A Cara do Pai (Final)

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Foi assim que cheguei certo dia da feira, cheia de sacolas, cansada, com os dedinhos doendo. Havia comprado naquele dia carne e legumes para fazer um cozidão, pois meu esposo adorava. Lembro-me de como suava com aquele caldo quente. Era um suor frio que eu sempre perguntava: "está se sentindo bem, amor?" Ele sorria, satisfeito. 

Outra coisa que adorava era dobradinha com charque e macacheira. Era o prato predileto de Andy também.

— Amor, você podia me ajudar com as compras? — eu disse da cozinha. Mas não tive respostas. Fui tirando as coisas devagarzinho, não queria importuná-lo, talvez estivesse assistindo o canal de esportes.

Fui separando logo o que eu tinha de cortar, afinal eram vários legumes para o cozidão. Cenoura, chuchu, quiabo, maxixe, couve... guardei as outras coisas na geladeira e fui providenciar a tábua de cortar. O som da sala estava bastante alto, então gritei para que ele baixasse mais o volume da TV. Porém mais uma vez não obtive resposta.

Fui até o corredor conjugado à sala e gritei, "baixa o volume da TV!", e, ao voltar para a cozinha, ouvi alguém dizer: agora não.

Aquela não era a voz do meu esposo, mas sim a de Andy.

Foi quando ao entrar na sala, vi meu pequeno Andy com uma máscara humana dizendo: "Veja, mãe. Agora eu tenho a cara do papai".

Na sala de estar, meu esposo jazia no sofá, degolado. Andy havia cortado o pescoço do pai, depois o decepado. Tirando todo interior do crânio e fazendo assim a máscara.

Em meio ao cenário horripilante, Andy sorria, um sorriso peculiar, voltando para o sofá a assistir o futebol, com o cinzeiro e a cerveja ao lado, como o pai fazia todo o santo dia. E relaxou, aliviado.

Fim

Autoria: Jim Patrik

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