De tanto minha filha insistir, comprei a tal boneca que ela sempre me pedia quando eu chegava do trabalho. A Doll Carente. A bonequinha do momento. Ora, ela estava todos os dias nos comerciais de tv e anúncios do YouTube.
Venha conhecer a bonequinha que chora quando você não está por perto, ou quando está com fome. Ela vai lhe dar muito trabalho, mas promete te amar de verdade.
A minha pequenina bem que não merecia ganhar presentes, pois andava mal na escola, mas eu não sabia lhe dizer não. Era uma pequena sempre dócil comigo e com sua mãe. Eu contava as horas para chegar em casa e lhe dar um abraço fraternoso. Era tudo o que eu mais tinha de valioso em minha vida.
Mas acontece que o que era para ser apenas uma brincadeira, acabou se tornando um inferno em nossas vidas.
Pra começar, por muitas vezes a boneca amanhecia em lugares inusitados como em cima da nossa cama, de madrugada, nos olhando com aqueles olhos vermelhos, diabólicos. Eu a pegava e levava de volta para o quarto da Talita, minha filha. Ora, para mim era apenas a minha pequenina colocando a tal boneca na nossa cama para nos fazer companhia. "Que fofinha", eu pensava. Porém, minutos depois, lá estava de novo a boneca em cima da cama me fitando, desta vez com os cenhos franzidos, como se tivesse me reprovando de algo que tivesse feito. Só posso estar sonhando, dizia.
Mas isso voltou a acontecer em outras noites, a boneca em cima da cama, me olhando. Então certa noite a peguei e a joguei dentro da máquina de lavar roupas e fechei, assim eu pude dormir tranquilamente.
No dia seguinte, Talita perguntou pela tal Doll Carente, então, fiz-me de palerma e disse que a havia jogado por engano no lava-roupa junto com minhas roupas.
- Você fez o quê, papai? - esbravejou.
- Calma, minha filha. Não se reprima. Não coloquei para funcionar a máquina. Vou pegá-la! Um instante.
Então fui ate à lavanderia, peguei a bendita boneca pelos cabelos e, pelo meu assombro, pela minha pusilanimidade, soltei a maquiavélica no chão num susto repentino. Juro por tudo que é mais sagrado neste mundo que senti os dentes afiadíssimos daquela boneca me morder como um animal nocivo em estado de defesa! "Filha da puta!", exclamei. "Não pode ser!".
Examinei a boneca meticulosamente e não achei nenhum objeto pontiagudo que pudesse me perfurar do modo como a desgraçada me perfurou.
- Aqui está sua filhinha, são e salva. - disse entregando a boneca à minha Talita.
Não me julguem! Nunca pensei que a boneca seria algo fantasmagórico, pernicioso. Por isso devolvi à minha filha.
- Ah, Doll Carente! Então aqui está você, né! Onde andou pela noite inteira, hein? Fiquei lhe procurando, pois sempre me puxa à noite.
- O quê, filha?! Ela lhe puxa à noite?
- Sim, papai. Pra fazer xixi.
Eu e minha esposa nos olhamos de canto de olhos. Achamos aquilo espectral e horripilante.
Foi então que as coisas começaram a ficar mais absurdas dentro de casa. Como se o mal se alojasse por ali e não arredasse mais os pés. Quando minha filha estava para o colégio, ouvíamos choro e gritos no seu quart e, quando abríamos a porta, não era nada. Tudo estava definitivamente normal. Mas a Doll Carente estava lá, com uma aparência quase humana, a face corroída por olheiras, a cor desbotada.
Como minha filha estava ocupada no colégio e natação, com pouco tempo em casa, a boneca maligna começou então a surtar pela falta dela e ouvíamos passos pela casa e uma voz de velha chamando pelo o nome da minha filha.
"Isso não está acontecendo!", eu e minha esposa dizíamos. "Não é verdade! Não está acontecendo, pelo amor de Deus".
O cúmulo deste arrepiante conto aconteceu quando certo dia acordei com a maldita boneca Doll Carente em cima da minha filha com uma faca apontada em sua garganta.
Então agi rapidamente pegando a maligna de cima da minha pequena e fui surpreendido com uma força descomunal vinda dela. Mas, usando a minha tática de fuzileiro, consegui imobilizar a bruxa e a embolei no lençol para em seguida tacar fogo no quintal.
A maldita morreu, mas ainda hoje escutamos choros e passos pela casa, como se seu espírito ainda rondasse por ali, procurando por minha filha.
FIM
Autoria: Jim Patrik
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ESPECTROFOBIA (Contos de Terror)
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