Um Dia te Desenhei (2. Continuação)

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    À noite, em sua cama, Sandra não conseguia esquecer o olhar de Pedro. Ele parecia estar em transe. Não conseguiu proferir quase nenhuma palavra, apenas a olhava admirado. De certo modo, Sandra dizia-se conhecer aquele homem. Porém não conseguia se recordar de onde. “Aquele olhar! Onde eu o vi, meu Deus. Me ajude a lembrar”.

No dia seguinte, Sandra abriu a sua gaveta e retirou de lá algumas papeladas. Em um desses documentos que vasculhou, achou o que queria. Pegou-lhe e manteve a pretensão de se dirigir até a casa de Pedro que se localizava a 150 Km de sua capital.

No carro, em sua ida a cidade, dizia, em tom de revolta: “Que descarado. Ele irá pagar caro por isso”.

“Meu Deus! Que tempestade virá”, disse ela olhando para escuridão daquela sinuosa e elevada estrada. De repente, como num piscar de olhos, a chuva desabou.

Ao amenizar a tempestade, pediu informação a um simpático senhor que caminhava na chuva. Este detalhou o endereço e Sandra se dirigiu até lá. Enfim chegou até a casa de Pedro. Saiu de seu carro, com passos acelerados, e parou no alpendre da casa. Correu até a ombreira e bateu com certo ímpeto de violência. Porém, logo foi atendida por um garotinho de aproximadamente seis anos de idade, que correu gritando para o interior da casa: “vovó, a moça do desenho está aqui!”. Sandra franziu o cenho, bastante surpresa. Logo a avó do garoto se aproximou da porta.

– Mas você existe mesmo! Como aquele rapaz teve a coragem de mentir para a sua mãe! – disse a senhora com um eriçamento de pelos.

Desorientada, Sandra perguntou:

– Oh, você é mãe do Pedro?

– Sim, minha filha. Mas queira entrar, por favor! Seja bem vinda a nossa humilde casa.

– Não, minha senhora – disse Sandra, serenamente. – Eu só vim aqui para deixar algo para ele. Já estou de saída e...

Sandra, ensopada, naquele instante, começou a sofrer um ataque de espirros.

– Entre, minha filha. Por favor!  Dói-me ver você neste vento frio. Você pode pegar um resfriado. – disse a senhora em um gesto materno, estendendo sobre ela um cachecol. – Você aceita um copo de chá com biscoitos?

– Oh, não. Fico muito agradecida.

– Coma. São deliciosos. – disse o garotinho com um sorriso tímido.

– Bom – disse Sandra, sorrindo para o garotinho. –, sendo assim, eu aceito. – Onde está Pedro? – perguntou.

– Bom, minha filha; Pedro chegará apenas mais tarde. Ele iria resolver alguns negócios na cidade grande. Acredito que com essa chuva ele tardará a chegar.

Dispersando seu ódio, olhou ao redor da casa e contemplou diversos quadros desenhados por Pedro. A maioria com a sua imagem. Teria Pedro uma espécie de psicótica obsessão? Estremeceu. Porém um quadro lhe chamou muita atenção: era de um casal visivelmente apaixonado sentado debaixo de uma esplendorosa árvore. No plano de fundo do quadro, havia um grande rio, e o sol aos poucos ia cedendo ao crepúsculo. Na parte superior do quadro, dizia: Um dia te desenhei. Sandra se arrepiou ao ver aquele lindo quadro. Era de uma beleza indizível.

– Depois da morte de sua esposa, – disse a senhora com os biscoitos e uma xícara de chá nas mãos – Pedro nunca mais foi o mesmo. O seu amor pela arte havia se dissipado. Não pintava mais nada e vivia cabisbaixo. Escutava canções tristes em seu quarto trancado. Porém, um dia, acordou feliz e bastante inspirado e me pediu um lápis e uma folha de papel. Cerca de vinte minutos depois ele havia desenhado você. Era sim, minha filha, o quadro mais lindo que ele já havia desenhado.

Sandra se arrepiou toda. Aquilo era impossível. A generosa idosa, percebendo-se que Sandra estava cansada e visivelmente resfriada, ofereceu estadia para a moça.

– Não, senhora! Eu preciso ir. Obrigada pela a gentileza.

– Minha filha, você está sem condições. Durma aqui esta noite. Você pode dormir no quarto do Pedro. Ele poderá dormir com seu filho. Aliás, se ele ainda vier. A chuva só piora.

– Nem pensar! – disse Sandra.

A bondosa idosa sorriu amavelmente e propôs o seu quarto a ela. Sandra, percebendo que realmente seria impossível de seguir viagem, aceitou a proposta da idosa.

Continua...

Continua

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