O Animalesco Caso dos irmãos disformes

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  —  Esta intimação deverá ser entregue neste endereço, na cada desse  velho maluco que, ao que dizem, anda abrigando animais nocivos em sua residência

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  —  Esta intimação deverá ser entregue neste endereço, na cada desse  velho maluco que, ao que dizem, anda abrigando animais nocivos em sua residência. —  disse um cidadão de bigode espesso e hálito forte de tabaco e café. 

Os dois policiais, Ulisses e Gabriel, se dirigiriam então ao endereço dado pela a sua chefia. Um endereço que o experiente policial Ulisses pegou com relutância. Ulisses era um daqueles caras que sempre evitava ameaças, riscos, lugares inescrupulosos. Para você ter uma ideia, em seus vinte e poucos anos de profissão, Ulisses nunca sacou a sua arma, e, obviamente, nunca atirou em ninguém. Conhecia a má reputação daquele endereço e sempre evitava passar por lá. Casos bizarros eram ditos por populares, tanto transeuntes como próprios moradores da área. Seres estranhos rodeavam a extensa viela de aproximadamente quinhentos metros. Os mais supersticiosos diziam que os seres eram criaturas de outro mundo. Seres completamente estranhos e obscuros. Possuíam os olhos ardentes como uma chama e suas cabeças eram idênticas a óvnis. Já os sensatos diziam que eram apenas sádicos e estupradores; possuidores de máscaras, e que o que o bairro precisava mesmo era de uma ronda diária de guarnição policial.

Ulisses contava tudo aquilo, com receio ao jovem Gabriel que sorria. Gabriel era um novato e sedento a ação.

— O que na verdade você teme, Ulisses? — Perguntou o policial Gabriel.

— Pode ser um conto popular — disse Ulisses continuando a conduzir a viatura policial. — mas as mortes são verdadeiras. Tenho uma tia que mora naquele bairro, cara. E ela afirma já ter visto várias vezes dois seres completamente disformes, como animais, rondarem as ruazinhas de madrugada.

— Ora essa. — disse Gabriel. — Sua tia não anda batendo bem da cuca não? — sorriu Gabriel.

— Isso! Continua tirando minha vó! Ela é uma velha lúcida, que cozinha, costura e muito esperta no xadrez. Bom, mas o que é mais importante neste momento, meu caro, é que vamos bater na casa deste velho onde dizem que abriga estes tais animais nocivos. E, pra você ter mais nocão do caso, aconteceu mais um crime no bairro esta noite, por isso tá tudo deserto, e as vítimas afirmam dizer severamente que foram novamente estes dois anormais que desconhecemos.

— Bom, mas quem de fato é esse velho que abriga esses dois psicopatas?

— Um idoso ranzinza demasiado misantropo. Dizem ser o mais antigo vizinho do bairro. A propósito, já o conheço, mas isso já faz uns anos, e nem é bom lembrar disso. Depois que sua mulher e seu filho faleceram, o velho se enclausurou com a sua filha mais nova em sua casa de uma tal forma, que poucos o viam. Sim, nossa. Mas isso já faz um tempo. O quê...acho que uns quinze anos. Como o tempo voa, não é mesmo?! O inválido Armélio Costa, o tal idoso, adorava animais e o tratavam como como se fossem seus parentes. Todos amavam a forma como ele tratava os animais. Era generoso demais com eles. Era dono de um enorme pasto em seu quintal onde criava porcos, frangos, porquinhos da Índia e outros bichos, como capivaras e coelhos. Era casado com a senhora Raimunda, a Mundica, como era chamada, uma senhora de característica rústica, feia e demasiada rude. A pobre coitada, ainda hoje me lembro, que Deus a tenha; morreu de diabete, mutilada por essa terrível doença perdendo todos os seus membros. A diabete comeu praticamente todas as suas pernas e tiveram que amputá-las. Depois a praga da doença acabou de fazer o seu serviço, e deixou a mulher corroída, sem os seus braços, a mulher ficou como um lápis em processo de afinamento. A tadinha ficou um cotoco de gente. Ainda viveu mais um pouco, se arrastando pela a casa como uma serpente. Às vezes saía pela rua com os cabelos na face, as profundas olheiras causadas pela insônia e depressão, sem braços, sem pernas, toda enfaixada como uma múmia, e as crianças choravam de medo. Quando uma criança aprontava uma peraltice, a mãe dizia: 'vou chamar a mulher serpente pra comer vocês'. Os moleques só faltavam cagar na calça. Dona Mundica ensejou a morte. E então a morte veio, com toda sua complacência.

"O seu primogênito, ai, meu Santo Deus, até me dói lembrar daquele garoto, foi assassinado a pedradas após se meter numa briga de moleques por caçoarem da sua deficiência física. Malditos meninos! Ainda me lembro deste dia. Seu nome era Alfredo e tinha apenas dez anos de idade quando foi apedrejado por aqueles demônios. O taciturno menino, que nunca na sua vida mexia com ninguém, um garoto prendado, caseiro e bonzinho, nasceu com um enorme rabo de jacaré, uma anormalidade bizarra que mal posso narrar aqui. Lembro-me que aquela remoção da calda era praticamente impossível na época. Além do mais, Armélio Costa não permitia que curioso nenhum se aproximasse do filho para testar suas qualificações médicas. Se ele nasceu assim, morrerá assim. Esse era o lema do velho Armélio. Mas o menino sentia vergonha de andar na rua e exibir aquele enorme rabo que media mais ou menos um metro e vinte, balançando de um lado para o outro, derrubando barracas na feira e tombando as pessoas nas ruas. Era vítima de escárnio em sua escola e sofria diabolicamente de bulling. Era chamado de menino crocodilo. Todos tinham medo dele, assim como tinham medo de sua mãe, a mulher serpente. Todos temiam o menino, menos um grupo de fedelhos que o perseguiam quando ele colocava os pés fora da escola.

 Todos temiam o menino, menos um grupo de fedelhos que o perseguiam quando ele colocava os pés fora da escola

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"E foram estes mesmo moleques da rua. Assassinos perversos que apedrejaram o menino Alfredo naquele desgraçado dia quando o menino usou a sua calda para se defender daqueles moleques dos infernos. Alfredo chibatou um dos desgraçados com tanta violência que o moleque voou pelos ares e caiu desfalecido no chão, perto de um bueiro. Por pouco o pentelho não morre. Muitas pessoas gritaram: ele matou o pobre coitado. Então todos os garotos da região começaram a atirar pedras no garoto crocodilo que tinha apenas se defendido. Então ajuntaram as pedras das mais consistentes possíveis e começaram a arremessar no pobre menino animal, já caído no chão, inerte. Alfredo morreu no meio da rua, aos olhos incitadores de pessoas desumanas.

— Morre aberração, filho do capeta! — berrava endiabrado o povo

Armélio Costa chorou bastante pela a morte do filho. Infelizmente os assassinos não pagaram por aquilo. Levaram apenas um puxão de orelha dos seus pais e uma bronca da justiça".

— Mas por quê? — perguntou Gabriel.

— Não sei. Talvez por terem feito um favor à sociedade.

CONTINUA...

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