Capítulo 38

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Lorenzo.

Entro em casa sentindo como se tudo ao meu redor fosse mentira, eu odeio sentir essa sensação, eu odeio sentir tudo o que senti naquele dia. Ando até o meio da sala e ninguém aparece. É isso, é como se tudo fosse real e eu estivesse sozinho no mundo... Escuto passos e continuo parado com os meus olhos fechados. Por favor, abra a boca e faça alguma gracinha típica de cada um dessa família, me faça sentir raiva com as brincadeiras idiotas, me faça se agarrar na realidade, eu não quero voltar para o mundo de fantasia onde todos vocês estão mortos.

— Irmão, olha isso. — Francesco... — Olha a cara do meu filho, ele é lindo igual eu, olha, olha. — Ele para em minha frente e eu abro os meus olhos.

Nas mãos dele está o celular e está passando o vídeo da ultra sonografia da Bianca. Vejo perfeitamente cada partezinha do corpinho do bebê e consigo ver também o seu rostinho, essa deve ser a tal da ultra 3D que a Bianca tanto falou. Olho para o meu irmão outra vez e vejo a sua felicidade. É isso, é isso que me faz ficar de pé. Eu ainda vivo por eles. Ele me olha e seu sorriso some, ele abaixa as mãos e se aproxima mais.

— O que aconteceu? Porque você está com essa cara?

— Como você conseguiu, Francesco? Como conseguiu esquecer tudo? — Na mesma hora ele entende do que eu to falando e pega no meu braço, ele me arrasta em direção ao escritório e quando entramos ele fecha a porta.

— Porque está pensando nisso, Lorenzo?

— Ele falei sobre isso com a Kalliope hoje, eu lembrei de tudo e... Não consigo tirar da mente outra vez.

— Você falou tudo?

— Não, falei o básico para ela entender, não falei detalhadamente.

— Lorenzo, eu não esqueci essa merda, não tem como esquecer, eu apenas soube guardar isso.

— Porque eu não sei? Porque eu deixo isso me aterrorizar, Francesco? Eu simplesmente não consigo esquecer dos seus corpos sendo queimados, o cheiro, do pedidos de socorro, dos choros... Eu não consigo esquecer nada, isso fica rondando a minha mente como um lembrete...

— Lorenzo, você precisa de um profissional.

— Não, ir a um profissional só me fará lembrar disso com mais detalhes.

— Só nós dois sabemos o que vimos e ouvimos, Lorenzo, então eu te entendo, eu te entendo de verdade, eu sei o que você passou, mas a diferença aqui é que eu soube e sei lidar com isso, você claramente não sabe, você era novo demais, eles foram imprudentes com você, você era um adolescente, você cresceu e isso se tornou algum tipo de trauma. Lá na sala você estava com o mesmo olhar daquele dia em que você apontou uma arma para a sua própria cabeça, você sabe o que se passou em minha mente? Que a qualquer momento eu posso perder o meu irmão...

— A sensação é de está andando em cima do muro, de um lado é a vida real e do outro é um mundo de ilusões, eu só fiquei com medo de cair no mundo onde vocês estão mortos, mas quando você falou eu acordei.

— Eu sei como é... Quando eu vi vocês depois do treinamento eu senti o mesmo, mas a diferença é que eu não fiquei em cima do muro, eu me joguei no mundo real e aceitei a realidade de bom grado.

Eu acho que deveria fazer o mesmo, mas como? Eu não sei o que fazer quando fico nessa posição e isso é o que mais me assusta, não saber o que fazer.

A porta se abre e eu escuto um resmungo baixo, me viro e vejo o meu irmão com o Pietro no colo, ele não pensa nem por um minuto, ele me entrega o bebê sem dizer palavra alguma. Ele se senta no sofá e Francesco se senta ao seu lado.

Amor Fatal.  [3° livro da saga Mafiosi Perfetti]Onde histórias criam vida. Descubra agora