Uma Alucinante Noite de Natal

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Era noite de Natal, uma das minhas datas preferidas do ano. Eu adorava aquele clima, o friozinho, as ruas e casas enfeitadas, as lojas sempre lotadas de pessoas comprando seus presentes. Para mim a data era de fato demasiado especial, pois eu sempre me fantasiava de bom velhinho e distribuía presentes em casa, quando, na noite sagrada, reuniámos toda a imensa família para fazer a prazerosa confraternização. 

Para mim, Natal era aquilo: família. A nossa família em primeiro lugar. Depois vinha o trabalho e outras coisas.

Mas foi o trabalho que me atrasou naquela abençoada noite natalícia em que meus olhos não paravam de fitar o relógio da parede do trabalho.

Eu trabalhava como gerente em uma loja de calçados bastante conceituada no centro do comércio. Era o responsável por praticamente tudo, até mesmo das reclamações mais estapafúrdias de clientes não conformados com a sua mercadoria. Mas, como um sujeito dotado de loquacidade que sou, sempre tranquiliza o freguês e o voltava a acreditar que éramos de fato a melhor loja do bairro, senão, da cidade.

— Eu estou muito atrasado para a noite de Natal. — comento a um funcionário.

— Sim, Afrânio. Será o Papai Noel novamente este ano?

— Sim. Todos os anos. Já é praxe. As crianças me adoram.

— Eu imagino.

— Mas a roupa do Papai Noel que sempre uso não coube mais em mim. Engordei bastante este ano comendo guloseimas. Terei que comprar outra às pressas na loja ao lado e correr para à confraternização.

— Muito bonito o seu ato, Afrânio. Infelizmente, no ano passado, o Papai Noel não compareceu à minha casa, pois eu estava desempregado. Doeu-me ver o rostinho dos meu meninos brilhando em lágrimas e não poder fazer nada. Mas este ano, graças ao bom Deus, eles terão os seus presentes.

— É isso ai. Sorte deles. — disse.

E assim o horário da minha saída chegara, feito isto, corri como um desesperado para à loja ao lado para comprar minha fantasia de Natal. Porém, para o meu infortúnio, azar, ou sabe se lá o que, a roupa do bom velhinho que tinham disponível não entrou em mim, o que me deixou bastante frustrado.

— E agora? Já são quase onze horas! Preciso da fantasia, eles já estão me esperando? — comento desesperado à vendedora.

— Você irá encontrar mais fantasias como esta, de vários tamanhos, com certeza, na loja da terceira esquina.

— Sim. Eles também vendem fantasias. Obrigado.

E o dia até que tinha começado bem. Você sabe quando o seu dia será bom quando acorda de manhã e se olha no espelho, se você estiver com um bom aspecto, o sorriso combinando perfeitamente com o humor, pode ter certeza que nada o abalará. Mas, se sua cara estiver emburrada, sentindo -se  feio, como o cabelo, a pele, pode ter certeza, meu amigo, que o seu dia será péssimo.

Corro para a loja da terceira esquina e vejo nuvens cinzas cobrindo o céu. — Preciso correr mais rápido. — E corro, chegando assim ao meu destino.

— Boa noite! Preciso de uma fantasia de Papai Noel, a maior que vocês tiverem. — digo à vendedora.

— Pois não. Temos sim. Acompanhe-me por aqui, senhor.

Ela me leva para uma ala só de fantasias, e já percebo várias de carnaval adornando a loja.

— Acho que esta deve couber. — digo para a maior que vejo.

— Provavelmente. Vou tirar para o senhor experimentar.

— Isso. Por favor, só aja com mais pressa, pois estou bem atrasado. — digo à vendedora que era do tipo bem lerda para vender.

Eu era um pouco intolerante com vendedores moles. Não tinha muita paciência, por isso dispensava vários na loja. Eu tinha a fama de ser carrasco. Alguns me chamavam de puxa-saco, mas eu não ligava para o que me diziam, eu apenas fazia o meu trabalho, como sempre fiz na vida.

Após a vendedora me dar a fantasia para provar, entrei na cabine tentando tirar a roupa do trabalho. E foi um sufoco. Eu tive que me sentar num banco para poder me despir. Agora, apenas de cueca, vesti a fantasia que, como havia previsto, coube certinha em mim.

— Até que enfim. — olhei no relógio e já eram vinte e três e vinte. Ainda dava para chegar a tempo, mas eu tinha que me apressar, afinal estava a pé, sem o carro.

Dirigi-me ao caixa sem tirar a roupa do papai Noel e vi a vendedora correndo feito louca atrás de mim.

— Senhor, perdão, mas não irá tirar a fantasia para o embrulho?

— Não. Não vai dá tempo. Eu vou ter que ir assim mesmo. Algum problema?

— Problema nenhum. Muito obrigada por comprar com a gente.

— De nada.

Paguei a roupa e assim saí da loja. Pronto! Seguiria para casa. Todos já deviam estar lá, me esperando. O cheirinho do peru emanando, as minhas bebidas prediletas adornando a mesa. Os meus meninos correndo para lá e para cá, ansiosos pela espera do bom velhinho. Porém eu tinha que me apressar mesmo.

Estou chegando, oh, oh,oh, oh.

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