Eu andava muito muito deprimido, pois a minha namorada havia me traído com um cara que se dizia muito meu amigo. Flagrei-os justamente na hora do ato do sexo selvagem que os dois praticavam, e eu nem sabia que ela curtia aquilo. Mas enfim, é como dizem: "O CORNO É SEMPRE O ÚLTIMO A SABER."
Meus planos de felicidade com aquela mulher se dissiparam.
Passei dias sem me alimentar direito. A insônia foi a minha única companheira. E assim fui sofrendo uma mutação devastadora. Às vezes eu me pegava em cima de passarelas, sentado, os pés todos para fora, pronto para se jogar. Porém sempre aparecia alguém para me impedir. Fui apelidado pelos arredores de louco suicida. Eu precisava sair daquela vida.
Para me desvencilhar daquele espetáculo nada apreciador, eu comecei a usar a internet, com o intuito de amenizar o meu sofrimento. A recomendação viera de um amigo meu. A minha insônia, no entanto, só fez piorar, pois eu ficava horas em frente ao computador conversando imoralidades e me masturbando só pelo o fútil fato de sentir prazer. Aquilo estava me destruindo.
Foi quando eu a conheci, meu amigo. Ah, Linda! Olhos redondos como a de um desenho japonês, um sorriso daquele que não expõe os dentes, um rostinho de menina, porém o corpo já era de uma linda mulher. Era a garota perfeita para preencher a lacuna que me faltava.
Inteligentíssima! Ela me decifrou apenas pelo o seu vasto conhecimento de astronomia. Eu fiquei apaixonado por ela. Até fizemos sexo virtual. Chorava em minha cama quando ela não ligava a noite. Morava tão longe mim. Mas por morar tão longe assim, não deveria ter sumido. Ela me enviou um lindo pingente, um coração. Disse que representava o seu, e que era pra eu guardá-lo. Guardei-o em meu peito.
Um dia resolvemos nos encontrar. Marcamos no aeroporto, pois eu iria lhe apanhar, mas ela não apareceu. Liguei para ela, mas deu número inexistente.
Que estranho!
Meu coração apertou meu peito a ponto de me sufocar. Fui para casa. Entrei no meu computador, para procurar o seu email, e não encontrei. A sua rede social havia sumido. Pesquisei a nossa conversa gravada em meu computador e também não encontrei nada, nenhum rastro seu. Pus as mãos no meu pescoço, para apalpar o meu pingente, o seu coração que ela havia me dado, e não senti. Estranho. Ela sumiu estranhamente de mim, amigo.
Todo aquele espetáculo, nada apreciador, voltou. Cheguei a pesar quarenta e cinco quilos. Perdi líquidos e mais líquidos por chorar incessantemente. Senti fortes dores no meu corpo. Minha cabeça flutuava. Parecia que ela não estava fincada em meu corpo. Senti os meus ossos cutucarem a minha pele. Estavam prestes a me furar, aqueles ossos pontiagudos. Eu não sentia fome, só tristeza.
Tentei todas as noites viajar para os braços dela, porém eu nunca a encontrava. Ela havia realmente sumido.
— O que você acha de tudo isso, doutor? — perguntou deitado no divã o autor deste intrigante conto.
— Você parece lúcido perante tudo o que diz. Mas você não mostra certeza em suas palavras. Você chega a hesitar sobre tudo isso que lhe aconteceu.
O autor do conto não entendeu o o que o psiquiatra dissera. Parecia que sua cabeça realmente não estava fincada em seu pescoço.
— Você tem alguma prova que essa moça existiu?
— Bom... Nenhuma. As provas sumiram. – respondeu o autor.
— Então prepare-se para o que eu vou lhe dizer. Relaxe e tente não se abater. Esta moça que você alega ter vivido um romance na verdade não existiu. Foi apenas uma criação do seu desespero de conhecer alguém. Sinto muito! Casos como o seu são normais em minha clínica. Hoje em dia, — continuou o doutor — as pessoas valorizam mais pessoas estranhas que reais. E, no meio de tantas pessoas supérfluas, você acabou conhecendo uma pessoa perfeita. Essa pessoa, no entanto, não passava de uma criação da utopia do seu desejo.
Quinze dias depois, o autor deste conto se internou na clínica com um avançado estado de loucura.
Fim
Autor: Jim Patrik
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ESPECTROFOBIA (Contos de Terror)
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