver qualquer coisa. Jacks parou ao meu lado junto com Tallys, enquanto os homens se agrupavam ao nosso redor, mirando as armas e ficando prontos para atirarem.

—Tallys? —Falei, olhando pra ele enquanto averiguava a floresta nossa frente.

—Grupo de sete a oito homens. —Sussurrou com dificuldade, olhando atentamente para nossa frente, enquanto parecia se concentrar. —Não são da vila de Jacks. Tem... tem dois vampiros entre eles.

—Os homens que você mandou para a Catedral. —Stella hesitou, olhando pra mim de relance. —Ou uma armadilha.

A neve se moveu a nossa frente quando o grupo começou a se aproximar. Meu coração disparou no peito, pronto para se estilhaçar. Os homens começaram a aparecer entre as árvores, olhando na nossa direção. Eram mesmo os homens que eu havia enviado para a Catedral depois de tudo que aconteceu. Mas eles não estavam sozinhos.

Haviam quatro pessoas com eles. Lila estava amarrada dos pés a cabeça, amordaçada enquanto era arrastada pela neve por dois deles, parecendo um fantasma da bruxa que um dia eu conheci. Os cabelos brancos caindo como a neve ao nosso redor sobre seus olhos quando me encarou, vazia e fria.

A arma caiu da minha mão quando eu encarei o vampiro que estava no meio do grupo. A pele morena parecia mais viva. Os cabelos escuros pareciam asas de corvos brilhantes e macios, com fios curtos e grossos. E os olhos, dourados como o deserto de Solaris, idênticos aos meus. Ele não era uma criatura bestial, mas também estava longe de ser um deus inferior. Só que ainda era meu irmão. E estava bem ali. Vivo.



Continua...

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