Tínhamos um perfil em um site de compartilhamentos de vídeos de cunho sexual, eu e o extrovertido senhor Juarez, um homem de cinquenta e cinco anos de idade. Muito vivaz, conheceu-me em uma praça onde de vez em quando eu me apresentava a tirar fotos de pontos turísticos, bem como gravar videoclipe para casamentos, aniversários, etc...
O senhor Juarez apresentou-se como um ator de filmes pornôs e alegou estar interessado nos meus trabalhos, afirmando que pagava muito bem, o que de fato era a mais pura verdade, pois o dinheiro sempre caía no dia marcado por aquele homem.
Mas o curioso senhor Juarez, era o cara do tipo excêntrico, polêmico em seus filmes, o pioneiro a praticar filmes de zoofilia pelo site, algo repugnante de se narrar por aqui, eu bem sei, mas continuarei a narrar os fatos assim como aconteceram. Depois de muitas denúncias, Juarez apagou os vídeos antes que apagassem o seu perfil nos sites e o cancelassem por vez. Mas, polêmico como era, partiu para as moradoras de rua, porém aquilo não tinha autenticidade alguma, foi quando me convidou para a sua nova proposta: a violação de cadáveres.
Exitei, vou ser sincero, mas a proposta era boa demais para se recusar, então assinei o acordo com o exótico senhor Juarez.
Sei que aquele crime era tão hediondo e depravado quanto mexer com animais, acontece que violar os mortos era algo mais degradante e perverso ainda, afinal estávamos nos envolvendo com entes queridos e cometendo um pecado gravíssimo perante o Nosso Deus.
Serei, sim, sincero aqui, podem me apedrejar à vontade, pois eu também mereço tal punicao, eu era tão nojento quanto o desalmado senhor Juarez.
Nossa primeira gravação foi numa Sexta Feira Santa, olha o dia em que o maquiavélico senhor Juarez escolhera. Profanamos o túmulo da senhorita Joaquina, uma jovem morta há cinco dias por enforcamento. O motivo: crises de ansiedade e pânico, muito embora ela se dizia assombrada por tal espectro advindo de seus antepassados.
Juarez era um homem forte, fisiculturista no passado, o mesmo era quem fazia todo o trabalho de escavar os túmulos e cometer suas abominações. Não me pedia ajuda, não queria desviar o meu cargo que era de cinegrafista.
O senhor Juarez praticou todas as posições sexuais possíveis com a falecida senhorita Joaquina. Parecia até que o meu senhorio estudara de cabo a rabo todo o livro do Kama Sutra. E o filmava, terríficado.
Não sei se isto ameniza o horror de tudo aquilo, mas Juarez tratava os falecidos com todo o carinho de um homem apaixonado. Carregava os cadáveres como se fossem porcelana, mas batia forte o sexo como um animal.
O vídeo pornográfico foi um fenômeno nos sites adultos, porém logo deletado por violar os termos de conduta. Foi quando o extraordinário senhor Juarez criou o seu próprio site pornográfico de vídeos aleatórios e bizarros. Agora, além de ator de filmes adultos bizarros, meu chefe prosperava com o seu próprio site. Uma jogada de gênio, se é que posso chamar assim.
Mas nem tudo é primavera quando se brinca com mortos.
Juarez, primeiramente, começou a se queixar de insônia. Não conseguia de forma alguma fechar as cortinas dos olhos, nem mesmo com tarjas pretas e indutores do sono. Já estava enlouquecendo com aquela situação, e ficou pior ainda quando o médico neurologista afirmou que havia a hipótese da ausência de sono trazer demência e até mesmo a morte.
Ficamos alguns dias sem gravar, fazendo até mês, pensei até mesmo que o senhor Juarez fosse me dispensar. Teve a condescendência de me remunerar neste ínterim.
Ficamos assim três meses sem gravar e, também neste ínterim, não vi mais o meu patrão, e nem pude saber como estava de saúde. Voltei a vê-lo quase cinco meses depois e quando pude precencia-lo quase que caio para trás de pânico.
Para começar, mal podia olhar em seus olhos, pois suas órbitas estavam afundadas naquelas terríveis crateras que eram as suas olheiras. Seu físico, outrora corpulento e sadio, agora não passava de um frango acometido por alguma doença. Seus volumosos cabelos podiam-se contar a dedos, estavam em um avançado estado de calvície. Quando me viu, o senhor Juarez retraiu os beiços e se pôs a chorar:
— São eles, eles vieram se retratar. — dizia-me deitado em seu leito, puxando meu sobretudo. — Eles vieram me punir.
Não entendi o que o meu patrão queria me dizer com aquilo. "Calma" eu dizia, "Repouse".
— Eu sempre os vejo na claridade do dia, mas é quando vem a noite é que eles se agitam e me atormentam e não me deixam adormecer. Estou há cento e vinte duas horas sem poder dormir, meu amigo. Os médicos dizem que sou um milagre, porém não vou durar por muito tempo.
— Mas de quê, de quem o senhor está falando? — perguntei questionando sua loucura.
— Os mortos, os mortos, os mortos! — ele dizia, os olhos arregalados, hiperventilando, o coração em estado de alerta. — Aqueles a quem tanto profanei.
Eu tinha ciência que o que estávamos fazendo era uma barbaridade sem precedência, era um crime grave perante a lei dos homens e que seriamos punidos pelos nossos atos, porém nunca imaginei que quem viria tomar as rédeas por aqueles transgressores atos seriam os próprios mortos violados pelo senhor Juarez.
Dois dias depois, recebi o comunicado de que o meu senhorio havia enfim descansado, dormido, como diz o eufemismo. Porém os olhos continuaram arregalados, em um atrelado estado de terror.
Fim
Autoria: Jim Patrik
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ESPECTROFOBIA (Contos de Terror)
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