A casa da vovó sempre foi algo que eu tive muito medo na infância. A começar pelas imagens de vários Santos por todas as cômodas. Sei que aquelas imagens eram para abençoar a casa e tal, algo sagrado, que nos protege, não é mesmo? Mas sei lá, parecia que aquelas cerâmicas ficavam me olhando pelo canto do olho quando passava rente a elas, como que julgando pelos meus pecados, as peraltices que todo garoto ou garota comete. O desejo pela coleguinha, aquele amor platônico que se transforma em algo maior e que por vai, acho que me entendem, pela pedra que joguei em um passarinho num dia qualquer. Então eu corria de medo quando passava pelo amplo corredor da casa ladeado por aquelas imagens. O corredor do espanto que era asssim que eu chamava, parecia nunca ter fim.
Mas, enfim, meus caros leitores, não é do corredor do espanto que venho até aqui lhes contar sobre uma funesta história que me acometeu. Isso aconteceu quando em um certo dia, minha mãe me deixou sozinho com a vovó nesta casa do terror, vou chamá-la assim, e que Nosso Senhor me perdoe, e saiu para fazer algo que eu realmente não me lembro o quê.
Horas depois, a mamãe me ligou dizendo que não podia vir me buscar e que era para eu dormir na casa da vovó que no dia seguinte ela viria me buscar.
Nem morto! Eu disse, como todo mancebo mimado.
Mas, como minha mãe nunca fez minhas vontades, não teve jeito. Eu tive que dormir na casa da vovó. E admito: aquele foi o dia mais traumatizante da minha vida.
Antes de me agasalhar, fui até o quarto da minha avó reclamar de muriçocas, quando vi algo extraordinário no seu quarto: minha vó estava cercada por diversas imagens. Meus Deus! Argui num extase de pânico.
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— Oi, meu filho. — ela disse ao ouvir o ruído da porta.Eu continuava petrificado com aquela compartimento fúnebre da casa onde minha mãe se encontrava.
— Meu, filho?! Diga, o que?
Então me deslumbrei de toda aquela santidade e disse:
— Ah, vó! — disse ainda espantando. Gaguejando, engolindo palavras e tudo. — A senhora poderia colocar um incenso no meu quarto, pois está cheio de muriçocas e estão me incomodando bastante.
A minha avó, uma senhora gentil, sempre com cordialidade, foi até meu quarto, e eu atras dela, com medo dos segredos da casa. Então, no quarto, acendeu o incenso para que eu dormisse em paz, dizendo que aquelas muriçocas logo, logo todas iam sumir e e eu poderia dormir em paz. Bom, assim eu esperava.
— Obrigado, vó. Te amo, boa noite! — assim que minha avó saiu, logo o incenso se espalhou pelo quarto a fumacinha tinha um mal cheiro, parece queimado de floresta, mas pelo menos afastava as muriçocas.
O quarto que a vovó me disponibilizou era o quarto do meu tio que há muito havia saído de casa e nao mais voltou, pois tivera filhos e fora morar em outro estado. Até que estava tudo bem arrumado, e parecia menos fúnebre que os outros compartimentos da casa.
Quando por fim peguei no sono, e isso demorou muito a acontecer, acordei com um mau pressentimento, senti que alguém estava me olhando exatamente nos meus olhos, pude até sentir a respiração quente de sei lá o quê que estava ali. Me assustei me posicionando de joelhos na cama com o coração acelerado, como se tivesse corrido quilômetros e respiramdo o pai nosso. Controlando a respiração, e agora mais sereno, (é incrível o poder da nossa respiração) vi, por tudo que é mais sagrado nesta vida, pelos santos do corredor da minha avó, alguém em pé do lado do criado mudo, simplesmente parado, me olhando firme. Os olhos eram grandes, deteriorados por alguma deformidade inarrável. Fiquei mais uma vez petrificado por longos segundos, até tomar coragem e correr até o interruptor para acender a luz, a coisa, no entanto, correu em minha direção, posso afirmar isto porque pude ouvir seus passos, passos pesados, como se estivesse irritadiço. Ah, como eu queria que uma daqueles imagens da vovó estivesse ali para me amparar.
Ao acender a luz, no entanto, a coisa sumiu e, dirigindo atenção para o criado mudo, vi que aquilo na verdade não passava de um cabideiro. Não pode ser? Eu disse. Acho que fiquei tão louco com todos aqueles santos pela casa que comecei a ver coisas. Foi o que deduzi.
Então fiquei a noite inteira acordado. Eu não tinha coragem de fechar os olhos e ser novamente atentado. Olhava para o lado e via o cabideiro. "Que merda! Não passa mesmo de um maldito cabideiro".
Quando amanheceu, o sol entrou pela janela, resplandecente, lindo, porém, ao dirigir os olhos para o cabideiro ao lado, bateu-me o desespero, pois não havia cabideiro nenhum no meu quarto .
Autoria: Jim Patrik

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ESPECTROFOBIA (Contos de Terror)
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