Toque de recolher!
Ninguém podia sair de casa.
Os morcegos estavam atacando a cidadezinha. Crianças, idosos...qualquer um. E o prefeito nada fazia, dizia que iria passar, que era para a gente continuar confinados em casa.— Uma ova! — eu disse no colégio. — Não vou ficar mais em casa. Nem amarrada.
Eu não podia ficar mesmo. Meus pais eram um saco! Não podiam me ver parada, deitada no sofá que mandavam eu fazer alguma coisa.
— Mas você não pode sair. — disse Jaime, meu namorado. — Está passivo à multa.
— Que seja. Meus pais pagam mesmo.
— E os morcegos? — ele pergunta como se estivesse preocupada com eles.
— Eu não tenho medo deles. E, caso eles venham a me atacar, eu os mato.
— Você não teria coragem. — ele diz.
— Sim, Jaime. Eu teria. Vamos sair esta noite?
— Eu não posso. Você sabe.
— Você é tão misterioso, Jaime.
— Sim. — ele diz com aquele sorriso, de boca cerrada.
— Pois eu vou mesmo assim. Já convidei a Diana e a Flávia. Elas toparam.
— Não, Luana! Não faça isso! Se fores, ficarei muito chateado com você.
— Mas por que, Jaime? Você tem fobia à morcegos?
— Não é isso. Você sabe que é perigoso.
— Eu não posso desmarcar, Jaime. Já combinei tudo com as meninas. Será na casa da Diana. É perto de casa.
— Você tem todos os motivos para não ir, Luana. — ele diz encerrando o assunto.
Então ficamos assim, um de costas para o outro. Jaime era tão estranho. Todos falavam isso. Mas eu gostava do seu jeitinho. Ele me cativava.
Na saída do colégio, me encontro mais uma vez com ele.
— Luana, te imploro! Não saia esta noite.
— Jaime, estou decidida. Você pode ficar com raiva de mim, mas irei. — sim, eu era chata e teimosa.
Então, assim como combinado, saí de casa. Era mais ou menos quinze para meia-noite. Estava frio à beça. Meus dentes trepidavam, parecia até que iriam quebrar na minha boca e eu teria que cuspir um por um ali no chão.
Passando perto da igreja da cidade, me senti mais tranquila, como se Deus estivesse a me guiar, assim como diz no Salmos 23: "Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum..."
Porém, passando um pouco a igreja, quase chegando ao cemitério, senti um sopro no topo da minha cabeça o que fez com que eu me arrepiasse todinha. Corri feito louca deixando uma banda das minhas sapatilhas para trás, o que fez com que eu tropeçasse num buraco e caísse no chão, atordoada.
Um tanto que confusa, tentei me levantar, foi quando vi um ser alado sobrevoando meu cocuruto. São eles! Pensei. São os morcegos.
Acontece que eu estava preparada para caso acontecesse algum imprevisto, como estava aacontecendo ali comigo. Foi assim que eu tirei da minha bolsa um canivete que meu pai guardava no depósito de casa.
Vem, seu desgraçado! Gritei para aquela coisa. Vem e verá o qu eu faço com você!
Lá estava aquele monstro da noite, me cercando. Por sorte era apenas um, eu conseguiria acertá-lo, eu sei que podia.
Lá vinha o ser alado, continuando a me cercar, com o intuito de me atacar.
O desgraçado deu o primeiro bote, e me desviei. Eu tinha que encontrar um lugar mais claro. Ali, naquela parte escura da rua, eu seria uma presa fácil para ele. Assim, corri para o poste mais próximo, olhei para trás e a criatura continuava a me seguir. Venha! Mais uma vez ele deu o bote, e desta vez conseguir acertar uma de suas asas. Vi o sangue na ponta da faca. Venha! Vem de novo! E ele veio, e desta vez consegui acertá-lo em cheio. O asqueroso caiu no chão, banhado em sangue. Certifiquei-me de que estava vivo, e graças a Deus, não estava. Morreu de olhos abertos. Mas, por Deus! Temi aqueles olhos dele. Não, não eram sinistros e nem me causava medo. Muito pelo contrário, eu senti algo estranho, era como se eu já o tivesse visto. Como se ele me fitasse em dados momentos da minha vida. Apavorada, corri dali. Não para casa das minhas amigas, mas para minha casa.
Passei a noite pensando naqueles olhos inertes. Devia ter dormido, ou não, estava pensando. Pensando nele. Sensação bizarra era aquela.
No dia seguinte, me levantei cedo, preparei o café da manhã e liguei a TV. O apresentador do jornal da manhã contava um caso um tanto que intrigante, principalmente para mim. Um jovem havia sido encontrado morto, precisamente esfaqueado próximo ao cemitério da cidade. Cuspi o café. Não por estar quente ou amargo, mas sim por me causar espanto.
Curiosa, vesti meu casaco e fui até ao cemitério ver de quem era aquele corpo.
Havia um aglomerado de pessoas curiosas por lá, mas consegui driblá-los com certa facilidade até chegar ao corpo. Quando me aproximei, o suficiente para podê-lo identificá-lo, caí para trás. Jazia ali o corpo do meu namorado, esfaqueado, justamente nas partes em que acertei-o à noite, com o canivete do meu pai.
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ESPECTROFOBIA (Contos de Terror)
TerrorSe você gosta de explorar o desconhecido; fantasmas, demônios, lendas urbanas, vampiros, aqui é o lugar certo. Seja bem vindo às mais assustadoras histórias de horror. Atenção! Plágio é crime. Todos os contos estão autenticados.