Continuação (HARUM)

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Samuel M encontrou a jovem esposa Joana ainda acordada cosendo algo sentada no sofá de casa. O beijo de boa noite de Samuel, aquele hálito forte de bebida, chamou à atenção da esposa. Ora, Samuel M nunca fora do tipo boêmio, muito pelo contrário, sempre criticou o tipo. Não obstante, sabia que o esposo estava muito feliz e satisfeito com o emprego, e aquela era a sua primeira semana e, como visto, estava se saindo muito bem, por isso a jovem nada disse, nem menos questionou o horário tardio de sua chegada, havia motivos para comemorar, Samuel M merecia tal condescendência.

Na segunda-feira, Samuel M fora o primeiro funcionário a chegar. A rua ainda estava pouco movimentada, afinal não eram seis da manhã. Logo as portas se abriram e Samuel M pôde se dirigir ao seu espaço de trabalho, arrumando o que tinha de arrumar, preparando a loja para o bem estar do cliente, cumprimentando funcionários, de todas as esferas. Samuel M fazia a sua parte, sempre simpático e harmonioso com todos.

Num dado momento, em que gomava algumas peças de algodão, algo chamara atenção do mancebo. Olhos circunspectos, sorrateiros, vinham do terceiro andar, a lhe fitar severamente. O terceiro andar da Harum, era o típico de lugar que aguçava a curiosidade, desconhecido para os novos funcionários da loja. O que lhe afligia, no entanto, eram aqueles pares de olhos ofuscantes, ariscos, que vinham de lá. Estariam eles escarnecendo o pobre rapaz? Ou seria algo da sua cabeça? Não sabia, por certo. Mas a impressão continuava, intimidando-o de certa forma.

— Sente-se bem? — disse Frédéric percebendo o rapaz incomodado.

Samuel M, espantado, disse:

— Sim, acho que sim.

— Você parece aflito, rapaz! — continuou Frédéric.

— Não sei. Na verdade há uma coisa sim.

— Pois diga.

— Respire tranquilamente. Finja que está fazendo algo.

— Como assim? — disse Frédéric estranhando o comportamento do amigo.

— Você não percebe, Frédéric?

— Perceber o quê?

— A sensação.

— A sensação de quê?

— De estar sendo observado.

Frédéric olhou para um lado, para o outro, e não percebera nada.

— Não há nada.

— Olhe para cima. No terceiro andar.

Frédéric mirou os olhos no terceiro andar, mas não viu nada.

— Não tem ninguém nos observando, Samuel. A não ser a câmera de segurança

A câmera de segurança de fato realizava movimentos bruscos, mas não era ela que incomodava Samuel M.

— É estranho. — insistia Samuel M. — É demasiadamente estranho.

— O que é estranho aqui, Samuel M, é a sua paranóia. Na certa ainda está com vestígios de álcool na mente. Agora vamos voltar ao trabalho. — encerrou Frédéric.

— Provavelmente. A propósito, temos que repetir aquilo. E George, será que está bem?

— Está sim. O vi agora pouco. Parecia muito alegre, provavelmente está colocando o seu plano em ação.

— De roubar às ideias do seu oponente?

— Fale baixo, Samuel! Fale bem baixo.

— Desculpa. Mas, como eu disse na noite passada; pode ser perigoso.

— Não tem nada de perigoso. As vezes temos que ser astutos para sobreviver, nobre amigo.

— Não sei. Só espero que dê tudo certo para ele.

— A vaga já é dele. Alvim é malandro.

Samuel M, compareça à sala da gerência. Samuel M, compareça à sala da gerência.

— Ora, o que será que eles querem de mim? — questionou-se Samuel M.

— Que estranho. Na certa darão a você o resumo do seu trabalho na empresa até aqui.

— Mas já? Em tão pouco tempo?

— Uma semana é tempo suficiente, meu amigo. Você está com sorte. Ou talvez não. Ainda não fui convocado à gerência. Espero que se dê bem por lá.

— Obrigado.

Continua...

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