Espírito Avarento

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Meu tio, um cara solteiro, estudante de advocacia, e que sempre foi bastante extrovertido, chegou numa noite em sua casa, que ficava nos fundos da nossa, bastante nervoso, e, neste dia, ele nem se quer nos cumprimentou com seu cordial boa noite qu...

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Meu tio, um cara solteiro, estudante de advocacia, e que sempre foi bastante extrovertido, chegou numa noite em sua casa, que ficava nos fundos da nossa, bastante nervoso, e, neste dia, ele nem se quer nos cumprimentou com seu cordial boa noite quando passou por mim e meus irmãos que brincávamos de peteca no jardim de casa; ele apenas entrou em sua casinha e só saiu no dia seguinte alegando que estava com uma dor de cabeça impertinente, e que não iria sair por nada no mundo, e realmente não saiu, nem quando a minha mãe o chamou para vir jantar com a gente, algo que era sagrado para ele.

Nós nos agraciávamos com a sua presença, pois ele divertia a nossa mesa, graças a Deus, bem farta. Sempre fazia as preces e sempre contava anedotas de sua infância.

Nunca mais, a partir de então, escutamos aquelas alegres historias dele.

Meu pai afirmava que aquela súbita mudança que ele sofrera era por decorrência financeira, pois ele havia feito uns gastos desproporcionais à sua instável economia. Meu pai o ajudava da forma como podia, e ele era bastante grato a isto.

Meu pai sempre lhe perguntava se estava em crise, e ele dizia que não, que estava tudo bem, que não era para ele se preocupar.

Mas não estava tudo bem. E isso já fazia um tempo.

Mas, naquele dia, a sua mudança tornou-se radical. Irreversível. Ele se tornou um ser estranho. Não era mais a pessoa brincalhona que sempre fora; agora ele vivia de expressão séria, e seu riso era bastante forçado. Adquiriu enormes pregas em sua face, parecia que estava sempre aterrorizado, amedrontado com alguma coisa. Adquiriu também um sestro horrendo: sua face se contorcia doentiamente para a esquerda, em um transe de asco horripilante.

Nas tardes de brisa solene, eu sempre gritava pelo o seu nome, para que ele viesse me empurrar no balanço, como sempre fizera comigo. Mas ele não respondia. Na verdade ele nem me sorria mais, e eu ficava muito triste com aquilo. De sua pequena casa, sons aterrorizadores eu escutava. Pensava comigo: será que ele está recebendo visitas? Mas depois eu me certificava que não, que ele estava sozinho, pois via apenas a sua sombra através das frestas, vagueando de um lado para o outro na sua casa.

Continua...

Continua

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