Capítulo 70: Céu estrelado.

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Jacks puxou o amuleto de dentro das minhas roupas, o saltando no chão longe de mim, como se não quisesse que aquilo atrapalhasse o que quer que ele fosse fazer.

—Jacks... —Hesitei, com meu coração martelando no peito, tentando vencer aquela coisa que se apossava dentro de mim.

—Lembre-se das nossas palavras. Eu daria minha lealdade a você, sem mentir e nem tentar matá-la, em troca você realizaria qualquer pedido que eu fizesse, no momento que eu achasse oportuno.

Ele puxou meu corpo de perto da parede, colocando minhas costas contra seu peito, me ajeitando até que minha bochecha estivesse pressionando seu ombro e nossos olhos estivessem guardados um no outro.

—Estou cobrando meu acordo de você, aqui e agora. —Murmurou, inclinando o rosto até que seus lábios estivessem perto da minha orelha. —Pela minha lealdade, Alita Aziz, desejo que passe o restante da sua eternidade ao meu lado. Você ficará presa a mim para sempre, sem jamais poder partir ou fugir. Sua vida vai pertencer a mim e a mais ninguém.

Um suspiro lento saiu dos meus lábios quando ele encarou meus olhos, terminando de proferir aquelas palavras, ao mesmo tempo que a magia do acordo se agarrava a cada parte do meu corpo, queimando meu sangue e meus ossos, lutando contra aquela coisa venenosa e a obrigando a sair de dentro de mim para que eu pudesse viver e cumprir minha parte do acordo.

Jacks me segurou contra si, me apertando entre seus braços como se fosse realmente uma prisão. Ofeguei contra o arrepio que varreu meu corpo, sentindo cada batida do meu coração diminuir e parar, até voltar a bater como se eu estivesse morrendo e então voltando a vida.

Sangue e magia escorreram dos meus ferimentos, tirando de mim a parte mortal daquelas criaturas que estava me devorando de dentro pra fora. Então não restava nada além do meu próprio sangue, completamente puro, entre aqueles ferimentos profundos e limpos.

—Essa é a sua maldição agora, querida. Sua vida não a pertence mais. —Jacks deslizou os lábios pela minha mandíbula. —Assim como sua eternidade.

[...]

Quando voltamos aos corredores do palácio descobrimos que quase todas as criaturas estavam mortas. Algumas ainda corriam pelos corredores, caçando qualquer um que se movesse. Mas não estavam indo tão longe. Não sabia onde os outros estavam, mas Jacks me carregou até o topo de uma torre, seguindo o rastro de magia do sol que ainda estava com um dos deuses.

O deus do sol estava parado na varanda ao redor da torre, olhando para todo território da Catedral, enquanto o sol nascia no horizonte. Um último olhar ao seu próprio poder. Um último olhar aquilo não não iria mais lhe pertence.

—Ela se foi? —Indagou, sem se virar para nós olhar.

Jacks me colocou no chão, apesar de eu só conseguir usar um dos pés e ficou com um braço ao redor da minha cintura. O frasco com o sangue da deusa da lua pesou no meu bolso. Jacks havia pegado um pouco dele depois de conjurar um frasco e então colocar fogo no corpo dela.

—Só resta você. —Afirmei, umedecendo os lábios com a língua, sentindo meu corpo fraco e dolorido. —Sabe que acabou, não é? As criaturas estão mais fracas agora que só resta você. Estão morrendo e logo não restará nenhuma. Teremos os outros dois poderes em mãos e você não terá nada.

Ele ficou em silêncio, como se estivesse absorvendo o que eu havia acabado de dizer. Olhei para Jacks, puxando a arma que estava na cintura dele, com as mãos trêmulas e os dedos escorregadios.

—O que vai fazer depois de me matar? —Questionou, finalmente se virando e olhando pra nós dois. Ele avaliou o meu estado, com a expressão mais neutra possível. —O que pretende, srta. Aziz?

—Imagino que esteja curioso. Mas isso não é mais da sua conta. Você não estará mais aqui para ver. —Ergui a arma e apontei pra ele, com o braço praticamente sem força para suportar o peso dela. Mas era meu último momento e iria adiante. —Mas prometo uma coisa a você. O mundo terá novos deuses para reverenciar, e eles serão tão misericordiosos como vocês foram.

Não precisei puxar o gatilho, porque o homem sorriu pra mim, se inclinado para trás e se jogando da torre mais alta do palácio. E quando ergui os olhos, antes que o sol nascesse por completo, pude ver a imensidão do céu estrelado depois de tantos dias.

[...]

Encontrei meus amigos no salão dos tronos, em meio a corpos e criaturas mortas. Stella carregava uma esfera cintilante e clara como a neve, enquanto Cal estava segurando uma com o tom mais prateado que eu já havia visto. Tallys parecia estar cuidando dos feridos, tentando saber se precisariam de poção de cura ou de uma mordida para sobreviver aquilo.

—Alita! —Stella soltou uma respiração pesada, disparando na minha direção.

Jacks segurou meu corpo quando Stella se jogou sobre mim, passando os braços ao redor dos meus ombros e me abraçando, sem se preocupar com meu estado. Cal veio logo em seguida, abraçando nós duas ao mesmo tempo. Tallys olhou pra gente por alguns segundos, antes de soltar um suspiro e surgir ao lado de Jacks, me abraçando de lado e puxando o peregrino para aquele abraço em conjunto um pouco desajeitado.

—Tallys! —Jacks murmurou, um pouco seco.

—Vamos lá, parceiro. Somos uma grande família aqui. —Tallys abraçou todos nós com ainda mais entusiasmo.

—Com certeza não somos. —Cal retrucou, fazendo uma careta pra ele. —Ainda não vou com a sua cara.

—Problema seu. —Tallys sorriu mais ainda. —Estamos todos vivos. Eu tenho motivos pra estar feliz.

—Os dois se foram? —Stella indagou, quando todos nós nos afastamos.

Balancei a cabeça afirmativamente, sentindo meu coração martelando no peito, puxando os dois frascos de sangue e estendendo a mão com eles no meio de nós. Stella puxou o outro frasco com o sangue da deusa das estrelas e depositou na minha mão. Cal mostrou a esfera com o poder da lua, enquanto Stella segurava o poder das estrelas na mão. Jacks deixou o poder do sol sair de dentro de si, estendendo as mãos para a esfera dourada surgir na sua mão.

—E agora? —Tallys indagou, olhando para os três poderes e os sangues em nossas mãos.

Houve um silêncio, enquanto apenas observávamos aquilo, parecendo que todos nós estávamos pensando a mesma coisa. Devolver o poder a todos os deuses como era antes da guerra, ou deixá-los na mão de três novamente.

—Precisamos de um caldeirão, os sangues e as magias. —Jacks finalmente falou, parecendo ler a mente de todos nós. —E três almas dispostas a carregar cada poder dentro de si.

Trocamos olhares, sabendo perfeitamente o que o círculo dos impostores faria a seguir.



Epílogo...

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