O Estranho

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– Alguém a ajude, pelo o amor de Deus! – Gritou a mãe desesperadamente. O crepitar dos destroços e os berros de ajuda eram os sons mais audíveis daquele prédio em chamas. Antes de chegar o corpo de bombeiros, para resgatar a moça que estava entulhada nos destroços, a ajuda de um homem viera e a garota salvou-se por muito pouco.

A moça escapou ilesa do incêndio. Sofreu apenas um pequeno desmaio devido inalar muita fumaça. No segundo dia, após o incêndio, a moça já sorria contando aquela tragédia para as suas amigas. “Foi por muito pouco”, dizia. “Eu iria virar churrasco”.

Aconteceu que ao completar três meses do incidente, Renata começou a ser perseguida por um estranho homem encapuzado. Ele sempre esperava a garota sair da faculdade. Seguia ela para todos os lugares que a moça ia. Para um cinema. Para uma balada. Às vezes ficava parado em frente a sua casa até tarde da noite, acompanhando os movimentos da moça.

Certo dia, o homem parou com seu carro em frente ao colégio de Renata e perguntou: “Vai uma carona aí, gata?” “Se enxerga, coisa feia”, respondeu ela. O homem balançou a cabeça ludibriado e saiu com seu carro. Mais na frente, viu Renata subir no carro de um playboy, suposto namorado dela. O homem os seguiu com um semblante de ódio e vingança. Parecia estar endemoninhado e ao mesmo tempo obcecado por Renata. Ao ver o carro parar em frente à casa de Renata, cresceu nele uma vontade insana de passar com o carro em cima dos dois. A vontade aumentou quando ele viu o rapaz beijar a menina. Apertou as mãos bem firmes no volante, mas, ao acelerar o carro, o homem não teve coragem. O coração desacelerou por alguma razão. Não queria machucá-la, pois guardava um sentimento incógnito por ela. Quando os dois se despediram, o homem foi seguindo agora o playboy, namorado de Renata. Já era tardezinha quando o estranho homem freou bruscamente com o seu carro em frente ao carro do playboy. Desceu do carro com um extintor na mão, e sem falar nada, deu uma pancada no capô do carro do rapaz. Este saiu do carro e foi tirar satisfação com o estranho homem. Quando o playboy lhe foi proferir um insulto, o homem lhe deu com o extintor na cabeça deste que caiu desmaiado no chão. O horrendo homem, não satisfeito, pôs o extintor na boca do desfalecido rapaz e pressionou-lhe fazendo-o engolir toda aquela sustância que se encontra no extintor. O playboy foi encontrado no dia seguinte, bastante inchado prestes a explodir.

Renata chorou por dias, debruçada em sua janela. Dias depois, quando não conseguia dormir, Renata viu um homem com um capuz escorado num poste que dava de frente para sua janela lhe observando. Renata empalideceu-se. Ele estava lá, parado, e a chuva não lhe incomodava nenhum pouco, a sua fixação para a janela da garota era perversa e doentia. Renata abaixou sua cortina e a insônia só lhe agravara. Respirava fundo, mas aquilo só aumentava sua angustia. Ao olhar para a janela novamente, Renata vislumbrou uma frase escrita a spray no muro: Você é minha!

Renata gritou por seus pais e estes rapidamente ligaram para a polícia. Renata, a partir daquele dia, só era vista acompanhada por um gigante guarda costa. Aonde fosse, o homem de quase dois metros de altura estava lá com ela. O intimidante homem, de cabelos raspados e cicatrizes na têmpora, era um sujeito de poucas palavras, porém muito eficaz em seu serviço de guarda costa.

Em uma festa de Halloween, realizado em uma boate, Renata bebeu tanto que perdeu toda a sobriedade que nunca teve na vida. Desvencilhou-se de seu guarda costa para poder curtir a festa sem estar sendo vigiada e observada por este. Sentado em uma adega, um homem com a máscara do boneco Fofão, sentou-se ao seu lado e começou a lhe galantear.

- Sozinha, linda? – perguntou.

- Sim, ic. – respondeu ela.

- A sua fantasia é de Barbie? – perguntou ele, pois Renata estava sem fantasia.

- Ha, ha, ha! Nossa! Que palha.

- Escuta, você não quer dançar? – perguntou o Fofao.

- Pode ser. Você dança bem?

- Verás.

- Ah, tem um probleminha. Aliás, um problemão. Tá vendo aquele grandão de quase dois metros de altura ali? Pois então, ele é meu guarda costa. Peça permissão a ele.

- Ele parece estar de mau humor. Vamos aproveitar o seu vacilo e dançar um pouco.

Renata topou e os dois foram para o meio do salão dançar. O guarda costa procurava a garota desesperadamente. Perder a garota era perder a garantia de trabalho. Sua elevada estatura o ajudou muito a achar a linda Renata que dançava freneticamente no salão. O Fofão a tinha do jeito que ele queria: agarrado a moça e beijando-a loucamente. No salão, lugar de vários jogos de luzes, o guarda-costas avistou Renata e se aproximou com uma diabólica violência socando a face do Fofão que voou a metros do salão. Segurou a mão de Renata, que tentava se desvencilhar dele, e a tirou da pista de dança. Quando os dançantes olharam para o Fofão, que havia sido estirado no chão com uma violência inaudita, este já não se encontrava lá. Um leve tumulto tomou conta da danceteria, e quando todos pregavam a paz, um voo de adaga perfurou a artéria do pescoço do guarda costa. O homem caiu inerte no chão. Renata nem viu o que aconteceu, pois assim que a adaga voou, o tumulto foi instantâneo. Logo sua mão foi apalpada por um homem que a tirou rapidamente daquele transe infernal.

Renata sentia-se apagada. Não estava lúcida de absolutamente nada. Poderiam lhe tocar de todas as formas que esta não sentiria nenhum toque. O estranho levou Renata para um lugar no meio do nada, um lugar tomado a mato e cantos de grilos e sapos. A única luz que se via por ali era o piscar do vagalume. O desconhecido levou Renata para uma espécie de cárcere. Cuidou do porre da moça e depois a levou até sua casa, precisamente no portão onde a deixou por lá. Renata acordou quatro horas da manhã sem saber o que de fato aconteceu.

Soube da morte de seu guarda costa, e que o principal suspeito, claro, era o homem que estava dançando com Renata. A policia a interrogou, porém Renata não detalhou, pois não o conhecia e nem sequer lhe viu sem as máscara do boneco Fofão.

Saindo de sua faculdade, sozinha, avistou um homem horrendo, parado em cima de um viaduto observando-a. Renata acelerou seus passos e sumiu da vista do estranho. Renata passou a ver aquele homem constantemente em seu cotidiano. Apelava para seus pais, mas estes diziam que a filha estava passando dos limites. Conjeturavam que Renata estava com problemas psicológicos, e que o assassino de seu guarda costa era um namorado seu. Porém aquilo tudo não passava de uma conjectura impensada de seus pais

- Renata está enlouquecendo. Este homem não existe! – dizia seu pai à mãe de Renata.

- Acredito na minha filha. Você precisa ajuda-la! – contradizia a mãe.

Durante a discussão dos pais, Renata, que estava deitada em sua cama com um fone de ouvindo escutando uma canção, foi violentamente amordaçada e amarrada em sua cama. Sim, era o sádico deformado.

- Conheces-me? – perguntou ele. – Se sim, meneie a cabeça positivamente. Se não, negativamente.

Renata meneou negativamente.

- Eu fui teu desprezo antes de ser assim. Agora sou uma aberração para esses teus lindos olhos verdes. O que difere os dois lados? Para alguns acho que muito, porém para mim nada. Ser desprezado por você é o mesmo que ser uma aberração. Para mim tanto faz.

Renata estava paralisada. Não conseguia se mexer. Suas pupilas dilatavam-se de pasmo. Seus olhos jorravam lágrimas.

- Sempre te admirei. Eu sou o homem que salvou a tua vida. O homem que te tirou dos destroços daquele maldito incêndio. O homem que enfrentou a morte para te ajudar. O homem que se deformou por te amar. Eu sempre gostei de ti no ensino médio. Mas tu sempre me desprezou. Agora ainda mais. Não consigo mais viver assim. E sei que nunca vou te ter.

O deformado apontou a arma em sua boca e desferiu um único tiro fazendo jorrar sangue por todo o leito de Renata.

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