HARUM

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Samuel M estava demasiadamente feliz pela aquisição do seu novo emprego numa conceituada loja de roupas, calçados e perfumes, a Harum, situada no centro da cidade, frequentada, principalmente, por socialites, políticos e grandes empresários

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Samuel M estava demasiadamente feliz pela aquisição do seu novo emprego numa conceituada loja de roupas, calçados e perfumes, a Harum, situada no centro da cidade, frequentada, principalmente, por socialites, políticos e grandes empresários. A Harum, um faraônico edifício de três andares erguido no século XIX por Emilio Harum, um poderoso empresário com forte influência política e religiosa, se destacava no gracioso bairro como uma das mais antigas lojas da cidade. A grandiosidade do palacete, um dos poucos edifícios remanescentes do século XIX nos arrabaldes, encontrava-se muito bem conservada graças a seus herdeiros que, com competência e cautela, mantinham-a.

Samuel M fora apresentado cordialmente a seus colegas de trabalho, pessoas sorridentes e carismáticas, com apertos de mãos firmes e olhares penetrantes. Samuel M se sentira tão bem que logo a apreensão cedera lugar à firmeza e desenvoltura, e elas seriam fundamentais para cativar os gerentes da loja. O jovem bem conhecia a exigência da Harum, afinal leu os classificados com calma naquela manhã de sábado, sentado no sofá, onde não sabia mais para onde correr.

Samuel M era casado com a senhora Joana M, uma jovem nativa do campo, tão solícita e amável que Samuel as vezes se perguntava se a merecia de fato. Talvez, o que faltava no rapazola, seria a confiança. Samuel M sempre foi um jovem pessimista, quase nunca confiante, e esta maldita sobrecarga negativa o limitava, o inibia, mas, muito embora, a falta de empatia das pessoas é que o frustrava. Samuel era aquele jovem ali, tão previsível, tão transparente. Era o tipo de fiel soldado, o tipo que você podia firmemente confiar numa guerra. Mas o comércio, aquele subemprego que os jovens senhores são submetidos, era um campo de batalha e Samuel M sempre se dava mal por confiar demais nas pessoas.

Mas, ali estava Samuel M. Aquele novo emprego era diferente de todos que pisou na vida. Sentia a atmosfera serena do ambiente. Os próprios clientes, pessoas finíssimas e educadas, bastante compreensíveis com os novatos, alguns funcionários, sempre solícitos, sempre dispostos a ajudar o próximo, era tudo que um bom empregado podia esperar e Samuel M agarraria aquele emprego com unhas e dentes.

— Como está se sentindo, Samuel? — perguntavam os amigos do trabalho, sempre com as mesmas expressões interpretativas.

— Estou bem. — respondia Samuel M, carismático.

O experimento com novos funcionários, assim como em toda empresa, era também adotada pela Harum, assim, aqueles neófitos rapazes teriam um prazo para agradar a empresa.

— Você tem tudo para cativar os nossos gerentes, senhor M. — disse uma simpática jovem a Samuel, após este ter conduzido um cliente ao caixa.

— Oh, muito obrigado, senhorita...?

— Dulce.

— Senhorita Dulce. Muito prazer. Samuel M. — agradeceu o homem, percebendo que o perfume que a mulher usava era o do mesmo aroma de quase todos ali presentes.

— Sim. Eu já o conheço muito bem.

— Já me conhece? — disse surpreso Samuel.

— Sim, sim. Você dispensa comentários por aqui. Está se saindo tão bem que muitos falam de você. Só lhe falta uma coisinha.

— Oh, aceito críticas positivas.

— Ponha o sorriso na face. Isso é crucial.

— Colocarei. Pode ter certeza. Eu fico bastante grato, senhorita Dulce. A receptividade de todos aqui está me ajudando bastante. — agradeceu efusivamente.

— Que bom, senhor M. A satisfação em estar trabalhando conosco é notória em sua forma de se expressar. A Harum estima três qualidades do ser humano que para ela são os pilares do crescimento: a honestidade, a dignidade e a lealdade; sem eles, não há harmonia, a empresa adoece, e tudo morre.

— E eu concordo. Particularmente, eu sei muito bem o que é isso, pois trabalhei em várias empresas e a união era algo pouco adotado.

— Para você ver. Você é casado, senhor M?

— Sim. Sou sim. Estamos para completar um ano de casados.

— Muito bem. Como se chama o nome de sua esposa?

— Joana.

— Bonito nome. Filhos?

— Por ora, não. Mas pretendemos ter, sim. Assim que eu estiver fixo aqui na empresa, eu e minha esposa iremos conversar a respeito.

— Sensatos. Bom, senhor M, irei lhe deixar em paz agora.

— Que isso! De forma agora, senhorita Dulce. Qual o seu departamento para lhe fazer uma breve visita quando estiver de folga?

— Calçados femininos, no segundo andar. Tenha um bom dia, senhor M.

— Igualmente, senhorita Dulce.

Continua...

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