Acordei por volta de uma da manhã nesta madrugada, com um frio intenso parecendo que estava jogada dentro de um freezer, junto com as carnes. Meus dentes lapidavam e meu pescoço parecia estar sendo engasgado por algo sobrenatural. Por fim, dei-me por conta de que estava em minha cama, e o frio começou se amenizar um pouco mais. Foi quando fui dominada por um pavor que vinha do térreo da casa. Ouvi uma balbúrdia terrificante de louças sendo jogadas no chão da cozinha. "Meu Deus", argui trêmula. Olhei para o lado e vi meu esposo, dormindo. Até tentei acordá-lo pra avisar a ele que alguma coisa estava errada na casa, mas o pobre coitado dormia pesadamente. Eu bem o entendia, estava realmente cansado, pois a nossa mudança, hoje para esta casa, nos fatigou bastante.
A casa do norte da cidade era tudo o que mais sonhávamos, e o preço estava tão acessível que não relutamos em comprá-la. Nosso querido corretor foi bastante atencioso, contando todos os detalhes do nosso imóvel. Mas mal sabia a gente que a casa escondia um segredo um tanto que sórdido.
Os sons da cozinha continuavam a vir que tive que me apoiar pelas paredes para não enlouquecer e cair. Ouvi as louças caírem, os pratos se espatifarem, Deus, havia alguém na casa e eu tinha que expurga-lo dali.
Como não tínhamos armas em casa, peguei minha faca de cozinha que sempre uso para cortar limão ou outras frutas, e voltei para averiguar o ocorrido lá embaixo.
Até pensei com meus botões: será a minha filha que estava comendo alguma coisa e resolveu lavar o que havia sujado para que eu não brigasse com ela no dia seguinte? Não! Eu sabia que não era ela, afinal ela nunca comia de madrugada, e além do mais nunca sofreu de sonambulismo. Mas, mesmo assim, corri até o seu quarto e, como suspeitei, lá estava ela, dormindo como uma anjinha.
Ao me certificar de que não era ninguém da família, era hora de ver quem estava naquela cozinha a nos perturbar.
O barulho continuava, e então, como se a coisa suspeitasse que estava sendo observada, esta começou a assobiar. Um assobio irritante, parecendo o chiado de uma panela de pressão. Os pratos tilintavam e o som do meu coracao, por Deus, era completamente audível. Até hoje meus tímpanos doem quando me lembro daquela noite. Têm dias que dói tanto que se alguém grita perto de mim, ou um louco buzina praticamente na minha cara, eu só falto enlouquecer e sair correndo. Talvez eu tenha adquirido pânico, sei lá nunca fui à uma psicóloga para averiguar isto. Foi um trauma e eu sei que preciso fazer essa terapia pra superar isso.
Muito bem, chegando à cozinha, aquele frio intenso começou de novo a me apossuir. Meu corpo todo estremecia e meus ouvidos continuavam a latejar ao som daquele maldito assobio.
Desvencilhando-me do medo, e com uma das mãos tapadas ao ouvido, liguei a luz e, para a minha surpresa, pelo pavor inaudito que mal posso descrever aqui, vi uma imensa mulher com vestes que cobriam até as pernas. Possuía uma enorme verruga ao lado do esquerdo, parecendo mais com um segundo nariz. Ao perceber minha presença ali, disse amigavelmente: oh, senhorita! Veio tomar uma xícara de cha? Vamos, sente-se. Só estou terminando de lavar estas louças sujas. Sabe, odeio louça suja para o dia seguinte. Se tiver uma na pia, eu não consigo dormir.
Dizendo isso, me apaguei no chão.
Acordei apenas no dia seguinte, ainda angustiada com tudo aquilo. Meu esposo me encontrou atordoada, esparramada naquela cozinha, com o coração ainda a saltitar O próprio me levou para a cama.
Depois de me acalmar e comentar o caso à vizinha do lado, esta me disse que aquilo era normal, pois naquela casa trabalhava uma senhora com as mesmas descrições que dei a ela. Esta senhora me disse que esta mulher odiava louça suja para lavar no dia seguinte, por isso voltava do mundo dos mortos para cuidar dos afazeres domésticos e que nunca, ninguém parava naquela casa por causa daquilo.
Fim
Autoria: Jim Patrik
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ESPECTROFOBIA (Contos de Terror)
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