Capítulo 12: Prisão.

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A salas dos espelhos da prisão se assemelhava a de Solaris. Haviam os quatro espelhos ali, na sala circular de pedra. Um grupo usando armadura pesada, espadas longas e afifadas, guardavam as portas de saída.

—Srta. Aziz! —Um deles deu um passo à frente. —Não recebemos comunicado sobre sua visita a prisão.

—Foi decisão de última hora. —Afirmei, tentando soar o mais confiante possível. Mas ter acabado de ser chutada do círculo do deserto me desestabilizou. Principalmente porque eu fiz de tudo por eles. Séculos servindo aquele território, pra ser tratada com tanta indiferença. —Vim visitar um dos prisioneiros.

—Senhorita! —Ele virou e fez um sinal para os guardas, que abriram as portas de madeira pesada, deixando uma corrente de ar frio entrar. Tallys se encolheu ao meu lado, com o primeiro som característico dos dragões ecoando por aqueles corredores rochosos. —Precisa da guarda?

—Não será necessário. É um assunto oficial dos deuses. —Afirmei, caminhando em direção a eles, para poder alcançar as portas. Vi o momento de hesitação deles, enquanto olhavam para o vampiro atrás de mim. —Tallys está comigo. Não se preocupem, ele tem autorização pra entrar.

Eles nos deixaram passar, permitindo que percorrêssemos o corredor rochoso, até chegar as longas escadas em caracol que dariam para as áreas principais da prisão. Tudo ali foi construído no interior daquela ilha rochosa. Na parte mais funda das cavernas escavadas, estão os prisioneiros mais perigosos, assim como aqueles com poderes únicos e raros.

Em um andar acima, então as celas das criaturas das sombras. Na superior a ela, ficam os prisioneiros comuns, que causaram o caos ou quebraram as leis dos deuses. E no exterior dos túneis de pedra e da prisão, presos em uma imensa gaiola, estão os dragões, acorrentados.

Se alguém do andar mais baixo escapar, dos prisioneiros mais perigosos, teria que passar pelo andar das criaturas das sombras pra fugir. Mas é aí que está a questão. Se isso chegar a acontecer, um sinal é enviado aos guardas, fazendo-os libertar as criaturas das celas. E é simplesmente impossível passar por um lugar repleto delas, sem sair morto.

Eu e Tallys terminamos de subir as escadas em caracol, chegando a outro corredor repleto de guardas. Não precisei dar satisfações a eles, já que se fossem para me barrar, seria na sala dos espelhos, quando cheguei. Atravessamos o corredor, observando o guarda se aproximar da porta de metal imensa que cobria a parede.

—Qual o prisioneiro? —Indagou, enfiando algo no suporte da porta, que a fez ranger e começar a se abrir.

—Último andar, peregrino. —Murmurei, ouvindo Tallys arquejar ao meu lado, enquanto a porta se abria.

—Você não me disse que ele era do último nível. —Sussurrou, fazendo uma careta. —Que merda, Alita.

—É um peregrino, o que esperava? —Olhei pra ele com as sobrancelhas erguidas. —Relaxe, ele está preso.

—Lembrem de não se aproximar muito das grades. —As portas se abriram e o guarda gesticulou com a mão. —Alguma arma?

—Não senhor, obrigada. —Murmurei, puxando Tallys para que passássemos por aquela porta. A próxima sala era oval, com o teto aberto revelando o céu repleto de nuvens escuras. Ali podíamos ouvir perfeitamente o som dos grunhidos dos dragões, ecoando por cada canto e fazendo as paredes tremerem.

Caminhamos até a escada, descendo os degraus até entrar no corredor de celas dos prisioneiros. A maioria estava ocupada por alguém ou alguma criatura. Evitei olhar pra qualquer um ali, enquanto os ouvia gritar e soltar xingamentos a medida que passávamos.

Olhei para Tallys quando ele passou a mão ao redor da minha cintura, parecendo genuinamente preocupado com a minha segurança, apesar dos prisioneiros não terem como chegar a nós e nos atacar.

—Não quero que seu irmão tente me matar. —Afirmou, como desculpa, o que me fez abrir um sorriso de leve.

Atravessamos aqueles corredores de celas, até chegar a outra escadaria, que dava para a área das criaturas das sombras. Estremeci de leve, sentindo o vento frio bater contra meu rosto. Meu pescoço e cabelos estavam cobertos pelo lenço azul, mas não evitava que todos os pelos da minha nuca se arrepiassem ao ver aquelas criaturas.

A maioria eram Rastejadores, metamorfos e lobos negros. Mas em alguns cantos, escondidos na escuridão das celas, alguns lusions se escondiam, esperando uma oportunidade certa para matar e destroçar. Eles eram inteligentes, rápidos e astutos. Os únicos pertencentes às sombras que tinham consciência.

Quando chegamos a outra escadaria, ouvi Tallys soltar o ar, como se estivesse tão tenso como eu por passar por todos aqueles monstros das histórias de terror. Mas a pior parte estava ali, na área mais baixa. As celas eram mais separadas umas das outras. As grades mais grossas e mais próximas. É quase sem luminosidade, já que poucas tochas iluminavam o caminho.

Diferente dos prisioneiros do penúltimo andar, os que estavam ali não se importaram em gritar ou xingar, enquanto passávamos pelos corredores de celas. Estavam silenciosos, escondidos na escuridão, não permitindo que eu e Tallys soubéssemos o que havia em cada uma delas.

Me encaminhei até a última cela, onde eu sabia que ele estava. Quanto mais próximos chegávamos de lá, mais o ar frio nos encontrava, como se o clima gélido de Atlantis acompanhasse o peregrino. Parei de andar, com Tallys ao meu lado. As celas ao redor estavam vazias. Ou pelo menos pareciam estar. Mas a da minha frente estava ocupada. Eu podia sentir a presença dele ali, mesmo que não o visse por conta da escuridão que tomava conta de quase tudo.

Deu alguns passos até a marca no chão, onde era o máximo recomendado a se aproximar. Além daquilo, não era uma boa ideia. Olhei por cima do ombro para Tallys, vendo ele olhar fixamente para um ponto escuro dentro da cela, como se pudesse ver no meio da escuridão. Mas ele provavelmente estava sentindo apenas o pulsar do sangue nas veias daquele ser imortal.

—Gostaria que saísse das sombras, para que pudesse vê-lo. —Falei, tentando soar clara. —Quero conversar com você sobre algumas coisas relacionadas ao seu povo. —Silêncio frio e tenso se seguiu, me fazendo respirar fundo e pressionar os lábios uns nos outros. —Não sei se vai se lembra de mim. Mas eu...

—Acha que eu não vou me lembrar de você? —A voz grave e rouca, me fez estremecer, já que não estava esperando por aquilo. Algo raspou no chão dentro da cela, fazendo um arrepio varrer minha coluna, enquanto eu ouvia uma risada baixa. —Estou aqui a noventa e três anos. Acha mesmo que não vou me lembrar de quem me trouxe pra cá?

—Apareça. Quero falar com você e não com a escuridão vazia. —Afirmei, ouvindo de novo aquela coisa arrastando no chão. Provavelmente a ponta da asa, que se assimilava a um chifre.

Peregrinos eram serem raros e de uma beleza avassaladora. Eram belos, ao mesmo tempo que perigosos. Tinham asas longas, com penas negras como as de corvos. A pele era branca como a neve que cobria os territórios de Atlantis. No topo da cabeça, pequenos e perigosos, um par de chifres, que os davam uma aparência única. E dizem as lendas que possuíam um rabo também.

Eles eram ligados a magia, podendo dominá-la, usá-la e remodelá-la da forma que acharem melhor. Eles nasceram dela, podendo sentir a mais fraca magia, onde quer que estejam. Por isso são tão perigosos para os deuses. Eles poderiam encontrar a magia e rouba-la com muita facilidade, fazendo o que bem entender com ela.

Ouvi aquela risada baixa de novo, junto com aquele som estridente da asa de arrastando no chão, como se fosse uma garra.

—O que uma coisinha traiçoeira como você poderia querer comigo? —Uma lufada de ar me atingiu, me fazendo dar um passo para trás, ao mesmo tempo que ele surgia na frente das grades, sendo agraciado pelo toque da luz dourada das chamas das tochas.

As asas negras abertas e baixas, com as pontas se arrastando pelo chão. Os cabelos escuros extremamente curtos e bagunçados, revelando as duas pontas negras dos chifres. A pele, mais pálida do eu me lembrava, provavelmente por conta da escuridão da cela, iluminada por um par de olhos prateados, manchados com um azul acinzentado.

—Resolveu vir visitar os mortos, Alita? —Questionou, curvando os lábios em puro desdém. —Que grande honra a minha.

—Olá, Jacks.



Continua...

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