Capítulo 62: O inimigo está do seu lado.

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Meus olhos se encheram de lágrimas quando disparei, afundando na neve a cada passo apressado na direção dele. Cal soltou a mochila que carregava e abriu os braços quando pulei em cima dele, me abraçando com tanta força que tive certeza que ele era real e não um fantasma. Afundei meu rosto no peito dele, tremendo em veios soluços quando desabei em lágrimas. Cal me apertou ainda mais contra si, me deixando sentir o quão forte estava.

—Senti sua falta. —Sussurrou, beijando o topo da minha cabeça.

—Eu achei que tinha perdido você. —Me afastei pra olhar o rosto dele, suas feições únicas e bem marcadas pareciam ter sido acentuadas agora que era um vampiro. —Você está vivo. Você está mesmo vivo.

—Me desculpe. —Pediu, me abraçando de novo, enquanto eu balançava a cabeça negativamente. —Não queria ter deixado você. Sinto muito.

—Você é... um vampiro. —Me afastei, fazendo uma careta ao olhar para tudo aquilo que um dia foi um deus inferior. —Como?

—Depois que a criatura me puxou pra dentro da água, a correnteza nos carregou até o litoral. Fiquei caído nas pedras esperando o inevitável. —Ele puxou a camisa, mostrando os ferimentos feios que agora eram só cicatrizes profundas que marcavam a pele. —Então dois dos meus homens apareceram. Um deles era um vampiro então... começamos a tentar algumas coisas que evitassem que eu me transformasse naquilo. O resultado você já sabe. —Ele olhou por cima do meu ombro. Para Lila. —Encontramos ela um pouco mais à frente, completamente desacordada.

—Eu mandei homens atrás do seu corpo. —Falei, limpando as lágrimas que caiam dos meus olhos. —Stella me colocou como líder do seu grupo. Mas juro que eu não queria.

—Acho que isso nos deixa quites então, irmã. —Ele beijou minha testa e me abraçou.

Fiquei agarrada a ele, sentindo meu coração disparado no peito. Stella veio abraçá-lo em algum momento, sorrindo ao perceber que eu não ia larga-lo tão cedo. Meu coração acelerou mais dentro do peito, sentindo o calor do corpo dele e o bater do seu coração vampiro.

[...]

Cal encarou a magia nas mãos de Jacks, enquanto ouvia a gente contar os últimos acontecimentos. Estávamos sentados ao redor de uma fogueira, observando o dia virar noite. Já era pra estarmos no litoral, mas a neve e a chegada de Cal atrasaram um pouco as coisas. Mas foi um atraso muito bem-vindo.

—Conseguiu arrancar alguma coisa de Lila? —Stella indagou, enquanto a magia sumia das mãos de Jacks quando ele a absorveu de novo.

—Não. Ela não quis abrir a boca em nenhum momento. —Cal passou a mão no rosto, olhando na direção que Lila estava, arramada a uma árvore olhando na nossa direção. —Talvez agora que você está aqui ela fale algo, Alita. Aquele dia na Catedral ela parecia ter um problema bem específico com você.

—Ela ia me amaldiçoar. —Olhei por cima do ombro, encontrando os olhos dela. —Ela teria mesmo feito isso.

—Vamos tentar arrancar algumas coisas dela então. —Stella ficou de pé, puxando uma faca. —Tenho umas maneiras bem interessantes de fazer isso.

Stella fez um sinal e dois homens trocaram Lila até onde a gente estava, arrastando ela pela neve até jogá-la no nosso meio. Dei um passo para trás, não querendo ficar perto demais dela. Cal se aproximou e tirou a mordaça que envolvia a boca dela.

—Pronta para falar agora? —Indagou, puxando-a e a deixando sentada no chão.

—Se não falar, não vou me incomodar em matá-la, Lila. —Afirmei, olhando pra ela sem qualquer emoção. —E vou me certificar de que seja esquecida depois disso.

—Chantagem emocional não combina com você. —Murmurou, umedecendo os lábios com a língua. —Na verdade, pouca coisa combina com você.

—O que sabe sobre o roubo da magia? —Stella indagou, fazendo Lila soltar uma risada e balançar a cabeça negativamente. —Você não vai ganhar nada ficando calada.

—E eu vou ganhar alguma coisa falando? —Ela ergueu as sobrancelhas, com a expressão mais sarcástica possível.

—Talvez eu não mate você de uma forma tão dolorosa. —Stella sorriu, brincando com a faca na sua mão.

Lila bufou e se virou pra mim, me observando como se eu fosse a criatura mais asquerosa que existe. Fiquei com meus ombros rígidos quando ela sorriu, com aquele ar cruel que usou um pouco antes de lançar aquela maldição sobre mim.

—Sabe qual o seu problema, Alita? Você é cega demais para o que acontece a sua volta. Confiou facilmente em mim. —Ela riu, balançando a cabeça. —Assim como confia em todo mundo. Você foi traída várias vezes bem diante dos seus olhos e não percebeu.

—O que quer dizer? —Exclamei, dando um passo na direção dela. —Se me contar quem está envolvido, liberto você e deixo-a ir.

—Alita... —Cal alertou, ganhando um aceno de mão de mim.

—Fale. Prometo a você que ficará livre. —Afirmei, vendo ela engolir em seco, parecendo ponderar sobre a proposta.

—Como vou saber que está falando a verdade?

—Você não tem muita alternativa, não é? —Tombei a cabeça de lado. —Quem está envolvido nisso, Lila?

Ela olhou pra mim. Olhou pra mim de verdade, como se visse a líder do círculo do deserto e não uma impostora líder de um grupo de contrabandista.

—O inimigo está do seu lado. —Disse, muito lentamente. —Esteve desde o início. Quem estava nos bastidores o tempo todo, Alita? Quem ficou vendo você se desdobrar pra encontrar a magia, ajudando quando necessário e ficando para trás sem questionar? Sem parecer o mínimo preocupado se você ia achar a magia ou não?

—Eu não...

—O M nas cartas... —Lila estou a língua e riu. —Você não acha estranho que todo esse tempo que passou, até mesmo depois da morte do seu irmão, que Meri não tenha entrado em contado com você? —Ela ergueu as sobrancelhas e sorriu. —Você já se perguntou quem ficou no lugar de Cal depois que ele foi atrás de você na Catedral? —Ela sorriu mais ainda, olhando pra mim com escárnio. —Os mais inocentes são os mais perigosos. Abra os olhos, Alita, antes que um deles enfie uma bala nas suas costas.




Continua...

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